Definido como videopoema, este pequeno filme do artista e cineasta vai além e qualifica a linguagem do vídeo, explorada no Brasil desde a década de 1970, mas mais concentradamente a partir dos anos 1980. Dissociando-se da perspectiva hiper-realista, por muitas vezes informativa e caótica, que marcava a produção de vídeo então, o realizador concatena a obra literária do polonês Zbigniew Herbert com imagens de esculturas de Sérgio Camargo. Integram-se nesse estudo, portanto, três composições criativas em novas formas de movimento sensitivo: o texto poético verbalizado, a escultura de tradição moderna e a ação de um artista. Com fotografia de Walter Carvalho e uma trilha sonora com melodia fortemente marcada, a partir de dois poemas narrados em partes e de um exercício plástico e experimental em vídeo, o autor ilustra aspectos universalizantes da arte que são típicos das vanguardas históricas, como as noções de incompletude, abertura e imponderabilidade, e a subversão do conceito de espaço e tempo determinados. A riqueza do debate moderno em torno da noção de objeto é um dos temas essenciais da obra, além de extremamente caro à compreensão dos rumos materiais da arte contemporânea no Brasil.

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