Biografia comentada Eduardo de Jesus, 10/2005

O feitoamãos/F.A.Q. é, antes de tudo, um projeto em construção. Sintonizado com as poéticas contemporâneas, o projeto se altera, incorpora e se dinamiza em torno da produção artística. Composto por experientes e inquietos realizadores, o feitoamãos/F.A.Q. é sempre puro movimento. A princípio, uma possibilidade de apoiar e realizar trabalhos coletivamente. Foi assim com o primeiro single channel 5 (2000), que acabou por gerar o projeto 'feitoamãos', grafado assim, em minúsculas e sem os espaços tradicionais. Este primeiro trabalho foi exibido no 13º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil (2001), além de ter recebido o Grande Prêmio Cinema Brasil-Ano II, do Ministério da Cultura, na categoria Melhor Vídeo, em fevereiro de 2001, e de ter participado de festivais e mostras no exterior. O vídeo investiga os sentidos e suas percepções, e reuniu os realizadores Francisco de Paula, André Amparo, Rodrigo Minelli, Claudio Santos, Marcelo Braga e Marília Rocha.

Os cinco primeiros realizadores formaram o núcleo mais central do projeto que, logo em seguida, partiu para outras realizações, voltadas, neste primeiro momento, ao apoio a jovens realizadores em seus projetos. Assim foi desenvolvido Os 4 pontos cardeais (2001), reunindo Mariana Pinheiro, Bruno, Marcos Catito Menezes e Osmar que trabalharam cada um dos pontos cardeais. O trabalho, lançado em Belo Horizonte em 2001, reuniu o grupo de jovens realizadores e os integrantes do projeto feitoamãos em torno de um debate que teve a participação especial do Professor Doutor em Comunicação e Semiótica, Júlio Pinto.

O projeto seguinte teve também as mesmas conexões com os números e as quantidades e, desta vez, se voltou para a história. Tratava-se de 7 maravilhas (2000), um projeto para a internet que reunia vídeos dos realizadores do núcleo mais central do projeto. Já o projeto seguinte foi ainda mais ousado, sobretudo em relação ao modo de selecionar os participantes, que seriam apoiados na realização do projeto. Com o objetivo de despertar a atenção da mídia e, ao mesmo tempo, homenagear Emílio Belleti - figura central no fomento e desenvolvimento da produção audiovisual em Belo Horizonte, assassinado por um jovem de classe média alta da cidade - o grupo se reuniu e criou o 'Prêmio Emílio Belleti', com a finalidade de apoiar jovens realizadores na construção de um projeto coletivo de vídeo. A iniciativa chamou atenção e ampliou o debate sobre a morte de Belleti, além de gerar um vídeo construído coletivamente. Em Matéria dos sonhos (2001), jovens realizadores enviaram projetos e foram selecionados para desenvolver o vídeo que associou os quatro elementos da natureza com sentimentos da vida cotidiana.

Logo após esse último trabalho, o grupo inicia novas atividades voltadas para o live image, reunindo imagens e sons manipulados ao vivo nos mais diversos ambientes. A primeira apresentação foi na abertura do Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, com Dziga Vertov reenquadrado (2001), tomando imagens do filme O homem e sua câmera. Em seguida o grupo passou a desenvolver uma série de performances em espaços alternativos, festivais de música eletrônica, mostras e festivais de vídeo no Brasil e no exterior. 

Em 2002, o grupo realiza Adamantos como resultado de um workshop no Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais, em Diamantina. No mesmo ano, realizam a performance Veja as instruções primeiro (2002) no Red Bull Live Images, em São Paulo. Em seguida, mostram no Itaú Cultural Monstruário ilustrado, reunindo trabalhos e colaborações de outros artistas em uma atualização dos bestiários medievais com recursos cênicos, projeções de imagens, samplers e música ao vivo.

Já no 3º Eletronika - Festival de Novas Tendências Musicais (2003), em Belo Horizonte, o grupo realiza uma apresentação com temas que tratam de revolução e anarquia.

A diversidade da trajetória do feitoamãos/F.A.Q. é bastante interessante e, nessa perspectiva, o objeto Bicho Brasileiro (2003), apresentado na exposição Imagem não imagem, com curadoria de Christine Mello, na galeria Vermelho (São Paulo), comprova a experimentação e o risco como características do grupo. Segundo Francesca Azzi, em artigo publicado no catálogo da mostra Made in Brazil (Itaú Cultural, 2003), o grupo “parte de uma experimentação técnico-conceitual para estabelecer parâmetros lógicos e 'lingüísticos' para seu happening. A edição ao vivo e a montagem espacial jogam com a temporalidade, o improviso e o conteúdo.” 

O objeto rompe os padrões já conhecidos do grupo por um lado, mas também revela o processo de criação que privilegia o hibridismo, a experimentação e a inquietude. No mesmo ano, o grupo apresenta É (in)possível estar em 2 lugares ao mesmo tempo (2003), no evento Ruído Digital, promovido pelo Itaú Cultural, em Belo Horizonte. O trabalho do feitoamãos/F.A.Q. buscou refletir os conceitos de espaço e paisagem do geógrafo Milton Santos. Para tal, desenvolveram um espaço com seis projeções e dois sistemas interativos que revelavam a paisagem urbana e seus tempos em imagens manipuladas ao vivo pelo grupo e as interferências provocadas pela interação do público.

Trânsito (2005) é o trabalho mais recente do grupo e já foi apresentado no Videoformes em Clermont Ferrand, na França, e também no prog:ME, primeiro festival internacional de novas mídias do Rio de Janeiro.