Entrevista Eduardo de Jesus, 06/2005

entrevista realizada no dia 01/05/2005. finalizada às 18h. tudo aqui esboçado está ligado a esse dia, a essa hora e aos meus modos de sentir atuais. se amanhã for diferente, será normal.

1. Em seus “videorizomas” a duração parece ser um conceito-chave na produção das imagens e na elaboração das obras. Enviar as obras para anônimos é uma forma de devolver a imagem capturada de um outro anônimo? Como começou o processo de desenvolvimento desse procedimento de produção e circulação dos vídeos?

meus. quando dizemos: eu somos. somos a duração. o carro. o cavalo. o rio. a rua. a história. ad infinitum. pela matemática aceitamos a fração. então o segundo pode se dividir em espaços menores. cada vez menores (ad infinitum)2. e o tempo pode ser um ato político. se aceitamos isso. mesmo que por pouco tempo. o processo da produção e distribuição é mais um desses fluxos. e que aqui não há o que teorizar. o sol é o sol. a câmera é a câmera. o dia é o dia. a hora é a hora. o coração é o coração (se pensasse, parava). (ad infinitum)3. o momento da captação não tem um valor maior ou mais importante que outras ações num processo sem fim. o evento. o encontro. o catálogo. o correio. tudo cumpre um papel. o que faço é criar uma linha dentro de um processo muito maior. do anonimato ao anonimato pelo anonimato com o anonimato. e isso jorra independentemente de qualquer outra apropriação do projeto. como os mais católicos podem questionar.

2. O seu trabalho tem uma forte conexão com o pensamento do filósofo francês Gilles Deleuze. Como você começou a se interessar pela filosofia e como se deu a passagem do texto para a imagem?

quando escuto se falar em deleuze. penso, e guattari? se quero falar das imagens (como proposto) delirando com deleuze. não poderia esquecer o guattari. os bons encontros. uma vez deleuze dizia. eu me imaginava chegando pelas costas de um autor e lhe fazendo um filho, que seria seu, e, no entanto, seria monstruoso. muito antes de saber de deleuze e guattari. se (eu) tivesse que pensar em pessoas e tentar participar de quaisquer jogos (propostos em primeira instância pelo acaso) viria: hölderlin, kleist, nietzsche, nerval, artaud, lautreamont. citando irmãos que (num futuro) fui saber que também eram ligados a um pensamento. no caso, o de deleuze e guattari. assim cheguei neles. para perceber mais uma produção de outras pessoas. que não seriam verdadeiras nem tentariam explicar ou esclarecer nada a respeito dos que citei. apenas experimentar. assim, ler deleuze e guattari era gozar com eles e neles. quando deliravam acabando com relações de valores entre campos distintos. da biologia à filosofia. da música à política. por que não falar da videoarte ou das artes plásticas sem ser artista (já que me formei em comunicação social, risos) se posso falar como um cachorro. ou como o vento. ou como uma câmera. essa seria uma possível conexão entre deleuze e guattari no procesoo de produção das imagens. mas que está aberta a infinitas outras. citando apenas uma: o que não se pode falar deve se calar.

3. Como você produz as imagens? Existe uma procura pela imagem e pelo plano? Como elas surgem? Do acaso ao acaso? 

já que estamos usando as palavras (lembrando de alguns irmãos que usam palavras). não posso descrever essa produção como algo comum entre todas as suas variações. pode existir uma procura por uma imagem e|ou por um plano. ou mesmo a tentativa de construir um quadro. mas que se confunde e se perde no processo (viscosidade da imanência). não há investimento de forças em transcendências. não há recalque. elas produzirão sentidos por elas mesmas. inevitavelmente. sem necessidade de sublimações. por isso não existe um ideal, mas uma constante variação de sensações e conseqüentes produções de sentido. que muitas vezes são formalistas.

4. Como foi o processo de trabalho com o grupo PexbaA quando você realizava projeções durante os shows? O processo se iniciava com a música? Como, nessa situação, se desenvolvia a relação entre som e imagem? O experimentalismo e a improvisação do PexbaA contaminaram suas imagens? 

quando falei em bons encontros. posso falar do meu encontro com o pexbaA. e com tudo que veio com eles. o pexbaA é a produção artística (para não incluí-los apenas na música) que mais me toca no brasil atualmente. e, mais uma vez, quando falo em pexbaA, falo em gleds flely, escola mineira de disfunção, holocausto, atropina. e com quem convivi muito nos últimos anos, antônio bráulio vilhena. trabalhei com o pexbaA há alguns anos. tudo que aconteceu nesse tempo foi de grande importância para o processo das imagens que produzo. mesmo que elas não tenham a ver com o que eles fazem. nos últimos tempos tive um maior contato com o antônio bráulio vilhena. trabalhamos na criação de imagens para as músicas da suely costa interpretadas por ele. mas o processo foi interrompido (o bráulio faleceu). esse foi um dos mais importantes encontros que tive até hoje. os vídeos que estão nesse dossier são para ele.