Biografia comentada Eduardo de Jesus, 06/2004

Marcia Vaitsman iniciou sua produção artística ainda na Universidade, no início dos anos 1990, com a produção de vídeos experimentais. Graduada em Produção em rádio e televisão pela Universidade de São Paulo e com pós-graduação na KHM, em Colônia, na Alemanha, Vaitsman tem participado de importantes exposições, festivais e mostras em diversos países.

Depois dos primeiros vídeos reunidos na trilogia Partícula (1992), Vaitsman parte para a produção em multimídia. O primeiro trabalho é o CD-ROM Biografias ñ autorizadas (1996), realizado em parceria com Guilherme Caldas, da Candyland, que produziu as ilustrações, e Mariana Rillo, na produção das fotos. O trabalho mostra o cotidiano de três jovens que moram sozinhos em São Paulo.

As questões relativas ao corpo aparecem pela primeira vez na instalação interativa Topography (2000). Uma tela de monitor sensível ao toque simula um olho mágico que possibilita aos visitantes interagir com imagens de um corpo.

Já morando em Colônia, na Alemanha, e cursando a pós-graduação na KHM, Vaitsman e outros artistas produziram Das Genlaboratorium (2001), instalação que usa os algoritmos genéticos para recombinar música e fragmentos de som e ainda aproxima as técnicas de corte não-linear dos filmes com as recombinações genéticas. Os artistas, em parceria com cientistas do Fraunhofer Institut, montaram um laboratório de manipulação de genes de plantas de tabaco. Paralelo à exposição, apresentada na Galerie Projektraum, foi desenvolvido o website (www.genlaboratorium.khm.de).

Neste mesmo ano produziu o CD-ROM Psycotropic (2001), que aborda de forma particular as contradições e as diferenças nos trópicos. Posteriormente realizou a instalação Solid happiness (2001). A instalação participou da exposição 3 x 3 na Galeria Nanquim, em São Paulo. Trata-se de uma animação de fotografias em loop que vai mudando lentamente, sem que os visitantes possam perceber. O trabalho trata da idéia da visão sendo influenciada por substâncias químicas ou estados psicológicos.

Entre 1999 e 2001 Vaitsman atuou como tutora do laboratório de multimídia e performance da artista Valie Export, e mais tarde como professora no departamento de Media Design, ambos na KHM.

Em 2001 Marcia Vaitsman retornou ao tema do corpo e produziu A common ancestral stranger, CD-ROM e instalação que mostram imagens de um corpo através do qual podemos deslocar algumas tatuagens que revelam partes escondidas desse “metacorpo”, como a memória e a fé. De acordo com Vaitsman, o trabalho mostra “os pensamentos de um homem que sintetiza a vida de 50 milhões de pessoas que vivem como estrangeiros em várias partes do mundo”. A obra foi exibida em diversos festivais e mostras, como o EMMA Award - Electronic Multimedia Award (Londres, 2001), 13º Videobrasil - Festival Internacional de Arte Eletrônica (São Paulo, 2001), Villete Numérique - 1ª Bienal de Arte Digital (Paris, 2002), Medio@rte Latino, no contexto do Transmediale (Berlim, 2002), entre outros.

Ainda em 2001 produziu Mpolis, um DVD interativo que mostra uma cidade imaginária estruturada como um game, através do qual os usuários irão interagir. O espaço da cidade, que começa com cenas de São Paulo, é dividido em quatro zonas (Ilinx, Mimikry, Alea e Agon), inspiradas na obra do francês Roger Callois.

Posteriormente, Vaitsman realizou obras impressas em processos digitais. Amarelinha (2002) é uma impressão em vinil que reproduz o jogo infantil da amarelinha substituindo os espaços vazios, típicos desse jogo, com imagens de ovos criando um estranho tapete. Esta obra, já exibida em diversos espaços artísticos, se configura também como um work in progress que futuramente será exibido como uma coleção de amarelinhas, de diversos lugares que foram ou serão visitados pela artista pela primeira vez (Argentina, Japão, Taiwan etc.).

Vaitsman produziu ainda Nó na garganta (2002), outra obra impressa. Trata-se de um longo texto com aproximadamente 15 metros de comprimento, que reproduz um diário de uma pessoa que vive em uma espécie de cativeiro social. O trabalho de Vaitsman foi exposto, junto com obras de outros artistas jovens, em uma fábrica abandonada na periferia de São Paulo como parte da exposição Cativeiro.

MediaScan (2003) também é uma impressão em formato grande. Para realizar essa obra Vaitsman produziu uma anamorfose digital a partir de imagens de um boletim de televisão sobre a guerra no Iraque. As imagens em movimento, que duram aproximadamente três minutos, são digitalizadas através de um scanner e condensadas em uma única imagem que guarda o passar do tempo.

Selbstfortpflanzungszellenproteinstrukturanalysebericht (unstable CD) (2003) é um CD-ROM que se articula, de forma bastante crítica, em torno das idéias da multimídia e da interatividade. Assim, é impossível controlar a navegação e repetir o acesso a algum fragmento, que cada vez pode aparecer de uma maneira, sem dar a menor pista do que será visto.

Neste mesmo ano Marcia Vaitsman realizou a audioinstalação Wireframe. A instalação, estruturada em torno da idéia da visão e da cegueira, conduzia os visitantes a um espaço totalmente escuro, onde podiam ouvir um poético diálogo entre um homem e uma mulher cegos. O trabalho foi resultado de um seminário ministrado por Golder e Vaitsman.

Em 2004 Marcia iniciou uma residência artística no IAMAS, em Ogaki, Japão, onde atualmente desenvolve seu mais novo trabalho, The one made of light stuff.

Neste mesmo ano expôs seus trabalhos no Boquitas Pintadas - pop hotel em Buenos Aires, um espaço alternativo que mistura artes plásticas e eventos ligados a música eletrônica. A exposição Pisando em ovos em Buenos Aires mostrou pelo primeira vez o personagem de A common ancestral stranger (2001) fora do contexto do CD-ROM, em uma impressão e fotos em formato grande, junto com outras imagens e objetos. Amarelinha (2002) também fez parte da exposição.

Vaitsman faz parte do grupo Mídia Nomades, formado por artistas que atuam no campo das novas mídias. Em janeiro de 2004 o grupo participou da exposição Em trânsito, no Goethe Institut de Lisboa. Ainda em 2004 participou da exposição O corpo entre o público e o privado, no Paço das Artes em São Paulo.