Curadoria convidada |

O Vídeo de Autor, curadoria de Jean-Marie Duhard, é uma mostra de vídeos franceses com exemplares de uma geração que se apropriou de forma autoral das mudanças tecnológicas ocorridas ao longo dos anos de 1980, provando o quanto elas podem enriquecer, transformar e regenerar a linguagem e a comunicação do que se tornou a grande janela sobre o mundo: a Televisão. A mostra foi organizada em onze programas:

01. Fiction / Creation
02. Palette Graphique
03. Imagens de Synthese
04. Evenement Television
05. Retrospectiva Michel Jaffrennou
06. Retrospectiva Robert Cahen
07. Retrospectiva Patrick De Geetere / Cathy Wagner
08. Retrospectiva Marc Caro
09. Retrospectiva Dominik Barbier
10. Coupe de Pouce
11. Coup de Chapeau

Artistas

Obras

Texto de curadoria Jean-Marie Duhard, 1990

O Vídeo de autor

Nos anos 80, a palavra “comunicação” estava na moda; e tudo o que permitisse o seu uso, do ponto de vista estratégico e tecnológico, para um pretenso futuro melhor e maior rentabilidade, era experimentado, posto à prova, e empregado sem o menos escrúpulo. Assim o vídeo passou por um grande desenvolvimento tecnológico, seguido muito de perto pela informática. Graças à “interface” entre essas técnicas, a “imagem" ganha um algo mais e entra em uma nova era.

Nos anos 70, é nos Estados Unidos onde a tecnologia é mais avançada, que, com a chegada do vídeo no mercado, tenta-se quebrar os modelos, os referenciais pela recusa de associá-los a um pai tal como o cinema. Queria apenas ser acolhido no seio da mãe: a Televisão.

Jean Christophe Averty, o único criador que a Televisão Francesa engendrou, diria em 1975: “pensei ter aberto um caminho pelo qual toda a televisão francesa pudesse entrar. Sou o único herói de uma guerra perdida.” O primeiro a cortar a corda, graças ao vídeo, com veemência, mas não sem humor, será Nam June Paik, chamados por todos e muito justamente, do “Papa do vídeo”.  “Durante toda a nossa vida fomos atacados pela televisão, hoje já podemos contra-atacar”. E ele realmente foi ao ataque, seguido de uma série de pessoas chamadas de videastas, teleastas, artistas, realizadores, que vêm de toda parte, de todas as artes, de práticas variadas com marcas diversas. Alguns buscam, inventam, experimentam. Uns fazem o jogo da TV-mídia, outros se expressam sob o golpe de emoções fortes, à flor da pele ou partindo de seu interior, sem saber direito o que farão com o seu trabalho. Criam e pronto. A moda da comunicação não os marcou. “Somos contra a televisão, mas totalmente, contra”, dirá Jean-Paul Fargier, crítico e produtor de vídeo. A criação de vídeo é apenas uma citação entre parênteses por trás das grades zoológicas da televisão. Frequentemente considerada como animal antropofágico, passa de vez em quando pela Robô-Maria televisiva da cultura chamada civilizada. É também o bode expiatório que permite aplainar a zona de conflito. Seu olho, que quer dizer “eu vejo”, é um olho maléfico, um tema tabu. Não muitos artista e nem muitos vídeos de efeito especiais, se não vamos nos tornar inteligentes demais!

Felizmente, nem todas as televisões refletem esse generalidade e algumas optaram e se arriscaram a trazer para suas programações a parte do fogo, a “Parte maldita”, que nos deixa ver todos esses artistas, permitindo a criação dessas obras originais.

“A criação é ir buscar o outro. É preciso, portanto, se fazer a pergunta ética: o que se faz do outro?”(Pierre Trividic).

“Se a arte não tivesse uma função lúdica, eu não a jogaria” (Michel Jaffrennou). 

Decidi fazer uma seleção eclética para mostrar quanto e como a explosão tecnológica em termos audiovisuais desses últimos anos testemunha, com entusiasmo, aquilo que se chama hoje de eclosão do  “vídeo de criação” ou “vídeo de autor”. Esta evolução feita a passos de gigante de objeto de um investimento considerável na conquista de novos mercados no plano da produção de imagens.

Essas novas tecnologias, que desafiam as leis da gravidade, abriram, de certa forma, o caminho da esperança e do sonho para muitos jovens criadores. O vídeo, as palletes graphiques, as imagens de síntese, ultrapassaram o campo de experimentação e do sonho para muitos jovens criadores, e os autores, os artistas, saem de seu campo de aplicação para participar da renovação dos escritores televisivos, querendo atingir uma audiência maior. A imagem eletrônica de hoje é composta; nutre-se de todos os suportes existentes, demonstrando assim as formidáveis possibilidades de interpenetração, tanto dos materiais quanto dos gêneros que compõem essa mistura e essa mestiçagem da riqueza de nossa cultura contemporânea, que pode nos trazer uma reflexão a mais em nossas vidas.

“O vídeo é doce; nós superpomos camadas de imagens e não cortamos com tesouras, como no cinema; não há violência”, diz Michel Jaffrennou sobre a imagem eletrônica.

Essas práticas diferentes, tanto na França, quanto no cenário internacional, revelam um grande domínio dessas novas tecnologia e provam o quanto elas podem enriquecer, transformar e regenerar a linguagem e a comunicação dessa estranha pequena objetiva que se tornou uma grande janela sobre o mundo: a Televisão.

8th Fotoptica Internacional Video Festival. 09 a 15 de Novembro de 1990. p. 37.