Curadoria convidada |

O curador Eli Schvadron selecionou vídeos israelenses com os quais buscou ilustrar o estado da produção audiovisual do país em fins da década de 1980 e começo da década de 1990. Realizou um mapeamento ao qual a divisão da videografia em três grupos principais fornece o norte: há vídeos produzidos pelos canais de televisão, sob tutela do governo, nos quais divulga-se o consenso do sonho sionista; afastando-se das utopias, o segundo grupo é formado pelos vídeos que buscam discutir os conflitos nacionais, ou seja, as relações tensas entre judeus e palestinos, árabes e israelenses, e dos próprios judeus com o passado recente do holocausto; e, por fim, o grupo dos vídeos produzidos a partir de uma visão mais individual e particular, muitas vezes realizados com equipamento precário, mais próximo do que é comumente chamado de videoarte.

Artistas

Obras

Texto de curadoria 1990

Vídeo em Israel - três formas de abordagens

As estações de TV de Israel estão sob certo controle governamental e são submetidas a censura. A televisão por cabo, que será menos sujeita ao controle estatal, ainda está em fase de instalação, de modo que seu impacto sobre a TV criativa é de menor importância atualmente.

As produções de vídeo em Israel podem ser divididas em três categorias. Na primeira, estão as fitas produzidas pelas próprias estações de televisão (que no momento são três: a Educativa, o canal principal e o ainda relativamente novo canal 2). A tarefa dessas estações deveria ser difundir o Consenso Nacional, ou seja o sonho sionista, a esperança de desenvolvimento de uma sociedade nova e justa. Mas nem sempre é este consenso que estimula intelectuais, artistas e mesmo diretores de programação. Todos estão interessados nos “conflitos nacionais” – entre árabes e palestinos, palestinos e israelenses, entre a vontade e a necessidade de lembrar o mal nazista e o desejo de esquecer a “Velha Europa” e o Holocausto.

Os programas que tratam destes conflitos constituem a segunda categoria e são mostrados com frequência na programação normal da TV, de quem recebem apoio. O equipamento usado varia de escolar ao dos maiores estúdios do país, inclusive estações de TV.

A terceira categoria reúne todas as fitas “limítrofes”, produzidas com equipamentos bastante pobres, com uma visão individualista, onde o avant-garde acha sua forma de expressão. Ou seja é a videoarte.

A videoarte israelense pode ser descrita como mais narrativa, não que isso a coloque acima da videoarte de outros lugares. É verdade que há exceções, como trabalhos minimalistas, que não estão nesta seleção. A temática principal destas produções narrativas, são dilemas pessoais, estados de espírito pessoais, sensações pessoais. O surpreendente nelas é sua total ignorância dos problemas sociais e políticos cotidianos, que invadem toda a vida pessoal em Israel. Algumas fitas são faladas em inglês e não em hebraico e esse olhar para “a grama do vizinho” não pode ser explicado só pela falta de galerias, museus e exposições de videoarte.

O desenvolvimento da videoarte em Israel apresenta uma diferença inexplicável das outras artes narrativas. O enredo básico de quase todos os filmes narrativos produzidos no país é a paixão impossível entre um rapaz israelense e uma moça palestina. Todos os escritores descrevem as estranhas pessoas religiosas de Jerusalém, com seus uniformes pretos. O Holocausto continua sendo um tema importante na literatura e até na pintura atuais. Os críticos falam na segunda geração do Holocausto, ou seja, filhos de sobreviventes, que aprendem o passado de seus pais por fontes indiretas, já que estes não querem olhar para trás, unindo-se ao esforço de criação de uma nova sociedade onde Holocausto não vai ocorrer de novo. Mas na videoarte não encontramos quase nenhum traço desses temas. A seleção de obras trazidas para este festival se baseia, sobretudo, nas três categorias descritas acima. Demos preferência aos vídeos que fazem menção direta desses conflitos nacionais de forma original, mas nem sempre clara. Nem todos são impecáveis do ponto de vista técnico. Porém, achamos que todos são muito interessantes e instigantes.

Só que nosso prisma é interno. Esperamos que vocês sintam o mesmo interesse e fascinação de assisti-los.

Uri Lipschitz e Eli Shvadron

8th Fotoptica Internacional Video Festival. 09 a 15 de Novembro de 1990. p. 62 a p. 63.