Curadoria convidada |

Cada membro do júri da Mostra Competitiva elaborou uma proposta de curadoria. Peter Callas fez uma seleção de oito obras suas. Na série de vídeos intitulada Tecnologia como território, Callas trabalha com imagens capturadas, redesenhando-as com o auxílio de um sistema de computação gráfica (Fairlight CVI e CVI Plus). Cada imagem isolada é parte de um mosaico maior, que reflete sua visão do ambiente urbano onde trabalha: Tóquio, Sydney e Nova York. Não por acaso, os trabalhos apresentados abordam as culturas desses três países. É possível notar temas persistentes na obra do artista, como as questões da identidade multicultural e transcultural, da história e da memória coletiva.

Artistas

Obras

Texto crítico Peter Callas, 1992

Imagens como ideias

"A linguagem é capaz de falar de coisas que não existem: na fotografia, vemos algo que foi e não está mais lá". Italo Calvino aponta essa diferença entre a fotografia e a linguagem. Callas situa seu interesse na zona que existe entre as duas atividades.

Na série de vídeos intitulada Tecnologia como território, Callas trabalha com imagens capturadas, redesenhando-as com o auxílio de um sistema de computação gráfica (Fairlight CVI e CVI Plus). Cada imagem isolada é parte de um mosaico maior, que reflete sua visão do ambiente urbano onde trabalha (Toquio, Sydney, Nova York).

Numa primeira etapa, a imagem é tirada de seu contexto origial e abordada como um signo. Ela é tratada e animada como um campo de energia, com um método de pintura à mão derivado de uma paleta de cores cíclicas do software. Em seguida, cada imagem já finalizada é "desestruturada" num plano, em duas dimensões, criando um padrão relacionado a outra forma de energia, sugerida pela própria imagem. Alguns desses padrões surgem da repetição obssessiva de partes da imagem, outros de transformações em sua simetria. Depois esses padrões são usados como pontos de interrupção na edição. A energia do vídeo não resulta tanto das imagens que compõem cada cena, como das interrupções (ou pontos de edição) nessas cenas.

Por fim, a imagem é transformada num "recorte" que pode ser aplicado em difentes fundos, fornecidos por outros computadores CVIs. A fase mais crítica da produção antes da edição online é a escolha dos primeiros-planos e dos fundos. Cada "matriz" é chamada para um dos CVIs, que estão conectados de forma a permitir transformar "fundos" em "matrizes" e vice-versa. O processo é intuitivo. Essa é a essência ou o "escrever" o trabalho. Antes, não há nenhum script ou storyboard. Os recursos da computação gráfica libertam os artistas da necessidade de enquadrar num visor e possiblitam "escrever", pois ao escrever fazemos, na velocidade da luz, associações e referências para criação de metáforas, por exemplo.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "9º Festival Internacional Videobrasil": de 21 a 27 de setembro de 1992, p. 68, São Paulo-SP, 1992.