Diante do advento das novas mídias, colocam-se novas questões tanto para curadores quanto para conservadores. Do ponto de vista institucional, em sua preocupação com o estudo, a organização e a exposição da Arte Eletrônica, surgem outros desafios. Questões aparentemente bem definidas no campo das outras linguagens, como originalidade e reprodutibilidade, demonstram-se pouco evidentes quando se trata do digital. Com as tecnologias computacionais surgem também novas possibilidades de registro das características formais das obras de arte, e outras modalidades de contato entre obra e público se tornam possíveis. Essas questões foram debatidas pelos participantes do “Fórum de Debates: Curadoria, Registro e Conservação da Arte Eletrônica”. 

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Texto de curadoria Rejane Spitz, 1994

Moldura, Espanadores e Anti-traças Cibernéticos?

Foi-se o tempo em que alguns metros de fio de náilon, um punhado de pregos e algumas luzes direcionais eram, na maioria dos casos, suficientes para a exibição de obras de arte. O insaciável e desenfreado desenvolvimento de tecnologias eletrônicas – tecnologias essas que influenciam e caracterizam grande parte da produção artística dos últimos dez anos – vem exigindo reformulações quanto ao planejamento e à realização de atividades de curadoria, exibição, catalogação e conservação de trabalhos artísticos. Instalações multimídiaticas, trabalhos na área de tele-presença, obras de imersão em realidades virtuais, interfaces interativas e sensitivas, tudo isso vêm modificando as relações entre artista e audiência, rompendo os limites divisórios entre as diferentes mídias, e demandando novos conceitos e posturas dos profissionais envolvidos com atividades. A Arte Eletrônica suscita ainda reflexões sobre os aspectos de originalidade, reprodutibilidade e perecimento de obras artísticas. Se a imagem de um jovem senhor de espanador em punho já serviu como ilustração do trabalho de conservação de obras de arte, hoje tal atividade caracteriza-se pela necessidade de constante atualização das obras para formatos e padrões eletrônicos em uso. Esta permanente transposição de códigos e linguagens – como que um espanador da era cibernética – visa manter o trabalho artístico inalterado nos territórios do audível, do visível e do sensível, ao longo das frequentes e múltiplas mudanças de formatos e padrões eletrônicos.

Com as tecnologias computacionais surgem também novas possibilidades de registro das características formais das obras de arte. Métodos rigorosos, precisos e quiçá perenes de registro visual tornam-se disponíveis para a catalogação de trabalhos artísticos. Museus virtuais, com imagens de altíssima resolução, permitem hoje a visitação do público a galerias imaginárias e espaços simbólicos de navegação.

São muitos os desafios e perspectivas das atividades de curadoria, registro e conservação de Arte Eletrônica, e aqui estamos para debate-las. Afinal, vivemos o momento de transição da era do anti-traças à era do anti-vírus.

SPITZ, Rejane. "Moldura, Espanadores e Anti-traças Cibernéticos?". In: Catálogo 10º Festival, s/ página.