Com coordenação de Eduardo de Jesus, os Painéis sobre o eixo "Panoramas" abordaram a diversidade de estratégias da produção de imagens nos cenários periféricos.

O debate "Memórias Contemporâneas: A Imagem como resgate da herança cultural recente no contexto das culturas tradicionais" aconteceu no auditório, teve mediação de Chistine Mello e a presença, como debatedores, de Miguel Petchkovsky (artista e produtor cultural, Moçambique), Stephen Wright (editor correspondente da revista Parachute, Canadá) e Akram Zaatari (curador e artista, Líbano).

Mediação |

Ensaio Eduardo de Jesus, 2003

Para compreender as imagens hoje

Do mesmo modo que não há mídia inocente, também não há transmissão indolor. Régis Debray

Para pensar as imagens hoje é necessário traçar um percurso que consiga unir os inúmeros processos culturais, sociais e políticos detonados por sua presença na sociedade e suas características técnicas (novos modos de produção e veiculação). Ver como esses mecanismos técnicos e discursivos de produção estão ligados a estruturas políticas de controle que expõem toda a sociedade a um fluxo de imagens que condiciona visões predeterminadas da realidade. Esse controle a todo momento gera novos regimes de visibilidade que se estruturam por meio de imagens produzidas, das mais diversas formas, em busca de alguém que as perceba. O que acontece é que a percepção, como nos adverte Virilio, se transforma em uma “questão de logística”, de manejo de conteúdos e de finalidades muito bem definidas, na maioria das vezes ligadas ao controle e à disseminação de formas culturais, políticas e econômicas dominantes.

Nesse cenário não temos outra saída que não seja transpor o apelo estético dessas imagens sedutoras e tentar buscar outras, produzidas em circuitos diferentes (ou como resistência dentro dos circuitos principais), que nos reconectem com nosso entorno mais imediato, com nossas inquietações, para que sejam percebidas de forma não logística. Atualmente a produção de imagens oscila entre a possibilidade de revelar novas formas de mostrar a realidade e a “imagem-clichê-transmissão ao vivo” que apresenta o mundo numa mistura perversa e sutil de informação e entretenimento, em redes transnacionais de comunicação. Nessa configuração, as propostas artísticas parecem tomar, entre esses dois pólos, múltiplos caminhos e conseguem, algumas vezes, revelar a latência dos conflitos, os jogos de poder e controle, os circuitos de negociação de espaços publicitários, as mais inusitadas estratégias globais de controle e os novos processos socioculturais provocados pela quase onipresença das imagens.

Como entender as inúmeras estratégias que agenciam a produção de imagens no mundo contemporâneo? Como avaliar essas estratégias, sobretudo nos cenários periféricos que se reconhecem pela influência, sem precedentes, da visibilidade instaurada pelas tecnologias de comunicação e produção de imagens? Interessa-nos perguntar como essa visibilidade redireciona a construção das identidades, condiciona os registros da realidade, e participa da definição de panoramas políticos descompromissados com a coletividade.

É nesse cenário em movimento que o Videobrasil reflete sobre a produção artística contemporânea, assumindo a diversidade de visões e a realidade global multifacetada como ponto de partida para traçar possíveis trajetos entre as perspectivas do deslocamento. Nesse sentido propomos uma série de encontros com teóricos, artistas e curadores para debater a produção artística atual e suas novas articulações — para compreendermos, de forma mais profunda, as imagens hoje.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "Deslocamentos - 14º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil": de 22 de setembro de 2003 a 19 de outubro de 2003, p. 178 e 179, São Paulo, SP, 2003.