Curadoria convidada |

Mostra histórica de vídeos de Nam June Paik, com curadoria de Lori Zippay, parte do projeto que homenageia o artista, intitulado À Espera do Século 22: Uma Presença Virtual no Videobrasil 96. A seleção apresenta a fase inicial de Paik, com vídeos produzidos entre 1965 e 1972.

Artistas

Obras

Texto de curadoria Lori Zippay, 1996

The Beatles, McLuhan & The TV Cello: Os primeiros vídeos de Paik

As primeiras tentativas de reinventar uma linguagem em busca da arte, numa conferência sobre Paik

Pioneiros da nova era

O vídeo Global Groove de Nam June Paik, de 1973, e a extraordinária série de produções da década seguinte, são reconhecidos no meio artístico como clássicos. No fim dos anos 60 e começo dos anos 70, Paik já estava conduzindo experiências radicais com vídeo e televisão, usando materiais básicos do veículo — desde sinal eletrônico até comerciais de TV — como uma sintaxe criativa. Repletas de criatividade e ironia, ainda que às vezes tecnicamente rústicas, essas experiências seminais revelam as primeiras tentativas de se manipular e reinventar a linguagem da televisão como arte.

Esse programa histórico vai apresentar uma seleção de vídeos da fase inicial de Paik. Produzidos entre 1965 e 1972, esses trabalhos revelam um momento fascinante na evolução de suas obras, quando Paik movimenta-se da performance e escultura para o vídeo e televisão. Constituem um elo entre os trabalhos gerados pelo movimento Fluxus nos anos 50 e 60 e os consagrados vídeos e instalações multimídia dos últimos anos. Da manipulação de imagens televisivas às abstrações eletrônicas, das performances com Charlotte Moorman aos ícones da cultura pop, essas obras traçam um catálogo virtual das investigações técnicas e conceituais únicas de Paik, que culminaram na produção de Global Groove — obra clássica cuja apresentação encerra este programa.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "11º Videobrasil": de 12 de novembro de 1996 a 17 de novembro de 1996, p. 52, São Paulo, SP, 1996.

Texto crítico Ricardo Kalil, 11/11/1996

Tributo a Nam June Paik

Pioneiro artista coreano, vitimado por derrame há 4 meses, será homenageado com mostra de suas instalações.

Se a intenção do 11º Videobrasil era homenagear os 30 anos da videoarte, nada mais acertado do que prestar tributo ao coreano Nam June Paik, artista pioneiro nas experimentações com meios audiovisuais. Há cerca de 4 meses, June Paik, de 64 anos, sofreu um derrame cerebral, o que causou o comprometimento de parte de suas funções motoras. "Mas isso não impediu que ele selecionasse pessoalmente as obras que virão a São Paulo", diz a norte-americana Lori Zippay, curadora da mostra do artista no Videobrasil, batizada de "Waiting for the 22nd Century" ('Esperando pelo Século 22'). Pela primeira vez, o público brasileiro poderá ver quatro das instalações mais conhecidas de June Paik: "TV Budha", "TV Moon", "TV Fish" e "TV Garden". 0 artista sugeriu que em duas delas fossem usados elementos brasileiros. "Em 'TV Budha', a imagem de Buda será substituída por outra do folclore brasileiro (um Preto Velho)", conta Zippay. "E em 'TV Garden' serão usadas plantas brasileiras." Dois assistentes do artísta já estão em São Paulo providenciando as modificações. Além das instalações, haverá uma retrospectiva de vídeos realizados entre 73 e 95 por June Paik, dividida em três programas: "Colagens", "Homenagens" e "Documentos". E Zippay vai apresentar ainda a conferência "The Beatles, McLuhan e The Cello", com os vídeos mais antigos do artista, de 65 a 72. "A mostra val dar um panorama completo da obra de June Paik", garante a curadora, que chega hoje a São Paulo. Para Zippay, a presença da obra do artista coreano era fundamental para um evento sobre videoarte. "June Paik não é apenas o fundador e a figura central da videoarte, como também um dos artistas mais importantes da arte contemporânea e da cultura pop", afirma a curadora. "Além disso, ele é o exemplo máximo de como a tecnologia pode influenciar a criação artística sem empobrecê-la". Segundo Zippay, apesar do derrame, June Paik voltou a criar e está trabalhando com novas tecnologias, como o CD-ROM e a Internet, para a qual criou um site sobre o grupo artístico Fluxus, criado nos anos 60 por ele, Joseph Beuys e Yoko Ono, entre outros. Zippay conta que o interesse pelo trabalho de June Paik e pela videoarte em geral tem crescido nos Estados Unidos. "Já não existe mais preconceito contra essa manifestação artística. A videoarte já está saindo das galerias rumo aos museus. June Paik acaba de instalar no Guggenheim um enorme Videowall", conta a curadora. Ela pretende aproveitar a visita a São Paulo para conferir como anda a produção de videoarte no Brasil. "Conheço a obra de Eder Santos, que represento nos Estados Unidos e tem um trabalho excepcional", diz a curadora. "Estou muito ansiosa para chegar aí porque considero a videoarte brasileira muito vibrante", completa Zippay.

Jornal da Tarde. São Paulo, 11 de novembro de 1996. SP Variedades, p. 1C.

Entrevista Fernando Oliva, 08/08/1996

Festival consagra videoarte e traz obra de Nam June Paik

Artista coreano é principal nome do festival Videobrasil, que acontece em novembro em SP e terá videoinstalações do mundo todo.

O Videobrasil deste ano quer colocar definitivamente a videoarte na agenda da produção artística nacional. Há quatro anos o festival aposta suas fichas na produção experimental em vídeo e, nesta sua 11ª edição, conseguiu trazer ao Brasil os principais trabalhos do pai da videoarte: Nam June Paik. A mais representativa obra do multiartista coreano chega a São Paulo em novembro para ocupar 800 metros quadrados de área no Sesc Pompéia (veja mapa). As famosas videoinstalações ''TV Budha'', ''TV Moon'', ''TV Fish'' e ''TV Garden'' mostram as inusitadas leituras de Paik para o uso da televisão e do vídeo.

Outros estrangeiros de peso que comparecem ao Videobrasil deste ano são o japonês Keiichi Tanaka, o francês Michel Jaffrennou e a canadense Isabelle Choiniere. Do Brasil, Cao Hamburguer, Inês Cardoso e Marcondes Dourado também participam com grandes videoinstalações.

Quem está por trás da grande mostra Paik no Brasil é a curadora Lori Zippay, diretora do Electronic Art Intermix (EAI), centro de produção artística em meios eletrônicos sediado em Nova York. Em entrevista à Folha, Lori falou sobre videoarte, sua participação como conferencista no 11º Videobrasil e, claro, Nam June Paik, com quem trabalha há 15 anos.

Folha - Nam June Paik ainda é uma referência para a videoarte contemporânea?

Lori Zippay - Ele continua sendo um figura chave na transformação do vídeo em arte. O nome de Paik como figura internacional que trabalha com instalações e performances em vídeo pavimentou o caminho para outros videoartistas e inseriu esta produção no circuito mundial de arte.

Folha - A carreira de Paik foi consolidada nos Estados Unidos. Quais os caminhos que a videoarte tomou 30 anos depois das experiências pioneiras de Paik?

Zippay - Atualmente, muitos artistas estão usando o vídeo em instalações e esculturas. Outra vertente trabalha com as novas tecnologias interativas. Há ainda aqueles que têm como base a junção entre cinema e vídeo. O mais importante é que o vídeo já não é marginalizado e começa a ser aceito pelo mundo artístico como uma manifestação contemporânea.

Folha - Como foi a escolha das obras que vêm ao Brasil?

Zippay - Foram indicações pessoais de Paik. As instalações que participam do Videobrasil fazem parte de suas obras mais importantes. ''TV Buddha'', ''TV Moon'', ''TV Fish'' e ''TV Garden'' são trabalhos históricos, que redefiniram a forma como vídeo e televisão podem ser usados para se fazer escultura.

Folha - Por que sua conferência no Videobrasil chama-se ''Os Beatles, McLuhan e TV-Cello''?

Zippay - São temas recorrentes nos primeiros trabalhos de Paik. Os vídeos desta época, final dos anos 60 e começo dos 70, feitos como esquetes experimentais, são radicais na forma e conteúdo.

Folha - Você conhece os videoartistas brasileiros que participam deste festival?

Zippay - Na verdade, estou pouco familiarizada com a produção brasileira em videoarte. Quero aproveitar esta minha primeira visita para conhecer o trabalho dos brasileiros e, em breve, levar alguns artistas daí para apresentações nos Estados Unidos.

Lori Zippay organiza retrospectiva de videoarte

Além das quatro grandes videoinstalações, as criações de Nam June Paik presentes no 11º Videobrasil farão parte de uma retrospectiva de vídeos sob curadoria de Lori Zippay, diretora executiva do Electronic Arts Intermix, em Nova York. A mostra "Nam June Paik Waiting for the 22th Century" está dividida em três partes: "Colagens", "Homenagens" e "Documentos". "Colagens" inclui os clássicos de Paik para vídeo. Segundo Zippay, nesta fase, Paik mescla ícones pop, imagens televisivas ao acaso, música e efeitos especiais. Em "Homenagens", serão apresentados os vídeos feitos para celebrar algumas figuras importantes do mundo artístico com as quais Paik manteve contato. Entre elas: Joseph Beuys, John Cage e Charlotte Moorman. Gravações de performances e entrevistas raras com Nam June Paik estarão em "Documentos".

Durante o festival será realizada também uma "performance para piano e violino" - música criada por Paik, com percussão de Paulo Santos do grupo mineiro Uakti e projeção de vídeos do artista.

Mostra tem premiação

A Mostra Competitiva do Hemisfério Sul do 11º Videobrasil vai oferecer prêmios de US$ 2.000 a US$ 6.000 aos melhores vídeos enviados até 12 de setembro. As criações vão ser agrupadas nas categorias animação, CD-ROM, clipe, computação gráfica, documentário, ficção e videoarte. Poderão competir trabalhos realizados a partir de julho de 1994, vindos da América Latina, África, Oceania e sul da Ásia. O formato e o tempo de duração são livres, mas a inscrição na mostra deve ser feita com cópias em U-Matic e nos sistemas NTSC ou Pal.

Mais informações podem ser obtiidas no tel.011/65-0635.

Folha de São Paulo. São Paulo, 8 de agosto de 1996. Ilustrada, p.1.