Curadoria convidada |

Apesar do cinema, desde sua invenção, em 1895, sempre ter sido estreitamente relacionado à arte, a confluência entre o cinema e a arte é mais recente no reino do pensamento crítico, assim como sua reavaliação por parte de uma nova geração de artistas, que ajudam a desenvolver algum nível de aceitação de uma forma de arte híbrida e interdisciplinar. Berta Sichel

Muros e túneis que separam e segregam, águas que engolem paisagens e universos paralelos que se medem são alguns dos elementos que compõem dualidades em Kinds of Images [Tipos de imagens]. A curadora espanhola reúne obras recentes realizadas na França, Espanha, Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, Portugal e Cuba por artistas como Marine Hugonnier, Mateo Maté e Carlos Garaicoa.

Sobre elas, afirma: “Essas oito obras alegam (e agora o público deve decidir) que encontraram um guia para a relação entre as formas narrativas inovadoras, a produção de sentido e o ambiente hodierno.” A mostra será exibida no Auditório.

Artistas

Obras

Texto de curadoria Berta Sichel, 2007

Questão

Onde, ou como, você situaria a confluência entre arte e cinema hoje?

Hoje temos uma “ficção emergente” que é menos uma ficção e mais uma desconstrução da realidade, ou um entendimento dialético capaz de produzir algo novo e pessoal. Apesar do cinema, desde sua invenção, em 1895, sempre ter sido estreitamente relacionado à arte, a confluência entre o cinema e a arte é mais recente no reino do pensamento crítico, assim como sua reavaliação por parte de uma nova geração de artistas, que ajudam a desenvolver algum nível de aceitação de uma forma de arte híbrida e interdisciplinar. Essa forma de arte é conseguida através de cortes, justaposições e da trajetória temporal de imagens. A “nova” história da arte atualmente concentra-se na história, no contexto e na política da interpretação visual.

Conceito

Kinds of Images [Tipos de imagens] oferece uma nova maneira de contar histórias. Numa época de mobilidade de pessoas e de idéias, e de globalização e exclusão, de medo, poder e instabilidade (com todos os seus efeitos escusos, mas desafiadores), os oito vídeos selecionados para este programa representam visualmente e dão forma ao conteúdo desses pensamentos constantemente visíveis em nossas vidas. Kinds of Images apresenta trabalhos que negam a idéia comumente aceita de que as mídias são apenas tecnologias instrumentais no reino soberano das mensagens comunicadoras. Como escreve W.J.T. Mitchell, “se vamos ‘nos reportar [address] às mídias’, isto é, localizá-las, dar-lhes um endereço, então o desafio é seu posicionamento e vê-las como paisagens ou espaços”. Os trabalhos de mídia em Kinds of Images são paisagens e espaços que se reportam a esses conteúdos não apenas em um sentido literal, mas também a partir de uma perspectiva global, pois as imagens foram capturadas ao redor do globo. Isso pode ser um atrativo, mas sua energia independe de sua acuidade representativa. Existe a esperança de que nem tudo o que resta para o presente é entretenimento. Produzidos nos últimos três anos, eles apresentam enredos complexos que ocupam múltiplas posições e identidades. O primeiro filme é Traveling Amazonia [Viajando pela Amazônia], uma obra conceitual de Marine Hugonnier sobre o sonho utópico de abrir uma estrada na selva amazônica. Seguem-se obras que apontam para a realidade invisível da construção da nova China; os ambientes contrastantes das ruas de Nova York; o desamparo na Passagem Erez em Gaza; e o passado colonial de um jardim em Portugal. Suas imagens movem-se com vitalidade, construindo metáforas críticas e meditações políticas sobre o tempo presente ao redor desses lugares e espaços. Há uma forte presença da sensibilidade do documentário nesta seleção. O campo expandido do filme documentário hoje resulta em um mosaico de perspectivas, abarcando qualquer coisa, desde aqueles que apresentam uma estrutura narrativa tradicional àqueles em que um enredo codificado mal permite o reconhecimento do “traço autenticador” que conecta um filme documentário a seu referente real. Uma das poucas exceções é Nacionalismo Domestico, de autoria do artista espanhol Mateo Maté, que revela seus personagens através de montagens de clipes de filmes já existentes. No entanto, o cerne da discussão pode não residir na medida em que a representação cultural é real ou não, mas sim se há uma base adequada para examinar a relação entre uma obra e seu contexto. Essas oito obras alegam (e agora o público deve decidir) que encontraram um guia para a relação entre as formas narrativas inovadoras, a produção de sentido e o ambiente hodierno. Kinds of Images pode transportar o espectador para além das imagens cotidianas do presente. Por favor, desliguem seus televisores.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "16º Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC_Videobrasil": de 30 de setembro a 25 de outubro de 2007, p.16-17, Edições SESC SP, São Paulo-SP, 2007, p. 167 - 169.