Curadoria convidada |

O paradigma do cinema já foi quebrado pelas novas tecnologias digitais, mas não é somente a imagem que se redefine, as narrativas também procuram e estabelecem novos paradigmas. E na procura desses novos horizontes do cinema, ou do que hoje chamamos de cinema, é onde reside a arte. Rodrigo Novaes

Em Um punhado de prazeres sublimes, o curador Rodrigo Novaes reúne as visões singulares de artistas que exploraram os limiares do cinema como arte, produzindo uma influência que transcende os limites de sua condição marginal em relação à indústria.

Kenneth Anger, Jean Genet, Luther Price, Jack Smith, Derek Jarman, James Bidgood, Isaac Julien, Andy Warhol e João Pedro Rodrigues estão na mostra, que ilumina “as vanguardas Queer do século XX”, exibida no CineSesc.

Artistas

Obras

Texto de curadoria Rodrigo Maltez Novaes, 2007

Questão

Onde, ou como, você situaria a confluência entre arte e cinema hoje?

O paradigma do cinema já foi quebrado pelas novas tecnologias digitais, mas não é somente a imagem que se redefine, as narrativas também procuram e estabelecem novos paradigmas. E na procura desses novos horizontes do cinema, ou do que hoje chamamos de cinema, é onde reside a arte. Portanto o significado do termo cinema já não é mais o mesmo, e com isso vem a pergunta: qual será o novo paradigma do cinema? É nessa busca que o cinema vira arte, porque somente a arte tem a liberdade de explorar novas fronteiras por ser livre de exigências industriais de garantia de sucesso.

Conceito

"Se não posso ter o destino mais brilhante, quero o mais miserável, não para uma solidão estéril, mas a fim

de obter, de tão rara matéria, uma obra nova"Jean Genet, Diário de um ladrão

Um dos aspectos que une alguns dos criadores das obras desta mostra é a solidão, ou melhor, a singularidade de suas visões que os distinguem, os separam do resto, dos outros, mas que, nessa separação, tornam-se eles os “outros” e nós, a massa que lhes “assiste” maravilhada na percepção de que outras visões e outros limiares existem, além da nossa vida cotidiana, ordinária, mundana. Da visão desses criadores vêm as mais instigantes e desafiadoras imagens, idéias e conceitos de realidade.

A proposta para esta mostra foi selecionar uma série de filmes especificamente das vanguardas queer do século 20, que exploram os limiares do filme como arte. Obras que, na verdade, não são filmes propriamente ditos, de acordo com a definição clássica do termo, mas sim obras de arte em película. E obras de arte porque, em suas formas, elas apresentam novos olhares, novos temas e novas idéias que, em seu tempo, não eram ainda vislumbrados pela indústria cinematográfica e que, por esse motivo, foram marginalizadas. Mas que não por isso perderam sua força e influência, muito pelo contrário, tornaram-se obras referenciais à indústria da mídia popular. Com isso, essas obras podem ser descritas como visionárias ou, especificamente, visões que partem do mundo interno de seus criadores que, por sua vez, foram em alguns casos forçados ao ostracismo, tendo que aguardar anos antes de ser reconhecidos por suas obras que tanto influenciaram a mídia popular e o cinema comercial atual.

Com este programa, procurei traçar um percurso rizomático com obras de curta e longa metragem que têm como foco, ou subtema, a energia sexual humana e que, com isso, flertam com a marginalidade, nos limites do limite do que seria aceitável mostrar na tela em relação às leis de censura vigentes e sensibilidade pública em suas épocas de apresentação. Obras que se tornaram “malditas” e notórias ao apresentar ao mundo novas idéias e conceitos que questionaram o status quo da época e que causaram medo ao desafiarem os paradigmas vigentes. Mas que, no final, tiveram sucesso em criar um novo pensar, um novo ver.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "16º Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC_Videobrasil": de 30 de setembro a 25 de outubro de 2007, p.16-17, Edições SESC SP, São Paulo-SP, 2007, p. 135 a p. 137.