Texto de curadoria geral Solange Farkas, 1990

Norte e Sul Desejos e Limites

Chegamos à oitava edição do Festival Fotoptica de Vídeo - que já se chamou VideoBrasil e foi pioneiro no setor em nosso país - com uma grande novidade: a internacionalização. Temos o prazer de acrescentar aos já tradicionais eventos deste Festival a participação de vídeos dos países do Hemisfério Sul e o Hemisfério Norte, através da organização de encontros de pessoas de procedências diversas, com pautas sobre os desejos e limites desta relação. Esperamos ainda abrir caminho para realizadores que normalmente não têm acesso ao circuito internacional.

Para nossa grata surpresa, tivemos duzentos trabalhos inscritos, sendo a maioria da América Latina, com participação também da África e da Austrália. Quero agradecer a todas essas pessoas, que acreditaram na primeira versão internacional da nossa mostra competitiva e nos deram seu aval enviando-nos o produto de suas realizações.

Na hora de selecionar um número limitado de programas para a mostra competitiva, fomos obrigados a deixar de fora bons trabalhos já que era inevitável fazer uma escolha.

O conselho de programação do festival selecionou 32 vídeos , sempre através de decisões unânimes. São obras que demonstram com criatividade, singularidade e audácia não só a capacidade dos realizadores do Hemisfério Sul de conquistar o mercado das imagens dominantes, mas sobretudo, o potencial de exploração do meio eletrônico desenvolvido por esses lados, capaz de propor novas formas de se fazer TV.

Esses vídeos serão avaliados por um júri composto de cinco pessoas de diferentes nacionalidades com profundo conhecimento e experiência na linguagem videográfica. Aos vencedores, vamos entregar o troféu Fotoptica. É um múltiplo criado com o tema 8th Fotoptica International Video Festival pelo escultor Roberval Layus de Souza utilizando materiais naturais típicos do Brasil: cristal de rocha e madeira.

Serão selecionados quatro vídeos por categoria: musical, ficção, documentário e video-arte; mais um pelo júri popular e ainda o melhor vídeo do festival. Para um realizador brasileiro, teremos uma premiação especial, graças ao patrocínio da produtora Tecnovídeo, do estúdio de sonorização Studio Tesis e à sala de exibição Magnetoscópio. Essas empresas vão criar condições para realização e difusão da próxima peça do video-makes escolhido, que terá equipamento, ilha de edição e estúdio à sua disposição, e ainda exibição na Magnetoscópio, no Rio de Janeiro, com cem por cento da bilheteria. Esse prêmio foi a maneira que encontramos, junto a estas empresas, de investir no processo criativo de um realizador garantindo-lhe as condições básicas para realizar seu próximo vídeo.

Dificuldades econômicas criaram limitações à realização do Festival, impedindo que puséssemos em prática tudo o que pretendíamos no projeto original- como trazer para São Paulo os autores dos 32 vídeos selecionados. Mas não deixa de ser gratificante conseguir levar a cabo este Festival num momento tão crítico, ainda mais em sua primeira versão internacional. Manter o Festival acontecendo anualmente é uma vida que só tem sido possível graças ao empenho da Fotoptica - e outras empresas - que tem apesar da crise investido no desenvolvimento e difusão do vídeo no Brasil.

De qualquer forma, é com imensa satisfação que realizamos o primeiro festival internacional de vídeo do Brasil, procurando sempre trazer inovações à sua forma tradicional, como a videoteca, onde o público terá acesso a todos os vídeos participantes de todas as mostras inclusive os não selecionados para a competição. Que esta seja a primeira etapa de um riquíssimo intercâmbio entre Norte e Sul. Afinal, agora a porta já foi aberta.

(catálogo do 8º Videobrasil). ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "8th Fotoptica International Video Festival": de 9 a 15 de novembro de 1990. São Paulo, 1990.