"Quando o Cruzeiro do Sul fala" na África do Sul

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postado em 05/02/2016
Obras do Acervo Videobrasil são exibidas em feira de arte na Cidade do Cabo, na feira THAT ART FAIR. O programa de filmes resgata as narrativas históricas silenciadas

Nos dias 25 e 26 de fevereiro, obras do Acervo Videobrasil são apresentadas na THAT ART FAIR, feira de arte que acontece na Cidade do Cabo, África do Sul, de 18 de fevereiro a 06 de março. Com curadoria de Solange Farkas e Diego Matos, respectivamente diretora e coordenador de arquivo, pesquisa e acervo do Videobrasil, o programa de filmes Quando o Cruzeiro do Sul fala reúne onze trabalhos que resgatam a história sob a perspectiva do lugar de fala do artista. A mostra integra o programa do THAT FILM FOCUS, festival de cinema que acontece dentro da programação da feira, com uma semana de duração, realizado em colaboração com o shnit International ShortFilmFestival, a Sunshine Cinema e a Associação Cultural Videobrasil.    

A constelação que inspira o título da mostra é facilmente visualizada e reverenciada nos países do Hemisfério Sul, mas irrelevante à cultura europeia. Quando o Cruzeiro do Sul fala reúne a produção audiovisual da América Latina, da África e do mundo árabe, lugares marginalizados e invisíveis à hegemonia ocidental e que divergem dessa normativa, embora tenham, entre si, tantas condições locais comuns quanto diversas. Participam da exibição, composta por dois programas, obras de Akram Zaatari (Líbano), Bakary Diallo (Mali), Bita Razavi (Irã), Enrique Ramírez (Chile), Gabriel Mascaro (Brasil), Gabriela Golder (Argentina), Nurit Sharett (Israel), Roberto Berliner (Brasil), Sebastian Diaz Morales (Argentina), Vincent Carelli (França/Brasil) e Virginia de Medeiros (Brasil).

Em 1969, o artista brasileiro Cildo Meireles lançava um texto que “fabulava a possibilidade de reconquista de uma riqueza material e imaterial escamoteada por séculos”, contam os curadores. O artista escreveu: “Eu gostaria, sim, de falar sobre uma região que não consta nos mapas oficiais, e que se chama, por exemplo, Cruzeiro do Sul. Seus primitivos jamais a dividiram. Porém vieram outros, e a dividiram com uma finalidade. A divisão continua até hoje”. Também na década de 1970, a produção audiovisual brasileira despontava, tendo a portabilidade, acessibilidade e reprodutibilidade como características marcantes de seu princípio democrático, diante do estado de exceção vivenciado naquele momento. Nos anos 1980, quando o fim do regime militar se desenrolava no Brasil, o Videobrasil promoveu a primeira edição de seu Festival. Inicialmente dedicado a acolher e promover o vídeo no contexto nacional, o Festival abraçou a produção do Sul global com o passar dos anos, na intenção de “tornar presentes outras falas de realidades culturais longínquas”, como definem Solange e Diego.

Quando o Cruzeiro do Sul fala se divide em dois programas: o primeiro deles, A intimidade é o fato, “leva em conta as narrativas de cunho afetivo e intimista, dando importância às questões extraoficiais” levantadas por seus criadores. Fazem parte deste programa as obras Les Feuilles d’un temps (2010), de Bakary Diallo, Crazy of You (1997), de Akram Zaatari, The Apocalyptic Man (2002), de Sebastian Diaz Morales, A Pessoa é para o que nasce (1998), de Roberto Berliner, e Sergio e Simone (2010), de Virginia de Medeiros. No segundo programa, A exceção é a regra, a narrativa se dá a partir do olhar do outro, embora a linguagem documental tradicional seja desconstruída nos vídeos selecionados. Fazem parte deste programa as obras Bosphorus: A Trilogy (2012), de Bita Razavi, H2 (2010), de Nurit Sharett, Brisas (2008), de Enrique Ramírez, O Espírito da TV (1990), de Vincent Carelli, e Cows (2002), de Gabriela Golder.


Quando o Cruzeiro do Sul fala
25 e 26 de fevereiro de 2016, com sessões às 19h e às 22h
 

THAT ART FAIR
de 18 de fevereiro a 6 de março de 2015
The Palms | 145 Sir Lowry Road in Woodstock, Cidade do Cabo, África do Sul
www.thatartfair.com