Depoimento Alexandre da Cunha, 2001

Sobre performance

Meu trabalho com performance surgiu como um desdobramento de minha investigacao no campo da escultura, principalmente no que se refere ao uso de materiais e recursos vulneraveis a acao do tempo. Mais recentemente comecei a desenvolver trabalhos combinando performance, video e objetos que abordam questoes ligadas a manipulacao do corpo humano. Em 1998, com a performance Spareman comecei a explorar a tensao entre pequenas esculturas e o corpo de uma pessoa apresentada como elemento principal do trabalho. Pecas brancas que parecem proteses sao conectadas ao corpo do performer sugerindo a presenca de procedimentos de cura ou de tratamento de membros. Alem da construcao de uma outra figura, de um ser sobressalente; o que se estabelece durante a performance e' a repeticao de movimentos esquematicos numa operacao de tensao entre dois performers: o paciente ou vitima e' o que manipula o seu corpo. Em trabalhos mais recentes, o uso de objetos tem sido muito mais economico. Nao existem mais esculturas e os aspectos formais se dao pela contraposicao do corpo com simples objetos como cobetores ou "body-bags" usados originalmente em equipamento de emergencia. Na performance Coverman, minha atuacao consiste em cortar um cobertor em partes proporcionais a membros do corpo da pessoa submetida a operacao e enfaixa-los . A acao ocorre de forma linear e metodica parecendo estar submetida a certas regras ou procedimentos como os utilizados em situacoes de primeiros socorros ou resgate de vitimas de acidente. Em todos os trabalhos, venho contando com a participacao de outras pessoas. Nas primeiras pecas, convidei amigos ou artistas que acompanham meu trabalho e portanto, sentem-se naturalmente envolvidos. Recentemente comecei a considerar a incorporacao de eventuais colaboradores que muitas vezes nao tem um conhecimento mais amplo de meu trabalho, mas que de alguma forma se sentem seduzidos pelas propostas. Tanto na Irlanda ( EV+A Biennial ) como na Korea (PICAF 2000) apresentei a performance Coverman contando com a generosa participacao de pessoas da cidade, do publico local; que depois de verem documentacao do trabalho aceitavam o desafio de ser parte do trabalho. Na exposicao realizada no Das K Projetc (Berlin) pude explorar colaboracoes mais informais e experimentar formas diferentes de documentacao, mostrando apenas um video de uma performance privada realizada na mesma galeria momentos antes da abertura para o publico. Estas possibilidades tem sido muito produtivas na elaboracao de novos projetos assim como no que se refere ao questionamento da performance como linguagem e a sua relacao com a audiencia. Atualmente estou desenvolvendo uma serie de objetos e performances inspirados em manuais de primeiros socoros e sobrevivencia tentando aprimorar conceitos explorados em trabalhos anteriores tendo como referencia o corpo e possiveis ambiguidades abordadas no processo de sua manipulacao, imobilizacao e cura.

Associação Cultural Videobrasil