A obra acompanha a travessia de um homem em meio à cheia de um rio. Com redução substancial da saturação das cores — recurso que confere à imagem aspecto próximo ao preto e branco —, o vídeo é gravado em plano-sequência, sem alteração na velocidade da imagem. O respeito ao tempo real da ação não se confunde, no entanto, com a pretensão de um registro objetivo dos fatos. A câmera estática enquadra de maneira precária a figura do personagem, cujo protagonismo na cena é quase obliterado. Além disso, o som ruidoso denuncia a presença do aparato de captação sonora, dispositivo relevante ao feitio da composição de imagem e som pelo artista. Finalmente, a explicitação dos pixels que formam a imagem leva o espectador a uma postura recuada; diante dele, uma paisagem ainda por se organizar apenas se insinua. O trabalho é parte da série Videorizomas, iniciada no começo dos anos 2000, na qual o artista envia pelo correio, para endereços escolhidos de maneira aleatória, vídeos identificados apenas por uma sequência numérica e sem remetente, impossibilitando que o destinatário reconheça a origem.