A obra evoca a condenação por sodomia, em 1735, de um casal homossexual formado por um pastor negro da etnia Khoikhoi e um marinheiro branco holandês. O caso ocorreu na ilha sul-africana de Robben, que quase dois séculos depois abrigaria a penitenciária onde foram presos Nelson Mandela e outros ativistas anti-Apartheid. Aqui, o relato do relacionamento inter-racial e homossexual corre paralelo à trama do romance proibido entre Tristão e Isolda, transformado em ópera por Richard Wagner. O cruzamento entre o canto trágico de Isolda e o passado da famigerada ilha serve de emblema para a situação de abertura política da África do Sul no começo dos anos 1990. Compositor favorito do Terceiro Reich e racista notório, Wagner fez dessa história de amor eterno — que transcenderia mesmo a morte — um marco para a evolução musical do século 20. A obra questiona os padrões de construção da memória e a dificuldade em fazer emergir trajetórias submersas abaixo das narrativas oficiais. Integra a série multimídia Memorials without Facts, iniciada em 1996 com a instalação Men Loving, exibida na exposição Fault Lines: Inquiries into Truth and Reconciliation, Castle of Good Hope, na Cidade do Cabo (1996), e considerada um marco no processo de resgate da memória das vítimas de toda ordem do regime autoritário sul-africano. Obviamente, comparece desvelada a homofobia, tabu típico em países que passaram por regimes de exceção ou com uma herança colonial autoritária.