No lugar da coluna vertebral a imagem que se vê é a verticalidade implacável do arranha-céu da metrópole. No lugar, o verde da folha. No lugar de um sorriso real, ou de uma tristeza abafada, a falsa imagem de um sorriso publicitário. Nesta edição  do FF>> Dossier mostramos a obra de Lia Chaia, que provoca e gera sentido através dessas inusitadas trocas que aparecem em diversas de suas obras.

Um conjunto de obras que transita em diversos suportes como fotografia, performance, vídeo, pintura e instalação, e que com frequência coloco em xeque a cidade com suas fugazes e velozes relações, o corpo e suas representações, e que sobretudo questiona e reivindica novas temporalidades, como em Rede (2003), apresentada no Sábado de Performances da Galeria Vermelho. Nessa performance Chaia se deixa embalar em uma rede colocada no espaço aberto da galeria, e fica ali durante três horas. Novas temporalidades mais lentas para se contrapor às velocidades típicas da nossa época.

O tempo aparece também em outras obras, algumas vezes explicitando sua fugacidade como na sequência de fotografias Castelo de areia (2002), apresentadas na exposição Experiências com o corpo no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo. Essa obra mostra a artista na praia,  e por ali ela tenta construir e reconstruir um castelo de areia. O tempo aparece reconstruído em 103 pequenas fotografias. Uma espécie  de quase-cinema, que mostra o movimento das ondas na destruição do castelo, que tenta ser incessantemente reconstruído.

Algumas vezes esse tempo é experimentado como duração em forma de vídeo, como no contundente Desenho-corpo (2002). Nesse trabalho a artista desenha em seu próprio corpo com uma caneta esferográfica vermelha, até que a tinta acabe. Toda essa ação dura 51 minutos, e revela não só um corpo-superfície, mas sobretudo um corpo que se mostra conectado com a duração do dispositivo que faz a inscrição na pele.

Em outros trabalhos é a cidade  que parece se inscrever no corpo como uma superfície, que ao mesmo tempo recobre e aproxima. Como em Coluna (2003), fotografia que mostra a assustadora verticalidade dos prédios colada nas costas da artista. As relações entre cidade e corpo também aparecem na sequência de fotografias Madrugada (2003), que revela a artista como um ser quase mítico que se mostra  nu na cidade vazia. Uma heroína da madrugada, essa difusa passagem entre a noite  e o dia que possibilita  o surgimento desses seres imaginários.

A diversificada obra de Chaia também caminha pela pintura em forma de instalações site specific como em Vereda (2004), apresentada no programa Sítio promovido pela Base 7 Projetos Culturais (http://www.base7.com.br/home/), São Paulo. Nessa obra a artista primeiramente pinta de verde as paredes do espaço expositivo, e logo em seguida cobre tudo com concreto, que enquanto endurece se transforma em superfície para que Lia faça singelos desenhos de folhas que se colocam como fundo, para uma série  de totens com fotografias  de plantas recortadas em formas geométricas.

Seja através da fotografia, do vídeo, da performance ou da pintura a obra de Lia Chaia traduz, de forma intensa, as relações entre tempo, corpo e cidade , e é com enorme prazer que chegamos a esta edição  do FF>> Dossier apresentando sua obra.