Sob coordenação de Alberto Baumstein, o debate teve como principais pontos a discussão sobre o financiamento da produção cultural pela Lei Sarney, a participação da iniciativa privada no setor cultural e a mercantilização da produção cultural.

A discussão sobre o financiamento da produção cultural assume ares de novidade em um país de tradição paternalista estatal no campo da cultura. O debate aborda a nova Lei Sarney, bem como toda a problemática do produtor cultural que sempre buscou apoio em órgãos governamentais. A participação da iniciativa privada no setor cultural traz distorções – como a criação de institutos, empresas e instituições que repassam verbas do Estado aos produtores das mais diversas áreas: cinema, teatro, artes plásticas, etc.

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Texto crítico Alberto Baumstein, 1986

Financiamento da Produção Cultural

Em um país viciado no paternalismo estatal no campo da cultura, a discussão sobre o financiamento da produção cultural assume ares de novidade. Principalmente quando surge uma legislação que pela primeira vez dará algum benefício para aquele que arrisca seu capital "em cultura": a tão falada Lei Sarney.

Este debate aborda justamente esta lei, bem como toda a problemática do produtor cultural que sempre buscou apoio em órgãos governamentais acreditando que o Estado é a grande entidade financiadora. Obviamente as distorções surgiram - institutos, empresas, conselhos e centenas de instituições que existiam somente para repassar verbas do Estado aos produtores de cultura das mais diversas áreas: cinema, teatro, artes plásticas etc., trazendo com isto a burocracia ao setor cultural.

Com a Lei Sarney resgata-se a ideia da participação da iniciativa privada no setor cultural, iniciativa que sempre existiu, mas cuja expressividade nunca foi muito grande, bem como a idéia de uma relação direta entre produtor e financiador. Agora o produtor de cultura precisará se estruturar, a fim de convencer um provável patrocinador de que seu projeto cultural é viável, que trará determinadas vantagens institucionais a quem o patrocinar, ou ainda de que é melhor do que um outro apresentado para o mesmo patrocinador.

Esta estruturação, acredito, deverá abranger uma verdadeira estratégia de marketing que só trará benefícios ao produtor cultural, fazendo com que ele torne mais objetivas certas idéias sobre seu trabalho. É claro que existe aí o perigo de uma certa "mercantilização" da produção cultural, mas acredito que ela será menos nociva que a série de distorções causadas pelo paternalismo estatal.

Dentro deste contexto, a produção de vídeo tem a chance de se desenvolver muito rapidamente, dadas suas características de independência de estruturas burocráticas, e seu hábito de negociar diretamente com seus financiadores. Restam porém muitas dúvidas ao produtor de vídeo sobre a relação produtor de cultura X financiador, sob nova legislação.