Curadoria convidada |

A exposição reuniu trabalhos de Milton Montenegro, Carlos Fadon Vicente e Kenji Ota realizados a partir de imagens computadorizadas. Os três autores são fundamentalmente fotógrafos, criados com a câmera na mão e com uma característica em comum: são artistas inquietos que não se contentam com os limites da fotografia.

Os três fazem um trabalho pioneiro e corajoso, lutando com dificuldades reais, como falta de equipamento e custos altos. Para além de meros fotógrafos, são alquimistas da imagem.

Artistas

Texto de curadoria Roberto Amado, 1986

Não há ainda como dar nomes a esse tipo de trabalho. Art Computer? Integralização de imagens? Videofotografia? Não importa. O fato é que os três autores desta exposição são fundamentalmente fotógrafos, criados com a câmara na mão e com uma característica em comum: inquietos artistas que não se contentam com os limites da fotografia.

Milton Montenegro: estudou a linguagem Basic e Assembly para utilizar o micro Mindset, que tinha os mesmos recursos de um computador gráfico. Aliás, primeiro ele usa o vídeo: grava e seleciona as imagens. Depois, com apenas uma das telas fixas de monitor, acrescenta cores, altera tons, desenha, apaga e mexe. Truques de um programa chamado Lucena. Quando chega a uma imagem ideal, o fotógrafo entra outra vez em ação, fotografando diretamente do vídeo. O resultado são essas fotos irreais, com jeito de desenho animado. Uma grande fantasia, com silhuetas delineadas e sombras valorizadas.

Carlos Fadon Vicente: suas fotos foram resultado de um trabalho realizado junto com a produtora Palette Imagem Eletrônica, que criou programas específicos para isto. Fadon trabalhou com fotos já feitas, colocando-as num monitor através de uma câmera de vídeo. Graças aos programas desenvolvidos, ele pôde trabalhar com até 16 milhões de cores sobre a foto, tendo à disposição recursos semelhantes aos da caneta, da borracha, do aerógrafo, da tesoura e do carimbo –podendo empregá-los em razão de segundos. O resultado foi novamente fotografado: silhuetas delineadas, interferências escultóricas, sombras valorizadas, o escuro sobressaindo-se ao claro.

Kenji Ota: não usa computador. Talvez porque seu método era, no fundo, artesanal demais. Primeiro ele produzia imagens de vídeo, que projetava num aparelho comum de televisão. Depois, usando os controles de cor, saturação e brilho, interferia instintivamente, com gestos quase infantis. Mas a imagem do monitor não lhe contentava: usava chapas metálicas que refletiam e duplicavam a imagem e, norteado por um refinado senso estético, alcançava um resultado tão perto do impressionismo quanto do realismo fantástico. Mas o verdadeiro resultado ele só constatava depois de fotografar a imagem final e ampliá-la em dimensões gigantescas.

Esses três fotógrafos fazem um trabalho pioneiro e corajoso, lutando com dificuldades reais, como falta de equipamento e custos altos. Fotógrafos não, digamos alquimistas da imagem.