Curadoria convidada |

Com curadoria de Tom van Vliet, que dirigiu por 22 anos o World Wide Video Festival, a mostra exibe registros de performances e obras de caráter performático apresentadas em várias edições do evento, como o “video graffiti” do holandês Jeroen Kooijmans e o beisebol canino encenado pelo fotógrafo americano William Wegman. O programa atesta o espírito inovador do festival holandês, que era considerado um dos mais importantes eventos de arte eletrônica do mundo até ser descontinuado em 2004. 

O programa inclui a instalação Good Boy Bad Boy, do americano Bruce Nauman, um dos maiores expoentes da arte eletrônica. Na obra, uma mulher e um homem recitam uma litania de afirmações banais e contraditórias em monitores dispostos lado a lado.

Artistas

Obras

Texto de curadoria 2005

Mostras

Este conjunto de mostras nasce do desejo de construir um panorama histórico da performance, tanto no Brasil quanto nos pólos internacionais de onde se irradiaram as idéias que transformariam a arte entre os anos 60 e 90. De uma forma indireta, ele é também um tributo à relação entre a performance, efêmera pela própria natureza, e a imagem eletrônica, que guarda os únicos traços capazes de atestar a força dos atos fundadores e construtores do gênero. Embora ofereçam apenas uma idéia do que foram os eventos originais, os registros em vídeo reunidos nessas mostras se constituem em verdadeiras preciosidades, na medida em que nos permitem ter ao menos algum acesso audiovisual a momentos que foram absolutamente especiais.

Além do registro – que mantém viva a obra performática, mesmo subtraindo dela seu teor fundamental de presença e risco –, o vídeo oferece aos artistas uma gama extra de possibilidades, ao trazer a obra para uma nova dimensão de tempo e de espaço. Alguns deles, como Coco Fusco, se utilizam das possibilidades do meio em performances que exploram linguagens como as telenovelas, os documentários e os circuitos internos de TV em falsas ficções e falsas reportagens. Três destes trabalhos estão na mostra Coco Fusco, ao lado de seleções igualmente ilustrativas da produção de outros artistas que se apresentam no Festival.

Com trabalhos realizados a partir dos anos 70, Marina Abramovic: Performance Anthology [1975-1980] é uma retrospectiva da obra da artista que mais contribuiu para a constituição da performance como gênero associado ao risco, à superação de limites e à vontade política. “Só me interesso por uma arte capaz de mudar a ideologia da sociedade”, disse, em 1997, ao ganhar o Leão de Ouro, prêmio máximo da Bienal de Veneza, com uma obra em que usava água e ossos para traduzir a paisagem interna de sua terra natal. Nascida em Belgrado em 1946, Abramovic trocou a pintura pela performance ao descobrir que os rastros tridimensionais (e reais) deixados no céu por um avião eram infinitamente mais interessantes do que suas telas. A retrospectiva mostra, entre outros, alguns dos projetos realizados com Ulay (Uwe Laysiepen), seu companheiro artístico durante o período de 1975 e 1988, como “Relation in Space” (1977), em que se chocavam um contra o outro até a agressão.

Três antologias geradas a partir do acervo de centros de arte eletrônica oferecem um retrospecto amplo da performance na América, na Europa e no Brasil. Em Antologia Videobrasil de Performances – que ganha uma versão em DVD –, 18 obras comissionadas ou exibidas pelo Festival entre 1992 e 2003 compõem um trajeto que começa com a transposição da Copacabana de Fausto Fawcett para um pequeno palco no SESC Pompéia e segue até o ato em que Luiz Duva, manipulando imagens ao vivo, relê “Marca Registrada”, da pioneira da videoarte Letícia Parente. O programa inclui performances históricas de Waly Salomão e Carlos Nader, Chelpa Ferro, Eder Santos, do argentino Marcello Mercado e da dupla francesa Denis e Jérôme Lefdup, entre outras.

The Kitchen Performance Anthology faz uma introdução histórica às práticas performáticas nos Estados Unidos no período efervescente que vai de meados dos anos 1960 ao começo dos 80, a partir da produção de organizações como o centro de mídia homônimo, criado em 1973. Inclui coreografias de Trisha Brown e Bill T. Jones, ensaios de ópera de Robert Wilson e experimentos do Grupo Fluxus, além de jantares que tinham no cardápio pão, sopa, vinho e performances de Richard Serra e Charles Atlas. Com curadoria de Tom van Vliet, que criou e dirigiu o World Wide Video Festival por 22 anos, a compilação WWVF Performance Anthology traz performances realizadas em diversas edições do evento e obras que nascem de um gesto ou procedimento performático – como o “video graffiti” do holandês Jeroen Kooijmans e o beisebol canino encenado pelo fotógrafo americano William Wegman. O programa atesta o espírito inovador do festival holandês, que era considerado um dos mais importantes eventos de arte eletrônica do mundo até ser descontinuado em 2004.

O gesto performático – e/ou político – também marca os trabalhos selecionados para o programa FF>>Dossier pelo curador Eduardo de Jesus, e realizados pelos brasileiros Lia Chaia, Gisela Motta e Leandro Lima, pelo peruano Diego Lama e pelos nicaraguenses Ernesto Salmerón e Mauricio Prieto, entre outros. Os artistas foram tema da publicação mensal homônima da Associação Cultural Videobrasil na Web, dedicada a perfilar jovens artistas do circuito sul e a refletir sobre as situações limítrofes da arte na contemporaneidade. Extremidades do Vídeo, curadoria advinda da tese de doutoramento homônima de Christine Mello, leva essa discussão adiante, ao reunir obras brasileiras que expressam procedimentos limítrofes de enunciação do vídeo e suas infiltrações semióticas nos diferentes campos da estética contemporânea, revelando, em seu aspecto híbrido, a capacidade de transformar e influenciar as mais variadas manifestações artísticas. O programa se divide em três segmentos. Cada um traduz uma extremidade desse processo: Desconstrução apresenta obras que nascem da intenção consciente de desmontar a linguagem videográfica, um tipo de contexto midiático ou uma imagem, para expandir seus limites criativos; Contaminação aborda o momento em que o vídeo se potencializa a partir de diálogos com outras linguagens, como a performance, o teatro, a música, a dança e a instalação; e Compartilhamento trata da presença do meio no circuito das redes telemáticas e nos contextos interativos, um ponto em que o vídeo deixa de se apresentar como elemento particular de apreensão estética e funde-se, de forma colaborativa, às estratégias discursivas das novas mídias.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil - 'Performance.'": de 6 a 25 de setembro de 2005, p. 156-157, São Paulo-SP, 2005.