Texto de curadoria geral Solange Farkas, 2005

Diferenças Que Provocam Inovação

Marcada por uma enriquecedora diversidade sociocultural e unida pela inovação, a arte do chamado eixo sul transformou-se, nos últimos anos, num fenômeno ao mesmo tempo cativante e heterogêneo, singular em sua força e intensidade. Neste 15° Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil, a Associação Cultural Videobrasil, em conjunto com o SESC São Paulo, apresenta uma representativa parte dessa produção, que temos o privilégio de acompanhar, incentivar e difundir desde o surgimento. A parceria com a instituição, iniciada em 1992, e desde então um fundamental estímulo para nosso trabalho, mostra a sintonia e o compromisso do SESC São Paulo com as mudanças da arte provocadas pela tecnologia. Graças a esse contínuo apoio, adquirimos grande familiaridade com a arte do eixo sul, o que nos permitiu, pela primeira vez, consolidar um desejo e um esboço já anunciados na edição anterior: a divisão da mostra competitiva em três eixos distintos, reflexos de uma heterogeneidade que tornou evidente a necessidade desta mudança.

Sem a pretensão de reunir uma completa história da produção do eixo sul, o programa Panoramas do Sul permite observar a maturidade da arte eletrônica (em Estado da Arte), mapear experimentos audiovisuais (em Investigações Contemporâneas) e conhecer o pensamento e a ação de uma nova geração, desde cedo exposta às possibilidades de comunicação e de criação com tecnologia (em Novos Vetores). Essas categorias, que reúnem artistas de um número crescente de países, são significativas de uma produção emergente que durante anos foi mantida à margem e hoje alimenta o centro da criação artística com novas idéias e paradigmas.

Ao selecionar obras de origens e formas tão distintas, o 15° Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil cumpre sua vocação de ser um centro de convergência e de trocas, contribuindo para o fortalecimento da produção e da difusão da obra de artistas do eixo sul. Como parte dessa estratégia, a nova edição dedica ainda mais espaço à reflexão: além de um ciclo de debates estendido, haverá um workshop de performance e o lançamento do primeiro volume do “Caderno Videobrasil”. A publicação se volta para o tema performance, experiência em que limites dos gêneros artísticos se confundem e se invadem, assim como na arte eletrônica. A prioridade editorial é difundir a pesquisa teórica especializada e a produção artística recente, em edições temáticas, com periodicidade anual.

As experiências provocadas pelo Festival terão continuidade também no recém-lançado Videobrasil On-Line, mais uma parceria da Associação Cultural Videobrasil com o SESC São Paulo e o Prince Claus Fund da Holanda. O banco de dados, resultado de uma exaustiva empreitada de trabalho de três anos envolvendo uma dedicada equipe de especialistas em informática e vídeo, de pesquisadores e de artistas visuais, será objeto, nesta edição do Festival, de uma experiência em que dividimos com os artistas a responsabilidade pelo input dos seus conteúdos. O Videobrasil On-Line oferece à comunidade, gratuitamente, informações sobre artistas, obras, curadores e eventos. Esperamos que ele provoque novas relações, torne-se um instrumento de consulta e, acima de tudo, de colaborações e idéias que fortaleçam a produção e o pensamento em torno de arte e tecnologia no eixo sul.

É importante também destacar a ampliação das parcerias com instituições educacionais e centros de mídia, que nesta edição nos permite oferecer, além de um prêmio em dinheiro para uma obra de cada eixo do programa Panoramas do Sul, prêmios de residência a três artistas brasileiros em instituições aqui e no exterior: no Le Fresnoy - Studio National des Arts Contemporains (na França), a quem agradecemos por um pioneiro acordo, no Gasworks (na Grã-Bretanha) e na FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), em São Paulo. O Senac São Paulo, por sua vez, coordenará o trabalho de monitoria da exposição, além de envolver seus professores e alunos nas atividades do eixo Zona de Reflexão.

O primeiro resultado do intercâmbio com o Studio Le Fresnoy, iniciado em 2003, poderá ser visto na abertura do programa Panoramas do Sul, com a exibição de “Filme de Guerra”, de Wagner Morales, realizado ao longo de uma temporada na França. As obras produzidas durante as residências concedidas como prêmio no 15° Videobrasil abrirão as respectivas categorias na próxima edição. Estamos desenvolvendo acordos de parcerias com outras instituições internacionais, o que estenderá o escopo e as propostas do Festival. Com isso, esperamos consolidar intercâmbios que fortalecerão ainda mais as essenciais trocas entre os centros de criação do Sul com o próprio Sul e também com o Norte.

A realização desta edição especial do Videobrasil foi possível graças ao total suporte do SESC São Paulo e das organizações com as quais teremos o privilégio de trabalhar em parceria a partir de agora, e também ao espírito cooperativo de vários artistas e entidades ao redor do mundo. Mas é importante destacar, e acima de tudo agradecer, o suporte intelectual e afetivo de um grupo especial de pessoas com que tenho dividido, ao longo dos últimos anos, a realização deste projeto: Angela Detanico e Rafael Lain, André Brasil, Christine Mello, Eduardo de Jesus e minha competente, brava e incansável equipe de produção, coordenada, com firmeza e dedicação, pelas queridas Ana Pato e Cris Abi.

Para finalizar, quero agradecer e dedicar este trabalho ao meu querido marido Pedro e às nossas filhas Maria, Tetê e Nina, pela compreensão e paciência com que lidam com minha ausência durante freqüentes compromissos e inevitáveis viagens de especulação ao redor do mundo.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil - 'Performance.'": de 6 a 25 de setembro de 2005, p.18 e 19, São Paulo-SP, 2005.

Texto institucional Danilo Santos de Miranda, 2005

Olhando o Passado, Vislumbrando o Futuro

Parceiros desde 1992, o SESC São Paulo e a Associação Cultural Videobrasil reúnem-se para promover o 15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil, um projeto amplo e maduro que tem aguçado a percepção estética, artística e cultural de curadores, artistas e público em geral. Essa tendência verificase, sobretudo, por dois aspectos definidores do Festival: o pensamento artístico-poético, fortemente associado à invenção tecnológica.

Criado como um panorama da arte eletrônico-digital contemporânea, o Videobrasil tem se dedicado especialmente à produção artística do cone sul e traz a público, nesta edição, 130 trabalhos selecionados entre 652 inscritos de 41 países. Constitui-se, assim, o eixo da mostra competitiva Panoramas do Sul, subdividida em três propostas: Estado da Arte, Investigações Contemporâneas e Novos Vetores.

O Videobrasil retoma igualmente uma das sementes da arte eletrônica ao dedicar espaço exclusivo à performance e assumi-la como eixo curatorial. Por essa razão, apresentam-se Chelpa Ferro, Coco Fusco, Ingrid Mwangi, Marco Paulo Rolla, feitoamãos/F.A.Q., Melati Suryodarmo, Frente 3 de Fevereiro, Detanico Lain e Eder Santos, Stephen Vitiello e Ana Gastelois. Paralelamente, a programação de vídeo inclui antologias sobre o tema, como a Antologia Videobrasil de Performances, a The Kitchen Performance Anthology, a WWVF Performance Anthology e a retrospectiva de Marina Abramovic.

O Festival conta ainda com mesas de debates e apresentações de VJs. Outro destaque é a concessão de prêmios a partir de parcerias firmadas com o Studio Le Fresnoy, o Gasworks e a Fundação Armando Alvares Penteado.

Há 23 anos, o Videobrasil propõe a análise e a reflexão sobre o impacto das novas mídias na produção artística, enfatizando aspectos como difusão, intercâmbio, análise, pesquisa, experimentação e formação de acervo.

À frente dessa iniciativa, entendida como referência, encontra-se Solange Oliveira Farkas, cujo senso estético, espírito inovador e olhar agudo têm, ao longo do tempo, consagrado seu pioneirismo na valorização de novas mídias e no potencial por elas sustentado na leitura e interpretação das múltiplas faces da sociedade contemporânea.

Esses são princípios caros ao SESC São Paulo, seja por incitarem o debate, seja por contribuírem para a construção contínua do conhecimento.

O SESC considera a cultura elemento central para a formação e desenvolvimento de uma sociedade global mais justa. Razão que o leva a empenhar-se na promoção da educação informal, com base no contato permanente com diferentes manifestações artísticas e culturais, independentemente de linguagens e gêneros. Privilegiam-se a inovação e a pesquisa, a capacidade de estabelecer novas leituras, ao mesmo tempo em que se buscam novos objetos.

Nesse contexto inscreve-se o 15º Videobrasil, uma iniciativa marcada pelo vínculo arte-tecnologia que, a cada dia, encontra-se mais e mais inserido no cotidiano das pessoas. Daí a relevância do Festival em incentivar novas percepções, ativar novas sensibilidades e estimular a melhor compreensão da arte contemporânea. DANILO SANTOS DE MIRANDA Diretor Regional do SESC São Paulo

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil - 'Performance.'": de 6 a 25 de setembro de 2005, p.10 e 11, São Paulo-SP, 2005.