Coco Fusco

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postado em 20/08/2014
Artista explora o papel de mulheres militares na tortura de presos políticos dos EUA

O trabalho de Coco Fusco tem como principais temas questões geográficas e de identidade, de gênero, relações de poder e as políticas governamentais (com especial foco naquelas dos EUA). A artista constrói seu comentário crítico através de performances, fotografias, vídeos e instalações. Fusco, que recebeu a Guggenheim Fellowship em 2013, já teve seu trabalho exibido em instituições como a Tate (Liverpool, Reino Unido), o Museum of Modern Art (Nova York, EUA) e o Museu d'Art Contemporani de Barcelona (Espanha), além de ter participado eventos como Whitney Biennial (EUA), Bienal do Mercosul (Brasil) e Transmediale (Alemanha).


Em 2001, em resposta aos ataques do 11 de setembro, o presidente dos EUA George W. Bush declarou Guerra ao Terror em nome da democracia, com o propósito de eliminar organizações terroristas. Suspeitos foram mortos ou encarcerados em presídios como os de Guantanamo e Abu Ghraib. Entre 2003 e 2004, registros em foto e vídeo vieram à tona e expuseram as atrocidades cometidas pelo exército norte-americano contra seus presos políticos. Em depoimento disponível no Canal VB, Coco Fusco declara que se sentia incomodada pela reação pouco significativa dos artistas diante da guerra no Iraque e o escândalo de Abu Ghraib.

Interessada no papel desempenhado pelas mulheres militares nestes episódios de tortura e humilhação, Fusco frequentou um curso oferecido por ex-interrogadores para aprender seus métodos e comportamento, conforme declara à PLATAFORMA:VB. A performance Bare Life Study #1, apresentada durante a 15º edição do Festival (2005), foi sua primeira produção sobre o tema. O registro desta ação performática integra a exposição Memórias Inapagáveis.


Coco Fusco discorre sobre projetos artísticos que abordam problemáticas relacionadas às forças armadas

Em Bare Life Study #1, Coco Fusco veste um grupo de pessoas com uniformes laranjas, que ela considera símbolos internacionais de detenção. Retira delas a identidade ao substituí-la por números. Mune-as de escovas de dente com a impraticável tarefa de limpar a rua, bem em frente ao Consulado dos Estados Unidos em São Paulo. No livro Memórias Inapagáveis, que será lançado em outubro, a curadora Magda González-Mora comenta o comportamento da artista devidamente fardada em Bare Life Study #1 e o do grupo que obedece às ordens que ela profere ao megafone:  “A recriação do abuso é observada na submissão dos jovens presidiários, que acatam a voz de sua comandante sem questionar, ajoelhando-se em um ato inerte e ‘limpando’ as ruas de São Paulo com escovas de dente. O registro fílmico evidencia símbolos de poder, as botas como elementos que obrigam a manter a cabeça baixa, os performers submetidos no chão, a abstinência de um público que não pode controlar a irracionalidade das ações. Tudo para evidenciar os traços da tortura como perturbador signo de submissão”.

Com direção de Wagner Morales, o documentário I Like Girls in Uniforms faz parte da Videobrasil Coleção de Autores. Produzido em 2006, o filme acompanha o processo de criação de Bare Life Study #1 e traz depoimentos colhidos em entrevistas com Coco Fusco em São Paulo e Nova York.


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