Efrain Almeida cria escultura-troféu para o 19º Festival

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postado em 13/08/2015
Na obra proposta para o Festival, o artista brasileiro atualiza símbolos recorrentes em sua produção, que transpõe traços definidores da cultura popular nacional para o contexto da arte contemporânea

O cearense Efrain Almeida assina a escultura-troféu destinada aos artistas premiados pelo 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Panoramas do Sul. Efrain une-se ao grupo de artistas que conceberam a peça em edições anteriores, como Tunga, Rosângela Rennó, Luiz Zerbini e Erika Verzutti, entre outros, especialmente convidados pela curadora geral do Festival, Solange Farkas. Para esta edição, Efrain presta homenagem às artes e aos artistas visuais, atualizando um símbolo recorrente em sua produção: um par de olhos. Os olhos evocam ainda o nome e o histórico do Festival: a palavra vídeo vem do latim video, “eu vejo”.

As narrativas pessoais, a memória e a construção da identidade são alguns dos conceitos que guiam a curadoria deste Festival e estão presentes nas construções visuais e teóricas de Efrain. “Seu trabalho transpõe para o contexto das artes visuais alguns traços definidores da cultura popular brasileira e, em particular, do sertão”, comenta Solange. A artesania e o imaginário popular e religioso do Nordeste alicerçam as menções autobiográficas na obra de Efrain, filho de carpinteiro, nascido no interior do Ceará, onde até hoje mantém seu ateliê.

O corpo é um dos assuntos da obra de Efrain Almeida, que muitas vezes toma o seu próprio como medida. Quando sugerido em fragmentos, remete aos ex-votos, figuras esculpidas que representam partes do corpo que precisam de cura ou foram curadas e são oferecidas pelos fieis aos seus santos de devoção. A peça concebida por Efrain para o 19º Festival cita ainda a história de Santa Luzia, conhecida como protetora dos olhos. Luzia teve seus olhos arrancados a mando de um imperador romano como pena por não rejeitar sua fé cristã e, segundo a doutrina católica, dois novos olhos lhe foram milagrosamente providos. 

Um baixo-relevo em madeira serve como base para Olhos negros (2015), peças em bronze policromado oferecidas aos artistas premiados. O gesto de repetição está presente em sua trajetória, apesar do caráter serializado da fundição em bronze ter passado a fazer parte de seu repertório recentemente, a exemplo das exposições individuais Lavadeirinha (2015) e Uma coisa linda (2014). A pintura manual dos prêmios do 19º Festival torna única cada uma das peças: “é uma repetição com singularidade”, afirma o artista.

Para Efrain, o convite para criar essas peças significa um diálogo, uma possibilidade de intercâmbio entre sua obra e a dos artistas premiados, que, graças ao recorte geopolítico do Festival, vêm das mais diversas partes do mundo. Segundo Solange Farkas, essa estratégia do Videobrasil, iniciada há mais de trinta anos, “possibilitou também trocas entre dois universos inicialmente estranhados — o do vídeo e o das artes visuais — e influenciou artistas a experimentar o vídeo como ferramenta de expressão”, colaborando com sua assimilação pela arte contemporânea. Foi também um primeiro apontador daquela que se tornaria, ao longo dos anos, a vocação do Festival: colocar-se como plataforma aberta à experimentação de todas as experiências artísticas, aproximando criadores do Brasil e de outras partes do Sul global. A escultura-troféu criada por Efrain será exibida ao lado das obras dos artistas selecionados para esta edição, no Sesc Pompeia. Todos as peças entregues como troféus aos artistas premiados nas edições anteriores estarão em exposição no Galpão_VB, a nova sede do Videobrasil, que apresenta os projetos comissionadas pelo 19º Festival a partir de outubro.


Sobre o artista

Efrain Almeida (Boa Viagem, Brasil, 1964) vive e trabalha no Rio de Janeiro, onde é professor na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Autodidata, o artista teve sua primeira exposição individual em 1993. Participou da elogiada exposição Histórias Mestiças (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil, 2014), da 29ª Bienal de São Paulo (Brasil, 2010), da 10ª Bienal de Havana (Cuba, 2009) e da 15ª Bienal de Cerveira (Portugal, 2009). Tem obras em coleções como a do Centro Galego de Arte Contemporânea (Santiago de Compostela, Espanha), do Museu de Arte Moderna de São Paulo (São Paulo, Brasil), do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Recife, Brasil), do Museum of Modern Art – MoMA (Nova York, EUA), e do Museu de Arte Contemporânea do Ceará (Fortaleza, Brasil), entre outras.