Curadoria convidada |

O novo tráfego global de imagens mediadas gera uma linguagem e ambiente de referência próprios. Cruzamos um limiar no tempo onde a imaginação floresce em todas as suas manifestações perversas, banais e miraculosas. A questão é que, seja arte, seja cinema ou seja o que quer que seja, você irá assistir. David Cranswick

Desde um posto de observação privilegiado – a direção do d/Lux/MediaArts, uma das organizações-chave na área de mídia e arte na Austrália – o curador David Cranswick seleciona em Panoramas of the Imagination [Panoramas da imaginação] vídeos produzidos recentemente por artistas do país (Matthew Tumbers; John A. Douglas; Soda_Jerk; Brendan Lee; Shaun Gladwell; Daniel Crooks; Sam Smith; rea; Ms. & Mr.; Rachel Scott; The Kingpins).

Em obras que incorporam tanto a linguagem do cinema quanto as práticas das artes visuais, o programa ilustra “a textura e diversidade” tanto da produção audiovisual do país quanto da própria experiência australiana contemporânea.

Artistas

Obras

Texto de curadoria David Cranswick, 2007

Questão

Onde, ou como, você situaria a confluência entre arte e cinema hoje?

É impossível pensar sobre a proposição da arte no cinema sem considerar a experiência mais ampla da cultura da tela e da imagem em movimento – ou vice-versa! Isso nos limita a uma discussão sobre a forma. Ou talvez devêssemos falar de economias – social, cultural ou outras – e reconhecer que a produção, distribuição e consumo de imagens mediadas não podem ser nem governadas nem contidas por convenções. Vivemos em uma era da rede, em toda sua extraordinária variedade, ubiquidade e velocidade. O novo tráfego global de imagens mediadas gera uma linguagem e ambiente de referência próprios. Cruzamos um limiar no tempo onde a imaginação floresce em todas as suas manifestações perversas, banais e miraculosas. A questão é que, seja arte, seja cinema ou seja o que quer que seja, você irá assistir.

Conceito

O programa Panoramas of the Imagination [Panoramas da imaginação] é um encontro com as formas intensas e sofisticadas de subjetividade que incorporam tanto a forma cinemática estabelecida quanto a linguagem visual da arte contemporânea. Trata-se de como os artistas olham para o mundo e expressam sua reação a ele. Dentro do tema mais amplo do Festival – arte no cinema – assistimos a uma gama de trabalhos que articula os mundos imaginativos de um grupo de artistas e que ilustra a textura e diversidade da cultura contemporânea da tela produzida atualmente na Austrália.
Eu dei o título de Panoramas of the Imagination a esse programa porque me interesso particularmente pela ideia de como os artistas que trabalham com a imagem em movimento condensam e destilam complexos fenômenos estéticos, políticos, emocionais, culturais e imaginários em novas formas experienciais. Também acredito que todos esses trabalhos sugerem uma reação à complexidade e aleatoriedade da vida cotidiana e da cultura de mídia global, insistindo na necessidade da subjetividade pessoal e na valorização da imaginação como ferramenta de negociação de nosso lugar dentro desse ambiente.
Quase todos os trabalhos deste programa foram concebidos como instalações para ambientes de galeria e, nelas apresentados, conseguiram estabelecer, de forma bem-sucedida, novas formas de diálogo e relacionamento entre a tela, o conteúdo do trabalho e o público. Aqui, em um programa de exibição de festival, os trabalhos são içados de seus contextos pretendidos e, na tradução para um ambiente de cinema, perdem algo de suas qualidades específicas espaciais, temporais e materiais da instalação original.
Ainda assim, os trabalhos mantêm sua integridade e comunicam, para mim, uma honestidade real sobre as texturas e o caráter diversificado da experiência australiana contemporânea.
Esses trabalhos conseguem articular, com sucesso, a complexidade do jogo entre a cultura de mídia global, os contextos locais e subjetividades pessoais, mobilizando uma extraordinária gama de imagens, ideias e técnicas na criação de momentos de insight imaginativo, humor e estranha beleza.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "16º Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC_Videobrasil": de 30 de setembro a 25 de outubro de 2007, p.16-17, Edições SESC SP, São Paulo-SP, 2007, p. 143 - 144.