Lugar de encontro entre as linguagens escrita e visual, os alfabetos e tipografias são universos recorrentes na obra dos artistas gaúchos Angela Detanico e Rafael Lain.

Criadores da identidade visual e gráfica do 16º Videobrasil, eles ocupam parte do térreo do SESC Avenida Paulista com a instalação Braille Ligado, na qual lâmpadas fluorescentes traçam caminhos sobre dois painéis dispostos em V.

Os dois artistas participaram das 26ª e 27ª edições da Bienal de São Paulo e, mais recentemente, das Bienais de Valência e Veneza.

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Texto de curadoria 2007

Linhas de pura luz unem os pontos da maneira que só os cegos sabem fazer. Na instalação de Detanico e Lain para o 16º Festival Videobrasil, uma ação que é privilégio do tato convoca os sentidos da visão e, no limite, de todo o corpo. Sinestesia por deslocamento semântico. Contudo, a utopia pontilhista não se dará sem certo desconforto e perplexidade. Colocado diante de um objeto em tudo sedutor, o espectador é confrontado com algumas impossibilidades. Vemos os brilhos, lemos na placa de identificação o título da obra (Braille ligado) e pensamos automaticamente em acionar as pontas dos dedos. O objeto do desejo, porém, não está ao alcance das mãos, pode queimar e é preciso tomar certa distância para, com o olhar, dar conta de sua totalidade. Somos levados a nos mover em direção a um local ideal. Mas sabemos que, se formos além ou se aproximarmos demais os olhos de uma superfície, ganhamos apenas o “fora de foco” (uma equação simples, aliás já anunciada por Detanico e Lain no projeto gráfico para o 15o Videobrasil). Tampouco há consolo para aqueles que não veem, pois afinal não se põem os dedos sobre lâmpadas que permanecem acesas horas a fio. Inverso/perverso.

Assim como em trabalhos anteriores (notadamente Utopia e Pilha), não estamos no campo da construção da linguagem – sendo este tema, supostamente evidente, um foco de tensão e um dos mais interessante ardis no percurso da dupla de artistas brasileiros. O que se busca aqui aponta para outra direção: a sensibilidade de uma operação que está na base da construção de sentido. Seria possível captar o espaço-tempo no qual eclode algum nexo? Parece ser esta a pergunta lançada por Braille ligado. Os projetos de Detanico e Lain habitam este lugar talvez inconciliável, este momento de transmissão entre um código já conhecido, de domínio comum, e um outro, cuja gramática é menos acessível ou demanda um conhecimento específico – seja ele a arquitetura, a tipografia, o design ou o Braille.

A escrita acontece no vazio da linguagem, lembrou Roland Barthes (L’Empire des Signes). “La existência en suspenso de las cosas sin nombre”, escrevem Detanico e Lain em Braille ligado. 

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC_Videobrasil. De 30 de setembro de 2007 a 25 de outubro de 2007. p. 177 a 178, São Paulo, SP, 2007.