O pesquisador Moacir dos Anjos fala sobre a obra "O espírito da TV", dirigida por Vincent Carelli em 1990.

Documentário realizado pelo projeto Vídeo nas Aldeias, o filme mostra reações do grupo indígena Waiãpi, contatado em 1973 durante a construção da rodovia Perimetral-Norte no Amapá, ao ver a própria imagem e a de índios Gavião, Nhambiquara, Krahô, Guarani e Kaiapó na TV. Sem repórter ou narrador, a edição é feita de modo a interferir ou orientar os depoimentos o menos possível. O título refere-se à declaração do pajé que se sentiu afetado ao ver na tela imagens de um ritual de evocação de espíritos. O reconhecimento de tribos semelhantes, a imagem de sua tribo perante os brancos e garimpeiros que lhes ameaçam e a conservação da imagem e da memória por meio do vídeo fascinam e preocupam os índios que reconhecem não apenas os efeitos e ameaças do vídeo, mas sobretudo a sua eficácia e o seu poder.

Moacir dos Anjos (Recife, Brasil, 1963) é pesquisador e curador de arte contemporânea da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife. Foi diretor do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães – MAMAM (2001-­2006) e pesquisador visitante no centro de pesquisa TrAIN – Transnational Art, Identity and Nation, em Londres (2008­-2009). Foi curador da Bienal de São Paulo (2010) e das mostras Cães sem Plumas (MAMAM, 2014) e A Queda do Céu (Paço das Artes, 2015). É autor dos livros Local/global – arte em trânsito (Zahar, 2005) e Arte Bra Crítica (WMF Martins Fontes, 2010), além de editor de Pertença, Caderno Videobrasil 8, São Paulo (2013).