Entrevista Eduardo de Jesus, 04/2005
Qual foi sua principal motivação para iniciar a produção de vídeos?
O vídeo é uma das ferramentas que estou usando. A escrita é outra ferramenta que gosto de utilizar. Estudei cinema e vídeo. O vídeo é financeiramente mais acessível do que o cinema.
Freqüentemente existe em seus vídeos uma grande quantidade de textos e gráficos sobrepostos à imagem. Como é seu processo de criação? Em vídeos como “f/f” (2004), qual foi a idéia inicial? As informações sobre violência ou a imagem da dançarina? Como você constrói essas referências entre informação textual e imagem?
Tudo depende do projeto: no vídeo “F”, em primeiro lugar decidi fazer algo com a dançarina. Posteriormente, mudei a locação e o figurino. O texto passou a ser mais do que um texto, transformando-se em um elemento visual, assim como a dançarina e todos os outros fatores na tela.
Você também desenvolve documentários como “The people of lights long walk” (2000). O que difere no processo de criação dos vídeos experimentais e no dos documentários?
A resposta mais simples para essa pergunta seria que ambas as formas são fictícias (filmes experimentais e documentários). São coisas parecidas; para mim, não há diferença no processo criativo.
Tenho muitas coisas a dizer sobre os documentários; uma delas é que sua produção é muito dolorosa; talvez seja por isso que escolho fazer vídeos ou filmes experimentais com maior freqüência.
Em muitos de seus trabalhos, o texto escrito na tela tem uma importância fundamental para a compreensão da obra. Podemos ver isso em “Erol Akyavas” (2000), em “Little lake” (2002), e inclusive em “GURE aegean”, (2004), no qual você usa uma poesia de Ilhan Berk. Qual a relação entre o texto escrito na tela, a poesia e as construções narrativas dos seus vídeos? A poesia é uma conseqüência natural das apropriações de textos na tela?
Para mim, ser compreendido não é o mais importante. O texto se transforma em um suporte para as minhas expressões estéticas. O texto passa a ser uma imagem gráfica, mais do que um texto com significado. Meus filmes são minha expressão poética.
Como foi a experiência dos Workshops Internacionais de Produção de Vídeo que você desenvolveu junto com Petra Holzer e Walter Pucher?
Os workshops foram importantes para criar um sentimento de solidariedade entre jovens de diferentes culturas durante o processo de criação dos vídeos. Depois de dez anos descobrimos que era hora de mudar a forma, e agora promovemos esses eventos em escala muito menor, de forma mais concentrada, em uma só localidade. Em dez anos, mais de 200 estudantes oriundos de mais de 20 países obtiveram bolsas para participar de nossos workshops (nós mesmos organizamos as bolsas).
Seus trabalhos em geral têm uma forte conotação política, mesmo quando tratam de temas subjetivos e pessoais. Podemos ver isso em “AMN (All my nightmares)” (2001), em “GURE aegean” (2004), entre outros. Como você vê a relação entre arte e política?
A arte é minha forma de oposição. A arte é uma ferramenta de refúgio. A arte me ajuda a deixar o campo de batalha sem dar as costas e correr o mais rápido que puder.
Como você vê o cenário artístico atual na Turquia e especialmente em Istambul?
A cena artística de Istambul é explicada com riqueza de detalhes em “Delirium”. Permita-me usar o texto de minha instalação “Nightmare”:
vivemos em uma década na qual tudo pode ser editado como parte de alguma coisa / qualquer coisa e dar significado (!) a esse mesmo todo. essas partes são citadas sem qualquer preocupação com a estética e/ou com princípios e teorias éticas.
em todos os campos que definem vidas, ser um fator determinante dessas ficções significa hegemonia. a ficção determinada pela hegemonia é aceita sem precondições.
vivemos em uma década na qual a boa educação se tornou extinta. a boa educação não existe mais, nada é questionado, a velocidade aumenta, as partes estão ficando menores e/ou mais curtas, a importância, a singularidade e a posição de partes menores perde significado. uma visão, uma nota, a diminuição do significado como uma única sentença ou como parte de um todo; tudo isso poderia ser facilmente retirado e colocado em outro lugar …
em uma condição na qual cores, visões, vozes e estados mudam de modo tão rápido e sem responsabilidade, na qual esses fatores se transformam e crescem, na qual os poderes hegemônicos e a tecnologia intervêm junto aos poderes locais de maneira tão agressiva, freqüente e aparente, não podemos confiar em nenhuma opinião das massas que consomem obras de arte. assim como não podemos confiar naqueles que produzem obras de arte (!). naturalmente, também não se pode confiar na obra de arte.
em suma, não podemos confiar no produtor, no consumidor ou no produto.