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Texto de curadoria 1994

Rob Rombout é considerado um dos documentaristas mais originais da Europa. Nasceu em Amsterdam, em 1953, e sendo holandês como Jori Ivens, reteve de seu famoso precurssor a noção de dramatização da realidade na construção de documentários. Rombout formou-se pela RITCS, conhecida universidade de cinema de Bruxelas, cidade onde mora e ensina nas escolas de St. Lukas e INSAS; também é professor colaborador na Universidade de Paris VIII e na ONM, esta na Holanda. Foi diretor da TV Educativa de Liège entre 1982 e 1988 e começou a dirigir documentários para a BRT - Rádio e Televisão Belga, e para o Canal Emploi.

Os primeiros filmes que realizou eram uma tentativa de conter os rumores correntes sobre o mundo dos desempregados e optou depois pelo vídeo de autor, que era a grande onda da época e possibilitava-Ihe ser, sozinho, o mestre de montagem. Afirma, porém, que sente-se bem mais perto dos documentaristas em 16 mm do que dos artistas da videoarte, mas deve-se considerar que o vídeo oferece segurança e a confiança necessárias para os iniciantes. A sua escolha de privilegiar o caráter social dentro da realidade e decorrente de sua paixão pelos indivíduos, algo mais isolado e particular do que o interesse por um problema social propriamente dito. Suas imagens de homens à margem lutando com dignidade contra a crueldade social são tocantes. Apesar de sua humanidade, Rombout afirma que uma das características necessárias ao cinema social é a ausência da afetividade e um recuo em relação aos personagens - resultantes de uma lucidez, não da indiferença - pois o diretor não deve aproximar-se a ponto de se contagiar por um entusiasmo excessivo, o que o faria perder a transparência das situações e a relação autêntica com seus personagens. O filme está em função da ideologia do diretor, mas deve haver um esforço para que isto só apareça como sugestão, de maneira que o convite à reflexão substitua uma explicação evidente.

Os personagens de Rombout vivem unicamente no presente, como se a realidade fosse constituída somente da imediatez desse momento; deixar a curiosidade sempre ligada, presa à atmosfera global, é também uma maneira de se evitar o tédio, com o jogo da descoberta progressiva integrando-se na construção geral do filme. E o diretor costuma dizer que ao se deixar os elementos na sombra, pode-se escapar de um eventual revés. Sua obra progride por toques sucessivos, à maneira dos expressionistas, expondo não a verdade mas a expressão imediata - e, portanto, arbitrária - dos sentimentos; caminha sempre do geral para o particular, do sujeito global ao personagem, havendo uma coerência entre a primeira impressão e a totalidade do filme. Tudo é planificado desde o começo, Rombout desenha todos os planos preliminares, o que lhe permite reunir em sequência os elementos que faltam para manter a coesão e a precisão do conjunto. Pas de Cadeau pour Noël é um exemplo conhecido, que segue uma estrutura aritmética de subdivisôes em eixos que se multiplicam a sua volta; as dicotomias passado/presente, dia/noite, vida social/vida real correspondem às diferentes lógicas da existência dos personagens.

Para Rombout, a realidade importa mais do que a ficção, portanto seus projetos para um futuro próximo estão ligados a realização de filmes educativos; mas, como gosta de misturar os gêneros, diz que talvez inclua neles um toque humorístico.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "10º Videobrasil: Festival Internacional de Arte Eletrônica": de 20 a 25 de novembro de 1994, São Paulo-SP, 1994.