O renomado artista inglês apresenta-se pela primeira vez no Brasil com uma obra inédita, Ich Tank.

A mostra de vídeo de David Larcher apresenta uma das obras mais instigantes da videoarte produzidas atualmente. O artista inglês, nascido em Londres, em 1942 é considerado, através de seu trabalho polêmico e poético, um dos mais virtuosos criadores do universo internacional do vídeo.

Larcher formou-se em Arqueologia e Antropologia pela Universidade de Cambridge, Inglaterra. Apesar disso, em 1960, começou a trabalhar como fotógrafo e, em 1964, completou pós-graduação em Filme e Televisão no Royal College of Art, em Londres. Desde 1983, Larcher mora em Köln, na Alemanha, onde é professor na Academy of Media Arts.

Sua carreira em vídeo e cinema já se extende por mais de 20 anos, destacando-se a produção de uma longa série de filmes épicos experimentais e uma grande quantidade de trabalhos para a TV broadcast. Nessa trajetória, teve participação nos festivais mais importantes do circuito do vídeo, acumulando prêmios significativos, o do evento Bonn Videonale, em 1990.

Na mostra do Videobrasil em homenagem ao artista, serão apresentados quatro produções em vídeo que compõe uma visão geral sobre o trabalho de Larcher. Entre elas, se destaca a obra Ich Tank, originalmente produzida em 1983 mas que tem sido atualizada sistematicamente ao longo dos anos. A versão apresentada no Videobrasil é inédita e essa é a primeira vez que Larcher mostra este trabalho para o público latino-americano.

Ich Tank é uma espécie de poema visual propõe conceitos e idéias através dos possíveis significados da palavra Ich (eu, em alemão) e derivações de seus sentidos em inglês. Além disso, concentra-se nas formas e procedimentos da psicoanálise, influenciado pelas idéias e conceitos de Lacan, que espelha de maneira sútil e subrepetícia.

"Quando morava em Berlim, em 1983, tive problemas com a pronúncia do pronome Ich (eu) e a idéia do vídeo iniciou-se como um inocente jogo de palavras", conta Larcher. "Essa foi a origem do vídeo, a encenação de atos vagamente ichtianos baseado numa série de trocadilhos. Também, de certa forma, a obra aborda procedimentos e formas psicoanalíticas. As idéias lacanianas se infiltram em muito do que o vídeo apresenta. As preposições de Lacan sobre o Símbolico, o Imaginário e o Real se adequam particularmente bem à linguagem do vídeo, enquanto suas fórmulas e diagramas estabelecem analogias visuais. Originalmente, o vídeo foi criado para durar o tempo correpondente a uma hora de análise (50 minutos), que praticamente coincide com a hora de 52 minutos da televisão. No entanto, o processo de criação acabou se tornando mais importante do que o formato pretendido. A sessão ficou mais longa. Da mesma forma, a versão atual do vídeo está em contínuo processo de criação. Novas versões são produzidas como e quando a oportunidade aparece. Ninguém nunca terá certeza qual Ich está vendo. E mesmo eu não posso dizer exatamente qual versão está passando. O título de uma dos últimos escritos de Freud (Analysis terminable or interminable) encontra seus significado prático.Em inglês antigo Iche significa each (cada) e ichon, eache one. Ichor é o o fluído etéreo que se diz circular como sangue nas veias dos deuses".

Também faz parte da mostra o vídeo Granny’s Is, em sua versão mais recente, produzida em 1990. A obra, reforçando uma característica evidente do autor, desenvolve-se na fronteira entre a linguagem e a palavra visual, um video texto único que explora de maneira ímpar os recursos do meio e da imaginação. EETC, produzido em 1986, é outro exemplo do trabalho de Larcher apresentado pela primeira vez ao público brasileiro. Trata-se de um documento visual em que o autor utiliza-se dos recursos típicos do vídeo — imagem, cores, linguagem e música — para obter um resultado instigante, marcado por associações, memórias e fantasias. Um dos E do título refere-se à primeira letra da palavra Elizabetn, nome da irmã de Larcher e uma de suas parceiras.

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