Parte da programação da exposição Panoramas, Deus nos Guiando no Escuro é uma performance concebida por Domenico Lancellotti, com a participação de outros oito artistas que criam música ao vivo guiados por uma sequência de projeções e imagens em looping que reconstroem cidades, fixações e memórias.

Artistas

Obras

Texto de curadoria 2003

D+8 - Deus nos Guiando no Escuro

No teatro escuro (interior de um corpo, caverna, espaço a ser preenchido), 8 + 3 artistas-músicos somam experiências e formam uma espécie de consciência, união de fragmentos de arte, música do coletivo. Quando a performance começa, palco e plateia estão escuros e há apenas indicações luminosas que mostram o caminho até os assentos. A sala aos poucos ganha nas indicações luminosas que mostram o caminho até os assentos. As projeções servem aos músicos como fonte de ideias de caminhos a serem trilhados: movimentos, sonoridade-cor, silêncio e loop tocado (repetição de células musicais simulando o maquinal) em contraponto aos loops de vídeo. A música é criada ao vivo e aproveita todo e qualquer estímulo – musical, visual, teatral. Os músicos se concentram em aspectos dessa convivência: textura, ruídos, dub, canto, desconstrução. A cada participante cabe doar, pelos núcleos instrumentais, forma, cor e tempo, transformando o espaço em uma força audiovisual (áudio + vídeo).

A sequência de projeções e a iluminação que revela palco e músicos guiam o público por uma ordem de acontecimentos. 1. Primeira impressão: as mãos dos músicos se iluminam. No canto superior, abre-se uma janela de luz circular com imagens em que Zoy Anastassakis procura reconstruir a cidade do Rio de Janeiro a partir da memória de pessoas que chegaram, vindas de outro lugar, para ficar. 2. Pele de bumbo: sobre a pele do bumbo da bateria, são projetadas imagens em slide e loops de vídeo referente aos trabalho artístico de Domenico Lancellotti em ordem sentimental, não cronológica: partes de insetos, paisagens mofadas, loops de dança, aparições, monóculos. 3. Bola de goela: em uma mesa, Diego Medida narra textos com dicção de locutor de rádio e projeta, com a ajuda de uma lanterna náutica, ícones gráficos que representam sensações do homem em conflito. No fim da performance, os músicos descem do palco e, com pequenas cestas de palha, recolhem um “dízimo” ao som de “Abelha Rainha”, de Caetano Veloso e Wally Salomão, na voz de Maria Bethânia.

Os participantes do projeto Domenico + 8 moram no Rio de Janeiro e já estiveram juntos em diferentes colaborações artísticas. Domenico Lancellotti, que trabalha mesclando música, pintura, fotografia e objetos, já integrou as bandas Mulheres Que Dizem Sim e criou capas para CDs de Caetano Veloso, Jorge Mautner, MV Bill e Titãs. Os CDs “Sincerely Hot”(2003) e “Máquina de Escrever Música” (2000) são produtos do coletivo musical que forma com o músico e compositor Moreno Veloso e com o artista e produtor musical Alexandre Kassin. Veloso e Kassin estão na performance, ao lado de Bartolo (guitarrista e criador do projeto Duplex), Diego Medina (artista gráfico e colaborador em projetos musicais), Leo Monteiro (baterista solo, já colaborou com Fernanda Abreu, Orquestra Imperial, acaboutequila e outros), e Pedro Sá (guitarrista e baixista, já tocou com Lenine e Caetano Veloso), Quito Ribeiro (músico, editor, roteirista), e Zoy Anastassakis (designer gráfico e autora de capas de disco e cenários para Caetano Veloso, Los Hermanos e MV Bill). 

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "14º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil": de 22 de setembro de 2003 a 19 de outubro de 2003, p. 168 a 169, São Paulo, SP, 2003.