Curadoria convidada |

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Texto de curadoria Gabriel Soucheyre, 2003

Presença Francesa no Videobrasil

Festejar os 20 anos de uma estrutura como o Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil é — tendo chegado a um certo ponto — voltar seu olhar para sentir o caminho percorrido, mas também verificar o estado das coisas. A temática desta 14ª edição é a nota de intenção, a declaração de induzir um debate de idéias que agitam, fazem e desfazem nosso mundo neste início de milênio. Os artistas, assim como os filósofos, os cientistas, os homens políticos ou os simples cidadãos, enriquecem esse debate, e a diversidade de suas trajetórias e origens é a garantia de que isso aconteça.

Fui solicitado a fazer uma seleção bastante particular: a escolha de ir ao reencontro de alguns artistas franceses que estiveram presentes nas edições do Festival: uma espécie de estado de lugares, uma constatação, através de suas produções mais recentes, da vivacidade e da evolução de idéias e de formas.

Em 20 anos, é forçoso constatar que um bom número desses artistas “desapareceu” da cena do vídeo contemporâneo. Certamente o vídeo se tornou um instrumento banal na paleta de mídia disponível para o artista contemporâneo. Os artistas que eu finalmente selecionei não somente inscreveram seu nome na história da videoarte na França, como todos eles também partilham um gosto permanente e renovado por uma forma de experimentação, uma pitada de risco como um estado que os guia numa busca constante, seja ela artística, estética, filosófica ou política.

Não é, portanto, surpresa reencontrar um artista “incontornável” como Robert Cahen. Em seu trabalho mais recente, “L’Étreinte”, ele aparece mais do que nunca como o magnífico “escultor do tempo” que conhecemos, fazendo uso de uma imagem quase abstrata para abordar os temas essenciais — o amor, a morte, o prazer. Esses temas encontram um prolongamento no vídeo de Jean-Louis Le Tacon, que consegue nos fazer tocar com os olhos a sensualidade erótica em forma de imagem, imagens de corpos, ou ainda nas novas experiências de Alain Bourges em “Pamela”, um espetáculo de imagens e música improvisada. Também há música para ver em “Staber Mater”, de Christian Barani, que evoca uma pintura em movimento.

Em forma de piscadela, a presença de um grande poeta — e grande cozinheiro —, Michaël Gaumnitz, o virtuose da paleta gráfica, nos entrega uma receita culinária de avó para saborearmos.

Jean-Paul Fargier não poderia estar ausente dessa seleção, esse homem que tudo diz, faz, prevê e mostra no vídeo; ele retoma para nós sua câmera de artista (daqui para a frente ele vai consagrar a maior parte de seu tempo a filmes sobre arte).

Por fim, Jérôme Lefdup, cuja produção tão rica e variada faz com que há muito tempo pareça ser herdeiro de Méliès. Acima de tudo ele é um infatigável globe-trotter, um viajante no mundo da imagem em movimento, um dos que não abandonaram a idéia de que a televisão pode ser um espaço de criação, e que prova isso.

Tendo apresentado uma nova geração de videoartistas franceses na última edição do Videobrasil, pareceu-me impensável concluir esse programa senão saudando as novas gerações com Valérie Pavia, um olhar fino e desarmado, e Pascal Lievre, a provocação salvadora.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "Deslocamentos - 14º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil": de 22 de setembro de 2003 a 19 de outubro de 2003, p. 200 e 201, São Paulo, SP, 2003.