Memórias Inapagáveis > Statement de Danilo Santos de Miranda

A arte contemporânea observa os vários domínios da ação humana e reafirma, por meio de suas proposições, sua condição de imersão. Nesse sentido, não há arte e mundo, mas arte no mundo, o que significa que a prática artística é atravessada pelos vetores políticos, sociais e éticos que caracterizam cada contexto. A exposição Memórias Inapagáveis opera segundo essa compreensão, sugerindo reflexões acerca das possibilidades artísticas atuais.

A curadoria de Agustín Pérez Rubio enfatiza um aspecto que distingue a ação do artista: o ponto de vista a partir do qual ele se expressa, como avesso do discurso técnico especializado, é dinâmico e não se deixa fixar. Perspectivas múltiplas, reunidas nesta exposição, têm como motivos as formas históricas de dominação e resistência que ocorrem, há séculos, no Sul geopolítico.

Propor ao público contato com as conexões entre a arte e a história humana é um intuito que aproxima Sesc e Videobrasil, como tem ocorrido há anos. Trata-se de desconfiar da ideia de que as manifestações culturais possam ser pensadas descontextualizadas de seus presentes espessos, ou seja, dos presentes concebidos como plenos de tempos pretéritos.

Somos e não somos resultado das narrativas de conflitos que nos antecederam – aqui, residem o componente negativo e o positivo da liberdade. A arte, ao vitalizar passados mais remotos e mais imediatos, é uma aposta na liberdade, já que endereça perguntas ao futuro. É precisamente na implicação entre arte e ação livre que Memórias Inapagáveis se apresenta. Aos públicos, cabe tomar parte ou não nesse diálogo, averiguando se esses movimentos lhes dizem respeito.