Memórias Inapagáveis > Statement de Solange Farkas

A exposição Memórias inapagáveis se integra a um conjunto crescente de estratégias pensadas para manter o acervo da Associação Cultural Videobrasil ativo e em contato com o mundo. Das 3 mil obras que compõem a coleção, a maior parte passou pelas mostras competitivas do Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, a partir dos anos 1980; outras foram doadas por artistas que consideraram importante ter seu trabalho representado nela; outras, ainda, são registros, performances, entrevistas e documentários produzidos pela instituição.

Embora incorpore clássicos da videoarte internacional, a grande força do Acervo é reunir a memória da produção audiovisual do Sul geopolítico do mundo, foco da mostra Panoramas do Sul: América Latina, África, Leste Europeu, Ásia e Oriente Médio.

A importância desse conteúdo em expansão e a necessidade de preservá-lo foram fatores que pesaram na decisão de criar a Associação Cultural Videobrasil, há vinte anos. Manter atualizado o aparato técnico necessário à conservação de um acervo dessa natureza é um desafio constante, mas a coleção impõe à instituição uma questão ainda mais central: como colocar essas obras em diálogo com a produção artística contemporânea, e ao alcance de quem pesquisa e pensa sobre ela?

Em resposta, temos concentrado esforços para produzir, em torno das obras do Acervo, uma trama sofisticada de conteúdos relacionados, como referências e textos críticos – por meio, por exemplo, da plataforma:vb, ferramenta on-line de pesquisa e exercício curatorial construída a partir da coleção. A esse trabalho, soma-se o exercício constante de lançar novos olhares para as obras.

A exposição Memórias Inapagáveis assim como as ações de ativação concentradas no espaço Zona de Reflexão surgem na perspectiva de explorar o enorme potencial do Acervo para alimentar projetos curatoriais e de pesquisa. Curador-chefe por dez anos do Museu de Arte Contemporânea de Castilha e León (MUSAC), e recém-nomeado diretor do MALBA, em Buenos Aires, Agustín Pérez Rubio encontrou na coleção obras que, embora produzidas em regiões diversas e ao longo de trinta anos, preocupam-se, todas, em resgatar do apagamento memórias incômodas de conflitos, perseguição e violência.

Primeira experiência envolvendo o Acervo Videobrasil e um curador convidado, Memórias Inapagáveis seguirá em itinerância, entre 2015 e 2016, por instituições da Europa, África e América Latina, começando pelo MALBA (Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires, Argentina) e o marco (Museo de Arte Contemporánea de Vigo, Espanha). A exposição não poderia ser melhor exemplo do potencial da coleção – o que equivale a dizer, dos artistas do Sul geopolítico – para alimentar o debate sobre as relações entre produção artística e a realidade contemporânea.