A experimentação formal e a pesquisa conceitual sempre fizeram parte do universo eletrônico. Essa experimentação está na base da potência de invenção e diversidade próprias da arte eletrônica, que se recria constantemente. Investigações Contemporâneas reúne trabalhos que, de alguma maneira, lançam novas inquietações sobre os processos de produção audiovisual, em suas dimensões técnica, discursiva, estética e política. As obras participam de processos intensos de pesquisa e procuram ampliar os limites das linguagens com as quais experimentam. São como laboratórios que exploram novos conceitos e pensamentos, bem como experiências arriscadas que apontam para os futuros desdobramentos e expansões da arte eletrônica.

Artistas selecionados

Obras selecionadas

Prêmios e menções

Membros do Júri

Projeto de troféu

Para criar o troféu do Festival, o artista Luiz Zerbini baseou-se livremente em sua obra Atlântico (2004). Um dos artistas que despontaram na década de 80, Zerbini integra o grupo Chelpa Ferro e desenvolve sua linguagem na utilização diversificada de mídias como vídeo, escultura, fotografia, música, desenho, pintura, arte gráfica, ambientes e instalações.

Statement do Júri

O júri de premiação do 15º Festival Internacional de Arte Eletrônica – Videobrasil, segundo a proposta da mostra Panoramas do Sul e levando em consideração a capacidade de apresentar a potencialidade da criação eletrônica em trabalhos que de alguma maneira lançam novas inquietações sobre os processos de produção audiovisual em suas dimensões técnica, discursiva, estética e política, atribui o Prêmio Investigações Contemporâneas, correspondente ao segundo dos três eixos desta edição do Festival, ao trabalho Roger, de Federico Lamas, por seu tratamento narrativo cinematográfico, por sua experimentação na criação e estabelecimento dos planos e por sua propriedade no uso do som e luz.

Setembro de 2005,

Marcos Moraes, Sergio Edelsztein e Ximena Cuevas

Texto da comissão de seleção 2005

Panoramas do Sul

Cartografar a produção audiovisual recente, alimentar circuitos e, principalmente, favorecer a troca, o diálogo e a interseção: estes intuitos movem a mostra Panoramas do Sul. São trabalhos produzidos por artistas dos países do eixo sul de um mapa ao mesmo tempo geopolítico e simbólico. De um lado, revelam um recorte possível – sempre instável e circunstancial – da dinâmica produção artística desenvolvida entre 2003 e 2005. Por outro lado, possibilitam leituras transversais da complexa realidade contemporânea, das relações culturais e intersubjetivas que nela se estabelecem, das implicações midiáticas e das inúmeras políticas de apropriação do tecnoimaginário atual. A seleção é nossa contribuição crítica ao universo da arte eletrônica, na medida em que traduz um olhar sobre a criação. Esse olhar – que é também uma criação – permite perceber linhas de força, movimentos emergentes, inventividades e, o mais importante, colocar essas percepções em discussão. Pensando nisso, a comissão de seleção e programação do 15º Videobrasil aprofundou uma proposta que já se esboçava na edição anterior do Festival, e dividiu a mostra em eixos: Estado da Arte, que reúne exemplos de maturidade artística no uso das mídias eletrônicas; Investigações Contemporâneas, com obras que buscam ampliar os limites das linguagens; e Novos Vetores, composta da produção de jovens realizadores. Longe de fixar hierarquias, a divisão busca aproximar experiências e criar um mapa mais “inteligível” e uma topologia aberta a uma multiplicidade maior de trabalhos.

RETOMADAS E DESVIOS

Como não poderia deixar de ser, em um território mutante como o da arte eletrônica, a cada ano, o panorama da produção do eixo sul apresenta surpresas e inesperados desvios de percurso. O diálogo dos artistas com a tradição das artes audiovisuais, longe de ser contínuo e homogêneo, se dá por descontinuidades e retomadas em um movimento imprevisível, de difícil síntese. A mostra competitiva do 15º Videobrasil reafirma essa idéia. Tentar mapear as linhas de força da produção recente é traçar percursos que são mesmo enviesados: em interação não apenas com sua própria história, mas também com a herança de outros campos de criação artística – do quadrinho às artes performáticas, passando pelo design, a literatura, a música e as artes plásticas – os artistas acabam por fazer combinações inauditas, levando a produção em arte eletrônica a novos estados, novas investigações e novos vetores.

DESLIMITES

É sempre inevitável para o artista interrogar-se sobre a identidade da linguagem que utiliza, sobre aquilo que a distingue de outras. Mas a mesma consciência que permite a busca dessa especificidade revela os caminhos para sua transgressão. O universo eletrônico se desenvolve num momento de expansão das linguagens artísticas e, rapidamente, a preocupação dos criadores deixa de ser a demarcação de um território próprio para se tornar um esforço na constituição de diálogos. Transgredir uma fronteira significa por vezes reforçar ainda mais o seu traçado, colocar os obstáculos em evidência para dar o devido valor à superação. Atualmente, parece haver um princípio de liberdade que não obriga à afirmação da especificidade do vídeo, mas menos ainda à sua negação. O que se percebe é um trânsito mais espontâneo entre o vídeo, a televisão, o cinema, a fotografia, a performance e a pintura, mas também entre o digital e o analógico, o plástico e o conceitual, o documental e o ficcional. Não são apenas interações conquistadas pela diplomacia entre os territórios. Alguns artistas simplesmente já não reconhecem as fronteiras e, assim, não vêem sentido em oficializar o momento de uma passagem. Nesse processo, mantêm o desafio político dos deslocamentos, mas, talvez, de forma ainda mais livre e subversiva, porque não negociam o trânsito, apenas ignoram os limites.

NARRATIVAS DESLOCADAS

Historicamente, a arte eletrônica se mostrou resistente às narrativas estáveis, marcadas por uma sintaxe linear. Por motivos diversos, a trajetória histórica da videoarte destacou trabalhos que se estruturam em narrativas mais abertas, associativas e fragmentárias. Essa tendência parece derivar de um conjunto de heranças advindas do cinema das vanguardas históricas e do cinema experimental que se articularam em torno do vídeo de forma a potencializar o caminho aberto pelos pioneiros. Nesse sentido, as narrativas mais típicas da videoarte são caracterizadas como espaços de experimentação e de polissemia. No entanto, a natureza camaleônica da arte eletrônica e a inquietude dos artistas levam a produção a outras paragens. Surgem obras que, sem abrir mão das experimentações formais, se lançam no âmbito das narrativas, à primeira vista, mais convencionais. Como sempre, esses processos de assimilação e fusão não são calmas transições, mas sim potentes esgarçamentos que acabam por enfraquecer aspectos e fortalecer outros. Nesse processo, imagens e sons são combinados em narrativas inusitadas que não se restringem mais à típica descontinuidade do vídeo e nem à estrutura estável ligada ao cinema de matiz clássico. O que deriva daí são narrativas que flertam com a linearidade, mas provocam pequenos e intensos deslocamentos, criando um espaço ambíguo entre a tradição audiovisual e sua apropriação nada ingênua pelos artistas.

ARQUIVOS REINVENTADOS

O mesmo acontece no campo do documentário experimental, que se amplia a cada edição do Festival. Em intenso diálogo com a tradição desse gênero, vários realizadores aproximam a produção documental de outros discursos. O documentário experimenta uma abordagem subjetiva, própria do estranhamento, tratando de questões sociopolíticas complexas por um viés pessoal. O audiovisual é visto como um território aberto ao exercício de uma espécie de política da subjetividade, na qual a experiência pessoal se conecta ao mundo e seus movimentos geopolíticos mais amplos. A tradição do documentário se torna, em muitos casos, uma matéria-prima passível de todo tipo de plasticidade e recombinação. Algumas de suas estratégias são revigoradas: o uso de material fotográfico de arquivo; a voz em off; a argumentação de viés político e tom contundente; os diálogos expressivos com a televisão em suas relações ambíguas de factualidade e ficcionalidade. Nesse âmbito, é sintomático o modo como muitos artistas recorrem a acervos de imagens documentais constituídos em contextos familiares, científicos, jurídicos. Diante do gigantesco repertório audiovisual à nossa disposição, permanece a necessidade de associar a imagem a um discurso, para devolver-lhe alguma vitalidade. Isso pode ser feito através de um resgate das referências históricas, mas também por meio de uma memória inventiva, isto é, de apropriação na forma de ficção. Alguns trabalhos mostram a angústia da dissolução de biografias e identidades. Outros constatam, com ironia, que o que resta é apenas o estereótipo de uma composição, que reduz o indivíduo singular a uma categoria. Mas recorrer aos arquivos não é apenas revirar o passado que foi alvo do registro. Há também o pensamento de quem o constituiu e o ordenou, pois não existe uma forma natural de acumular imagens, a não ser dentro da expectativa sempre fracassada de acumular todas as imagens. Assim, o que se oferece à leitura não é apenas o passado, mas os outros tantos olhares que já se lançaram sobre ele, criando novas zonas de foco e desfoque que, em parte, garantem sua sobrevivência e, em outra parte, decretam sua morte. A utilização do material de arquivo é uma estratégia subjetiva, estética e, ao mesmo tempo, ético-política.

TÁTICAS E PERFORMANCES

O viés mais marcadamente político da produção, que apareceu de forma tão explícita no 14º Videobrasil, ainda é perceptível. Parece mesmo ter havido uma ampliação e, poderíamos dizer, um amadurecimento dos trabalhos de intervenção estético-política, através do uso tático das mídias eletrônicas. Essa tendência, aliás, pode ser percebida como um eco, em novo contexto e por meio de estratégias renovadas, dos primórdios do vídeo, quando este se mostra uma poderosa linguagem para a crítica às instituições e aos totalitarismos de toda ordem. Os primórdios da arte eletrônica, assim como sua vocação política, ecoam também na retomada (e reinvenção) da performance, esta que, sabemos, motivou muitos dos pioneiros da videoarte. Mas, agora, mais do que nunca, a performance e sua tradução são intensamente transformadas, segmentadas, recombinadas através das técnicas de edição digital. À ação performática se acrescentam “performances” próprias da linguagem eletrônica potencializada pelo digital.

DESACELERAÇÕES

A produção atual revela ainda uma tendência algo paradoxal no uso dos recursos possibilitados pelas plataformas digitais. Se as experiências com o fluxo da edição, a fragmentação e a sobreposição permanecem inesgotáveis em suas possibilidades, sua contrapartida se faz cada vez mais presente. Muitos trabalhos têm explorado a desaceleração do movimento e a permanência da imagem na tela, numa duração às vezes desconcertante. Tira-se proveito de um modo de olhar construído pela tradição das imagens fixas, mas não apenas para travestir o vídeo de fotografia. Esse “retard” traz suas próprias questões e desvenda outros movimentos: os processos caóticos do mundo que revelam alguma ordem quando desacelerados; os pequenos deslocamentos para os quais nossa percepção já não parece ter sensibilidade; a vibração da imagem em sua própria trama eletrônica; o trajeto do olhar do espectador que pode descobrir o espaço em torno da tela enquanto a imagem permanece; por fim, o trânsito de idéias que podem ser articuladas pelo pensamento e rearticuladas à imagem que espera para acolhê-los. Há aqui um novo tipo de pregnância, não a que permite criar a ilusão de continuidade do movimento, mas a que dá à imagem certa espessura. FAGOCITOSE Fluidez e continuidade, mas também tensão, desgaste, desvio. Mais uma vez a produção artística ligada aos suportes eletrônicos e digitais nos surpreende com sua força de se renovar, de “fagocitar” e inventar territórios possíveis. Parece mesmo que a única característica comum a essa diversidade é a abertura para incorporar metamorfoseando, acelerar diálogos tensionando-os, tangenciar, atravessar percursos, desviando-os. Nesta 15ª edição do Videobrasil, como um novo mapa de experiências e em leituras transversais da realidade contemporânea, o meio eletrônico traduz o mundo atual em seu retorno à construção: de forma nãocanônica, como sempre, porém consciente de suas contaminações em diferentes contextos estéticos, bem como de suas estratégias políticas e performáticas de produção artística.

Comissão de seleção e programação: André Brasil, Christine Mello, Eduardo de Jesus, Ronaldo Entler e Solange Oliveira Farkas

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil - 'Performance.'": de 6 a 25 de setembro de 2005, p.24 -27, São Paulo-SP, 2005.

Texto da comissão de seleção 2005

Com uma trajetória investigativa inquieta, motivada, desde os anos 1980, principalmente pela constante pesquisa em torno às questões do corpo e das linguagens eletrônicas, a obra de Luiz Duva é marcada por uma série de experimentações e mutações, o que torna seu percurso extremamente inovador e imprevisível. Há, no entanto, uma inegável coerência em seu processo criativo, garantida por preocupações estéticas quem permanecem: as articulações inusitadas entre som e imagem e a reinvenção dos processos de edição, esta que, em um primeiro momento é operada por meio de mecanismos construtivos e formais relacionados ao ritmo, à fragmentação e à ficcionalização, e nos últimos tempos é operada por meio de mecanismos desconstrutivos e informais relacionados ao acaso e ao improviso, inerentes à manipulação em tempo real, ao vivo, no momento mesmo de suas performances eletrônicas e minimalistas.

Transitando entre espaços os mais variados, desde galerias de arte e festivais de vídeo, até os ambientes da cena eletrônica, o trabalho de Duva é uma prova de dinamismo e fluidez da produção contemporânea, esta que não se deixa enquadrar em categorais estanques.

Vale ressaltar ainda uma atenção especial às ambientações audiovisuais, no sentido de se buscar uma experiência sensória múltipla e sinestésica, em que a imagem, entre outtras articulações, possui a capacidade de produzir o som.

Das narrativas descontínuas do início de sua carreira às atuais performances de live image (ou imagens vivas, como ele costuma denominar), Duva retoma agora um diálogo instigante com a pintura, em sua obra "Tríptico: Estudo para auto-retrato 1", apresentada nesta 15edição do Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil.

O Le Fresnoy, centro de produção, pesquisa e pós-graduação na cidade de Tourcoing na França, caracteriza-se pela ênfase na ruptura com as fronteiras entre as mídias e linguagens audiovisuais. O prêmio de residência concedido por três meses nesta instituição permitirá ao artista apoio logístico e acesso a todas as atividades do centro, além de recursos técnicos para a produção e finalização de uma obra audiovisual inédita.

São Paulo, 18 de Setembro de 2005,

André Brasil, Christine Mello, Eduardo de Jesus e Solange Oliveira Farkas

Texto de curadoria 2005

Prêmios

Seis distinções estão reservadas a obras da mostra competitiva Panoramas do Sul. Cada um de seus três segmentos será contemplado com um prêmio em dinheiro e um prêmio residência. Os prêmios em dinheiro serão atribuídos pelo júri oficial. Os prêmios residência serão concedidos a critério do Festival. Fruto de parcerias com escolas de arte e centros de mídia no Brasil e na Europa, os prêmios residência prevêem, cada um, a realização de uma obra de arte audiovisual, que levará a chancela do prêmio e será exibida pela primeira vez no Festival seguinte à premiação. A iniciativa de oferecer bolsas de trabalho se alinha com o objetivo da Associação Cultural Videobrasil de estimular a produção audiovisual do circuito sul. “Ao permitir a realização de obras, elas reforçam nossa idéia de minimizar o caráter de efemeridade do Festival, fazendo com que ele contribua para o intercâmbio, para o incentivo à pesquisa e para a constituição de um acervo”, diz a curadora Solange Oliveira Farkas.

Prêmio Faap de Artes Digitais

Ao longo de seus quase 60 anos, a Fundação Armando Alvares Penteado vem se consolidando como celeiro da produção artística contemporânea no Brasil. Mais do que uma escola de arte nos moldes tradicionais, sua Faculdade de Artes Plásticas se caracteriza pela ênfase na pesquisa e na formação de profissionais permanentemente inseridos nas discussões das práticas artísticas contemporâneas. A FAAP é berço de talentos reconhecidos nacional e internacionalmente, como Carmela Gross, Leda Catunda, Dora Longo Bahia, Sérgio Romagnolo e Caetano de Almeida. Parceria com a Associação Cultural Videobrasil, o Prêmio FAAP de Artes Digitais oferece a um jovem realizador brasileiro, participante do eixo Novos Vetores, um curso de quatro a seis meses na instituição e a oportunidade de realizar um trabalho audiovisual nos laboratórios da universidade, sob a orientação de um professor de seu corpo docente. A obra integrará a exposição anual de trabalhos de alunos. “A FAAP tem como objetivo amparar, fomentar e desenvolver as artes plásticas e cênicas, a cultura e o ensino. É um espaço de incentivo aos processos de pesquisa e experimentação artística”, diz Marcos Moraes, coordenador do curso de Artes Plásticas. “A criação do prêmio, junto a um dos mais importantes festivais de arte eletrônica do mundo, enquadra-se neste objetivo.”

Prêmio de Criação Audiovisual Le Fresnoy - França

O Le Fresnoy – Studio National Des Arts Contemporains é um centro de produção, pesquisa e pós-graduação em arte audiovisual que capacita jovens artistas a produzir trabalhos com equipamento profissional, sob a direção de artistas consagrados. Concebido e dirigido por Alain Fleischer, foi inaugurado em 1997 em Tourcoing, norte da França, e já teve Jean-Luc Godard, Gary Hill e Antoni Muntadas como professores convidados. A ênfase de seu trabalho está na ruptura das barreiras entre mídias e linguagens audiovisuais tradicionais e eletrônicas. Destinado ao eixo Investigações Contemporâneas, o Prêmio de Criação Audiovisual Le Fresnoy - França é oferecido desde 2003 pelo Consulado Geral da França em São Paulo, pela Aliança Francesa de São Paulo e pelo Le Fresnoy – Studio National Des Arts Contemporains. Dá a um artista acesso por três meses às atividades do centro, além de apoio logístico e meios técnicos para a produção e pós-produção de uma obra audiovisual.

Prêmio Videobrasil de residência no Gasworks

Localizadas no Oval Cricket, sudeste de Londres, as instalações do Gasworks comportam uma galeria e 15 estúdios, três deles reservados para o Programa de Residência Internacional, que permite a artistas estrangeiros morar e trabalhar em Londres por períodos de três meses ou mais. As residências incluem um programa educacional e social, que culmina no Open Studio, exibição na qual membros da comunidade artística são convidados a conferir os trabalhos realizados durante a residência. Desde a sua inauguração em 1994, o Gasworks já recebeu mais de 100 artistas de 50 países. O programa de residências estabeleceu-se firmemente na cena artística londrina por sua contribuição em promover a diversidade cultural e o intercâmbio artístico internacional. Em parceria com o Gasworks, o Festival oferece ao autor de uma obra do eixo Estado da Arte uma residência de três meses nos ateliês da instituição, com acesso a equipamentos, verba para desenvolver um projeto e facilidades de pós-produção. Para o artista premiado, é uma oportunidade real de inserção em um circuito de grande visibilidade. O Gasworks é dirigido por Robert Loder e, assim como a Associação Cultural Videobrasil, integra a rede de instituições apoiadas pelo Prince Claus Fund holandês. Troféu Para criar o troféu do Festival, o artista Luiz Zerbini baseou-se livremente em sua obra “Atlântico” (2004). Um dos artistas que despontaram na década de 80, Zerbini integra o grupo Chelpa Ferro e desenvolve sua linguagem na utilização diversificada de mídias como vídeo, escultura, fotografia, música, desenho, pintura, arte gráfica, ambientes e instalações.

“Filme de Guerra”: primeiro Prêmio de Criação Audiovisual Le Fresnoy - França

Programado para abrir a mostra Panoramas do Sul, “Filme de Guerra”, do paulistano Wagner Morales, é a primeira obra que resulta de um prêmio residência concedido pelo Videobrasil. Morales conquistou o Prêmio de Criação Audiovisual Le Fresnoy - França em 2003, com o vídeo “Ficção Científica”. Realizou “Filme de Guerra” dentro do centro de mídia francês, ao longo de uma residência de três meses, em 2004. Nesse período, teve acesso aos laboratórios e conferências do Le Fresnoy, além da orientação dos professores convidados da instituição. “Pela primeira vez, pude passar três meses mergulhado em um trabalho”, diz. Formado em antropologia, Morales produz vídeos e instalações desde 1998. A nova obra dá seqüência à série “Vídeo de Cinema”, na qual se dedica a desconstruir clichês de gêneros cinematográficos clássicos. São fruto da mesma pesquisa “Filme de Horror” (2003) e “Cassino: Filme de Estrada” (2003). Todos partem da identificação do que Morales chama o “clichê-matriz” de cada gênero. Transposta para um contexto absolutamente diverso, essa célula serve de princípio para o novo filme. “Nos filmes de guerra, este clichê básico é a espera. Pelo inimigo, pela carta de casa.” Os arredores do Fresnoy contaminaram a pesquisa: o centro fica a três horas da Normandia, palco do desembarque aliado na Segunda Guerra Mundial. Aviões, áreas isoladas e ruínas de construções militares pontuam os movimentos do vídeo, ao som de fragmentos de sinfonias de guerra e de um diálogo de “Tempo de Guerra” (“Le Carabiniers”), de Jean-Luc Godard. Ao compor a “presença material” de uma paisagem tornada angustiante pela guerra, o autor constrói uma pensata quase sem palavras sobre incomunicabilidade e militarismo.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil - 'Performance.'": de 6 a 25 de setembro de 2005, p.88-91, São Paulo-SP, 2005.