• Observatório do Sul | Primeira sessão 
Foto: Sarah Heuberger, Goethe-Institut

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Observatório do Sul 1 | Contranarrativas

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postado em 27/05/2015
Primeiro encontro do projeto que aquece a programação de Seminários do 19º Festival discutiu a noção de "Contranarrativas" com a presença de pesquisadores convidados e selecionados via convocatória pública

Realizada no dia 22 de maio de 2015, no Goethe-Institut de São Paulo, a primeira sessão do Observatório do Sul — projeto de pesquisa acerca do Sul Global e seus usos nas artes e ciências sociais — teve como eixo norteador a noção de “Contranarrativas”. Entendido como um projeto crítico ou um dispositivo discursivo que merece ser discutido de uma forma mais especulativa e, portanto, menos pré-definida, o debate em torno do Sul procurou se desvincular de geografias fixas a fim de abraçar, mais amplamente, territórios simbólicos, políticos e/ou históricos. Observatório do Sul é uma plataforma de estudo e debate que integra o 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Panoramas do Sul e o projeto Episódios do Sul, realizado pelo Goethe-Institut. Ao todo, o Observatório vai promover, até agosto, quatro encontros direcionados pelos eixos temáticos que compõem uma antologia de textos a ser lançada em outubro de 2015, como parte das publicações do 19º Festival, alimentando os Seminários que integrarão os Programas Públicos do evento.

Com curadoria de Sabrina Moura e participação de Amy Buono (historiadora da arte, UFRJ/UNICAMP), Marcelo Rosa (sociólogo, UNB/Universidade da Cidade do Cabo), Pedro Cesarino (antropólogo, USP) e Kelly Gillespie (antropóloga, Universidade de Witwatersrand), o primeiro encontro do projeto contou ainda com a colaboração de quatro pesquisadores selecionados via convocatória — Alex Flynn, Cristina Bonfiglioli, Marina Guzzo e Nathalia Lavigne – e membros das equipes do Goethe-Institut e Videobrasil — Katharina von Ruckteschell-Katte, Patrícia Qulici e Ruy Luduvice.

As pesquisas de Buono e Cesarino deram início ao programa do dia, orientando os debates para a constituição de ferramentas e metodologias capazes de responder às especificidades da produção artística gestada fora do eixo euroamericano. Ao abordar a coexistência de diversos regimes de historicidade e agenciamentos na produção e circulação de objetos produzidos no Brasil colonial, Amy Buono postulou a ampliação do campo da História da Arte tradicional. Centrada em torno de três tipos de artefatos — bolsas de mandinga, azulejos e a plumária tupinambá —, a historiadora enfatizou em sua análise: “Cada uma dessas formas de arte revela trajetórias que abrangem culturas diferentes, trânsitos entre continentes e períodos”. Cesarino, por sua vez, discutiu as conexões entre Arte e Antropologia, e as contribuições da disciplina para a erosão de uma visão totalizante das teorias ocidentais sobre a arte. Para ele, os diferentes modos de existência que coexistem no Brasil contemporâneo apontam questões fundamentais para a compreensão das relações Sul-Sul.

Para Kelly Gillespie, os aportes desses pesquisadores indicam novas formas epistêmicas que surgem para desestabilizar modos de narrativas ocidentais. “Buscar outras epistemologias nos leva a olhar para outros modos de existências, outros modos de se estar no mundo”, afirma Gillespie. Em um segundo momento, o encontro contou com a presença de Marcelo Rosa (atualmente professor visitante na Universidade da Cidade do Cabo), por meio de videoconferência. Rosa não só ofereceu um contraponto à noção de Sul Global como também problematizou os postulados de certos autores que vêm discutindo as Teorias do Sul, como Jean e John Comaroff, e Boaventura de Souza Santos. Ao discutir os usos e a ocupação da “terra” no Brasil e na África do Sul, Marcelo Rosa convidou o grupo a pensar o Sul a partir da prática, da concretude e da especificidade.

Por fim, as referências trazidas por Buono, Cesarino, Rosa e Gillespie foram colocadas em perspectiva frente às práticas de cada um dos participantes, pondo em evidência o quão escorregadias podem ser as fronteiras epistêmicas de um possível Sul. O que constitui, de fato, um conhecimento local e específico? Como podemos nos aproximar dele? Como podemos nos desvencilhar dos pressupostos teóricos euroamericanos que, por vezes, aprisionam nossas pesquisas? Se podemos gerar teoria a partir do Sul, como podemos utilizá-la efetivamente para produzir conhecimento? Qual o papel do artista nesse fazer? Questões de difícil resposta, que serão retomadas nos próximos encontros do Observatório do Sul. 


Referências:

Laboratório de Sociologia Não Exemplar
JWTC Salon #5