Depoimento 2019
Transcrição de depoimento para a 21ª Bienal
O conceito de “imagem expandida” com que defino as fotografias da série Ousadia, Majestade!, surgiu na tentativa de observar espaços vazios, sociais e políticos, assim como afetivos, através das ausências que eles comportam, isto é, criar uma Imagem da Ausência; uma expansão para além dos limites da visualidade e da materialidade, negando o caráter de registro da fotografia. Os elementos que me interessam capturar são justamente aqueles impossíveis à técnica fotográfica. Uma das maneiras de realizar essa captura foi por uma inversão do procedimento do casal Becher: o elemento fixo e central nos enquadramentos é o corpo morto que, no entanto, não está visível.
Quando penso na questão da prática artística e da fotografia em um ambiente de militância e ações positivas e afirmativas, pergunto-me como se concentrar na atividade de formular as perguntas, resistindo à tentação de apresentar as respostas? Talvez a arte política consiga unir irresponsabilidade teórica e liberdade propositiva com comprometimento afetivo. Uma indagação surgiu nas conversas que tive ao longo da pesquisa e permanece sem resposta: e se isso tudo não passasse de um sonho mau? E, nesse caso, como despertar? Minha prática é uma busca constante por formas de questionar o absurdo.
A experiência cultural reflete essa nação disputando o território em sua profundidade, revelando o viés das lutas sobre ele: a conquista do exótico, dos corpos, do trabalho. A inserção nessa perspectiva histórica é pontuada, no meu caso, por uma ruptura: pelo reconhecimento da impossibilidade de representar a terra, seja pela dimensão do território, seja pela densidade do elemento. Parte de minha prática se tornou uma investigação sobre como enxergar através da opacidade dessa terra multipresente.