No dia 29 de outubro, o quarto e último encontro do Seminário Lugares e sentidos na arte: debates a partir do Sul, organizado por Sabrina Moura, reuniu, em torno do tema Repensar o tempo: arte, silêncios e história, o cofundador da Bienal de Havana e curador do New Museum de Nova York, Gerardo Mosquera (Cuba); o artista, curador e publisher da revista DIK Fagazine, Karol Radziszewski (Polônia); e o jornalista criador e editor da plataforma curatorial e editorial Chimurenga Ntone Edjabe (Camarões).
Com obra e pesquisa voltadas para os arquivos queer da Polônia, seu país natal, e dos países da Europa do Leste e Central, Karol Radziszewski, fundador da revista DIK Fagazine, contou que seu trabalho busca construir uma narrativa histórica de perspectiva queer a partir de seu contexto local. Sua pesquisa partiu tanto de acervos pessoais, que revelavam momentos de intimidade, quanto do “arquivo rosa” mantido pela ditadura comunista polonesa. As pesquisas são utilizadas pelo artista como uma maneira de realizar sua obra, colocando em diálogo diferentes tempos, materiais e linguagens. Criador da revista pan-africana Chimurenga [Espírito de luta], publicada ao longo de sete anos, Ntone Edjabe falou sobre uma série de ataques xenófobos na África do Sul em 2008, que deixou mais de 100 mortos, experiência que o transformou por completo, forçando-o a uma série de considerações que mudaram o caráter de sua publicação. Esta, compreendida como plataforma de reflexão a fim de fomentar espaços de resistência, abandona o formato de revista para adotar o de um jornal literário em vista da produção de conhecimento e de língua, a partir de seus próprios discursos sobre si mesmos, que traduzissem a experiência da crise. Gerardo Mosquera abordou o trabalho da artista cubana Tania Bruguera que, paralelamente à 12ª Bienal de Havana, em protesto à repressão sofrida, realizou outra performance: a leitura de As origens do totalitarismo, de Hannah Arendt, do início ao fim, ininterruptamente. Apesar da proibição, a artista foi para a rua com uma pomba e o livro na mão. Ao ser parada por uma policial, Bruguera solta a pomba, que voou, atingiu a parede e caiu na calçada, e, em seguida, atira o livro contra a parede, dando-lhe a mesma trajetória e destino da pomba. Segundo Mosquera, essa performance na rua foi completada pela repressão policial e sua ação improvisada se tornou um símbolo de liberdade diante da repressão do Estado contra o individuo, criando uma rede de solidariedade dentro e fora do país.
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