Criado em 1983 por Solange Farkas, o Videobrasil foi, ao longo dos anos, consolidando-se como uma plataforma diversificada e múltipla voltada à difusão, fomento e reflexão em torno da produção artística do Sul Global. Realizado pela primeira vez como Festival Videobrasil, com um olhar contestador ainda nos derradeiros anos da ditadura civil-militar que assolou o Brasil (1964-1985), o evento foi inicialmente dedicado à inovadora produção em vídeo que se difundia pelo país.
Após algumas edições anuais, o Videobrasil se consolidou no calendário artístico nacional e passou a ser realizado bienalmente no início dos anos 1990, mesma época em que estabeleceu uma profícua e duradoura parceria com o Sesc-SP. Foi também nesse período que Solange criou a Associação Cultural Videobrasil, dedicada à manutenção e ativação do crescente acervo reunido nos eventos, e estabeleceu um foco mais específico na produção do chamado Sul Global – termo que se refere aos territórios à margem do capitalismo central, localizados principalmente na América Latina, África, Leste Europeu, Ásia e Oriente Médio.
Outro momento importante na trajetória da Bienal Sesc_Videobrasil – que chega agora à sua 22ª edição sob o título “A memória é uma ilha de edição” – foi a inclusão em suas mostras, a partir de 2011, das mais variadas linguagens e suportes artísticos para além do vídeo e da arte eletrônica. Pode-se destacar, também, especialmente em suas últimas edições, um enfoque crescente na produção de populações indígenas do Brasil e dos mais variados cantos do globo.
Seleção via Open Call
A seleção de artistas, feita através de convocatória aberta e realizada por uma comissão formada por curadores convidados, configura-se como estratégia democrática e vital para a Bienal. O Open Call possibilita a construção de um espaço de visibilidade, diálogo e produção de conhecimento sobre a arte produzida nos países contemplados.
Acervo Histórico Videobrasil
Os artistas selecionados com obras em vídeo têm seus trabalhos incluídos no Acervo Histórico Videobrasil, formado a partir dos vídeos selecionados em todas as edições da Bienal. Parte da coleção da Associação, o Acervo Histórico é objeto da política de preservação e salvaguarda da instituição, que garante, ainda, sua promoção e divulgação por meio de ações de ativação permanentes.
Premiação e itinerância
A cada edição, a Bienal concede prêmios em dinheiro e prêmios de residência artística de oito semanas de duração em instituições ao redor do mundo, parceiras do Programa de Residências Videobrasil. Os artistas premiados são indicados por júris formados por nomes importantes no cenário internacional.
Artistas ou coletivos premiados também recebem o Troféu Panoramas do Sul, desenvolvido por artista de renome no cenário nacional. Edições anteriores tiveram a colaboração de Tunga, Luiz Zerbini, Rosângela Rennó, Erika Verzutti, Carmela Gross, Flávia Ribeiro, Efrain Almeida e Alexandre da Cunha.
Difusão e reflexão
Os artistas selecionados para as Bienais têm seus trabalhos difundidos em plataformas digitais de pesquisa, sites, redes sociais da Associação Cultural Videobrasil, assim como em documentários e vídeos para redes sociais produzidos pela organização. A Bienal promove, ainda, programas públicos com conversas, cursos, oficinas e lançamentos de publicações que reúnem os artistas, curadores, críticos, pesquisadores, representantes de instituições e de residências artísticas em torno da reflexão e discussão de temas urgentes relacionados à arte e à cultura.
As publicações bilíngues produzidas pela Bienal incluem textos reflexivos e críticos, imagens das obras e do processo criativo dos artistas selecionados, expandindo os esforços da instituição para além do período de realização do evento, possibilitando, sobretudo, sua circulação internacional. Mais do que o registro da Bienal, essas publicações constituem uma parte importante do projeto curatorial, essencial para que ele alcance seus objetivos de difusão e reflexão em torno dos temas propostos a cada edição.
Videobrasil e Sesc-SP buscam, desta forma, intensificar e ampliar a colaboração entre artistas, povos e culturas, fomentando diálogos e estabelecendo debates horizontais que evidenciem o trânsito de ideias e práticas no mundo contemporâneo. “Sempre foi uma militância nossa tentar criar pontes e redes que possibilitassem o trânsito entre nós, do Sul Global, para que ele pudesse existir sem que os artistas tivessem sempre que ser chancelados pelo Norte”, afirma Solange.
Consciente de que o conceito de Sul Global não é estanque, referindo-se a um território geopolítico em constante transformação, a Bienal também assumiu um importante papel de fomentar o diálogo entre a produção artística do Sul e o trabalho de artistas já consolidados, de diferentes regiões do mundo, tendo apresentado obras de Olafur Eliasson (Dinamarca); Bill Viola, Gary Hill e Coco Fusco (EUA); Peter Greenaway (Reino Unido); Marcel Odenbach (Alemanha); Akram Zaatari (Líbano); Fabrizio Plessi (Itália); Robert Cahen (França); Eder Santos, Chelpa Ferro, Waly Salomão (Brasil), entre outros.