Curadoria convidada |

A Bélgica deve a sua existência a um acordo cujo objetivo era neutralizar conflitos territoriais das potências vizinhas França, Holanda, Inglaterra e Alemanha. É um arranjo artificial, a semente de um confronto entre mundos latino e germânico que subsequentemente desenvolveu-se em um híbrido improvável. Após 170 anos de confronto, conflito e acordo interculturais, a Bélgica cessou há muito de ser artificial. Possui uma história diferenciada. Possui uma cultura madura e distinta que não existiria se não fosse por cidadãos idiossincráticos como Hergé, Magritte, Brel e Broodhaers. No entanto, ainda mais especificamente, sem o “acidente histórico” que é a Bélgica, esta cultura nunca teria visto a luz do dia. A Bélgica híbrida é simplesmente uma cultura anônima e muito viva. O vídeo belga atesta tais fatos. Trata-se de uma arte híbrida onde se encontram as mais diversas formas, abordagens e estratégias. Nem um código nem uma linguagem apropriados foram desenvolvidos. Uma das razões para isso é que a Bélgica nunca teve uma relação fácil com instituições. Já que não há canais específicos de subsídio para esse tipo de atividade - nem centros de produção estatais ou regionais -, a história da produção de vídeo belga, automotivada e renovadora, sempre foi escrita pelos artistas mais aventureiros, de uma variedade de formações. É impossível classificar o vídeo belga em um único tema comum. O programa apresentado, uma seleção representativa de trabalhos produzidos em anos recentes, ilustra esse ecletismo.

A multiplicidade de ligações feitas com outras disciplinas das artes é típica: artes plásticas contemporânea (Albers), dança (De Bemels, Meyer & Schaerf), música eletrônica (Hänzel & Gretzel), arquitetura (D`Haeseleer)...

Uma das cacterísticas da produção belga é o universo particular e inalienável que cada um representa.

Em Lost Nation, Johan Grimonprez ironicamente desafia a noção de globalismo. Em File, Kurt D`Haeseleer destratifica a realidade e evoca a sociedade como um fluxo de matéria-energia. Em Scrub solo 1, Antonin De Bemels arranha e trabalha imagens em câmera lenta do dançarino Bud Blumenthal, como se fora um DJ. Com espelhos móveis Eva Meyer e Eran Schaerf, em Record I love you, jogam códigos espaciais e de vídeo um contra o outro. Se você realmente quer apontar uma característica que ligue toda essa produção, então esta deve ser a rejeição do academismo em todas as suas formas combinadas com um desdém pelos meios de comunicação de massa - frequentemente traduzido em uma sutil perversão de tais meios. Ao destacar-se com suas ideias imaginativas e seu impulso de criação de ideias não convencionais, os videoartistas belgas criaram um labirinto de sobrevivência poética. O vídeo é uma das áreas mais ativas da produção artística na Bélgica da última década. 

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LABIRINTO DE SOBREVIVÊNCIA POÉTICA: VÍDEO BELGA RECENTE

A Bélgica deve a sua existência a um acordo cujo objetivo era neutralizar conflitos territoriais das potências vizinhas França, Holanda, Inglaterra e Alemanha. É um arranjo artificial, a semente de um confronto entre mundos latino e germânico que subsequentemente desenvolveu-se em um híbrido improvável. Após 170 anos de confronto, conflito e acordo interculturais, a Bélgica cessou há muito de ser artificial. Possui uma história diferenciada. Possui uma cultura madura e distinta que não existiria se não fosse por cidadãos idiossincráticos como Hergé, Magritte, Brel e Broodhaers. No entanto, ainda mais especificamente, sem o “acidente histórico” que é a Bélgica, esta cultura nunca teria visto a luz do dia. A Bélgica híbrida é simplesmente uma cultura anônima e muito viva. O vídeo belga atesta tais fatos. Trata-se de uma arte híbrida onde se encontram as mais diversas formas, abordagens e estratégias. Nem um código nem uma linguagem apropriados foram desenvolvidos. Uma das razões para isso é que a Bélgica nunca teve uma relação fácil com instituições. Já que não há canais específicos de subsídio para esse tipo de atividade - nem centros de produção estatais ou regionais -, a história da produção de vídeo belga, automotivada e renovadora, sempre foi escrita pelos artistas mais aventureiros, de uma variedade de formações. É impossível classificar o vídeo belga em um único tema comum. O programa apresentado, uma seleção representativa de trabalhos produzidos em anos recentes, ilustra esse ecletismo.

A multiplicidade de ligações feitas com outras disciplinas das artes é típica: artes plásticas contemporânea (Albers), dança (De Bemels, Meyer & Schaerf), música eletrônica (Hänzel & Gretzel), arquitetura (D`Haeseleer)...

Uma das cacterísticas da produção belga é o universo particular e inalienável que cada um representa.

Em Lost Nation, Johan Grimonprez ironicamente desafia a noção de globalismo. Em File, Kurt D`Haeseleer destratifica a realidade e evoca a sociedade como um fluxo de matéria-energia. Em Scrub solo 1, Antonin De Bemels arranha e trabalha imagens em câmera lenta do dançarino Bud Blumenthal, como se fora um DJ. Com espelhos móveis Eva Meyer e Eran Schaerf, em Record I love you, jogam códigos espaciais e de vídeo um contra o outro. Se você realmente quer apontar uma característica que ligue toda essa produção, então esta deve ser a rejeição do academismo em todas as suas formas combinadas com um desdém pelos meios de comunicação de massa - frequentemente traduzido em uma sutil perversão de tais meios. Ao destacar-se com suas ideias imaginativas e seu impulso de criação de ideias não convencionais, os videoartistas belgas criaram um labirinto de sobrevivência poética. O vídeo é uma das áreas mais ativas da produção artística na Bélgica da última década. 

ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "12º Videobrasil": de 19 de setembro de 2001 e 23 de setembro de 2001, p. 186, São Paulo, SP, 2001.