Atual em seus mais de 25 anos de carreira, Gary Hill é hoje uma das principais referências para artistas que vêm pensando sobre o tempo e a palavra. Nas três instalações – Remembering Paralinguay, Wall piece e Remarks on color –, temas como a filosofia de Wittgenstein e dúvidas existenciais são traduzidas em ambientes capazes não apenas de remeter à memória, como também de desencadear sensações. Remarks on Color é apresentada em numa versão em português (já tendo sido mostrada em inglês e em alemão).
Artistas
Obras
Texto crítico 2001
Gary Hill é um dos artistas que melhor compreenderam e mais habilmente souberam promover a integração entre a arte a as novas tecnologias. Artista que começou a carreira como escultor para, nos anos 70, explorar as possibilidades do vídeo em Woodstock – numa época em que se discutia a descentralização da produção e a possibilidade da criação independente em comunidades alternativas -–, ele vem desenvolvendo uma constante e impactante obra, em que palavra e imagem se combinam e confrontam, provocando e criando novos sentidos.
Um programa com 25 vídeos, três instalações, performance com a participação da cantora Paulina Wallenberg-Olsson e palestra fazem parte da seleção especialmente feita para o 13º Videobrasil, representando períodos distintos da carreira do artista americano. Entre os trabalhos está a recente instalação/performance Remembering Paralinguay, pela primeira vez apresentada no Brasil, e que remete à infância e a fantasias.
Nascido em 1951 na Califórnia, morando hoje em Seattle, Gary Hill também promove uma estimulante combinação de meios, em que a comunicação com o espectador/participante é imediata. Nos anos 90, por exemplo, o autor participou da performance multimídia da coreógrafa Meg Stuart e da companhia de dança Damaged Goods. Literatura, filosofia, além de um cuidadoso trabalho técnico, misturam-se na obra desse artista para quem a máquina e a tecnologia – invisíveis para o espectador – se tornaram um essencial instrumento de trabalho.
Atual em seus mais de 25 anos de carreira, Gary Hill é hoje uma das principais referências para artistas que vêm pensando sobre o tempo e a palavra. Os vídeos apresentados, que cobrem um período que vai do fim dos anos 70 até os anos 90, deixam claras as constantes preocupações de Gary Hill. A língua e a linguagem são elementos do fascinante Ura Aru, em que palavras legíveis tanto da esquerda para a direita como da direita para a esquerda são comparadas à estrutura do teatro nô japonês. Ou ainda Primary, em que a boca do próprio artista ocupam a tela, dando nome a cores primárias que também se revezam no monitor.
Nas três instalações – Remembering Paralinguay, Wall piece e Remarks on color –, temas como a filosofia de Wittgenstein e dúvidas existenciais são traduzidas em ambientes capazes não apenas de remeter à memória, como também de desencadear sensações. Remarks on Color será apresentada em numa versão em português (ela já foi mostrada em inglês e em alemão). Num momento em que a velocidade imposta pela tecnologia se infiltra também na arte, a mostra de Gary Hill é uma ótima oportunidade para observarmos como elas podem ser usadas como peças-chave, contribuindo para o "sentir" do espectador, tão essencial em numa época de interatividade.
ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL, "13º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasill": de 19 de setembro de 2001 a 23 de setembro de 2001, p. 76 e 77, São Paulo, SP, 2001.