Composta a partir das respostas à convocatória aberta do evento, que propunha um exercício em torno da própria ideia de memória, a exposição principal A memória é uma ilha de edição remeteu inevitavelmente a processos e promessas que se anteviam, ainda que de forma tímida ou precária, nessas quatro décadas de Videobrasil, atestando o arco descrito pelo vídeo como matéria-prima da arte e fundamento na construção de novas linguagens; e, mais uma vez, celebrou as contaminações entre linguagens que o meio trouxe para o centro da produção contemporânea, desfazendo categorias e desafiando certezas.

Ao convidar os artistas a visitar e interrogar os mecanismos da memória, esta bienal se tornou especialmente reveladora da potência revolucionária que se materializa no encontro entre as possibilidades do vídeo e as forças do real. Através do vídeo e de arquivos, memórias e experiências pessoais figuraram de forma significativa em reconstituições afetivas de fatos históricos. O trânsito entre pessoal e coletivo gerou novas articulações de subjetividade e história, e concorreu para elaborar traumas do passado que, incidindo de forma singular na vida de homens e mulheres, dizem respeito a coletividades inteiras. Nem sempre tudo isso foi tão claro.

Artistas

Obras

Prêmios e menções

Membros do Júri

Projeto de troféu

O troféu da 22ª Bienal Sesc_Videobrasil é a obra Matapi, de autoria do artista Denilson Baniwa, cujo título vem de uma armadilha indígena para peixes, que é colocada na boca ou parte mais estreita de um rio ou lago. Ela captura peixes conforme a trama: se for mais aberta, captura peixes maiores e deixa passar os médios. Se for mais fechada, captura peixes menores e mais peixes. Segundo o artista a partir dessa imagem, e da ideia da memória como ilha de edição, a peça foi criada para representar a intenção da pessoa que está por trás das lentes, e da própria lente, na captura de imagens. Denilson começou pesquisando coisas que pudessem ser relacionadas à memória, ao corte, mas também ao seu objeto de trabalho, a temática indígena. Ele imaginou o matapi como uma metáfora da captura, daquilo que filtra, do que sai e do que permanece – como uma edição mesmo – e do que depois nos serve como alimento: no caso do matapi, o peixe; no caso da imagem, o resultado do filme.

Os troféus da bienal são peças únicas criadas por renomados artistas brasileiros em diálogo com a proposta curatorial de cada edição. Obras dos artistas Alexandre da Cunha, Carmela Gross, Efrain Almeida, Erika Verzutti, Flavia Ribeiro, Luiz Zerbini, Tunga, Raquel Garbelotti e Rosângela Rennó constituem a coleção de troféus da bienal desde a sua décima terceira edição.

Statement do Júri

Por ocasião dos 40 anos do Videobrasil, reconhecemos e celebramos a intenção, o compromisso e a determinação de Solange Farkas, a destemida e audaz fundadora e diretora da Associação, e de sua diligente equipe para fomentar o dinamismo da prática do vídeo no Brasil e no Sul Global. Gostaríamos de elogiar os curadores Raphael Fonseca e Renée Akitelek Mboya por criarem condições para uma contextualização interdisciplinar das obras em relação ao ambiente socioeconômico mundial. Nestes tempos de crise implacável, o VB continuou a ser um espaço de resistência, imaginação e proposições para o futuro que irrompe de guerras diversas e contínuas.

As obras da Bienal expressam e demonstram a diversidade de formas e a coragem dos artistas para enfrentar a complexidade das questões e abordar as inquietações da sociedade, como a migração, a ecologia, a opressão e a colonização. Apoiamos fortemente a articulação de materiais e o diálogo entre eles, de objetos rituais à tecnologia digital. As obras selecionadas incorporam essas potências, reveladas na forma em que interagem através de experiências e geografias.