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	Corte finlandesa em Ruanda

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	Vista de Ruanda

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Genocídio e políticas internacionais na Gasworks

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postado em 03/05/2013
O coletivo Model Court analisa genocídio em obra multidisciplinar

Model Court, coletivo inglês formado pelos artistas e pesquisadores Lawrence Abu Hamdan, Sidsel Meineche Hansen, Lorenzo Pezzani e Oliver Rees, apresenta o trabalho Resolution 978 HD, a partir de 10.5 na Gasworks, Londres.

O coletivo aborda o julgamento de François Bazaramba, culpado por sua participação no genocídio que em 1994 dizimou mais de 800.000 pessoas em Ruanda. Atuando como pastor em uma igreja batista local, Bazaramba foi acusado de estimular a limpeza étnica executada pela milícia Hutu sobre a população Tutsi.

Após aceito seu pedido de asilo político em Porvoo, Finlândia, a justiça regional aplicou com rigor o princípio de jurisdição universal, pelo qual crimes contra a humanidade podem ser julgados fora de suas fronteiras geopolíticas a partir de leis de direito penal internacional. Bazaramba, pelo princípio da não-devolução (non-refoulement), foi impedido de ser julgado em seu país de origem, o que resultou em um julgamento sem precedentes na história, organizado por meio de videoconferências. Desta forma, juízes e promotores finlandeses se alocaram em Ruanda e Tanzânia para reunir testemunhos por meio de tribunais temporários, enquanto Bazaramba respondia por seus crimes na Finlândia.

A obra se coloca como um questionamento ao procedimento de intervenção de uma corte regional finlandesa em uma sociedade cultural e geograficamente tão distante. Resolution não visa discutir a organização política de Ruanda ou a culpabilidade de François Bazaramba, senão retratar a história da transposição do sistema judiciário finlandês ao território ruandês, estudando a noção de "justiça internacional" e sua aplicação na África - único continente até então investigado por uma corte criminal internacional.

Discorrendo sobre os aspectos espaciais, estéticos e geopolíticos dos procedimentos legais deste caso, o coletivo Model Court questiona, em Resolution 978 HD, até que ponto as tecnologias emergentes usadas nessas ações reorientam geograficamente o processo de justiça e as convenções de testemunho. O resultado final é um trabalho híbrido, reunindo linguagens como cinema, instalação e eventos públicos. Integrado à instalação, o filme produzido questiona noções de auxílio internacional, neocolonialismo e a produção de história, sob o ponto de vista de um técnico audiovisual que instalou os sistemas de transmissão do julgamento.

Gasworks é uma organização sediada em Londres, conhecida por sua reputação em descobrir novos talentos locais e internacionais. Seu programa de residências, exposições, eventos e projetos internacionais é referência em pesquisa e produção de novos conteúdos, amplificando a produção de artistas emergentes e inovadores. Conheça mais sobre a Gasworks e seus projetos no site da instituição.