“O vídeo, como o celular, é um instrumento de transformação”

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postado em 17/10/2013
Zé Celso fala da importância do vídeo e do contexto da sua produção na década de 1980, ao lado de Tadeu Jungle e convidados, no primeiro encontro do 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil

No encontro “Tudo pode ser um programa de televisão” realizado na quarta-feira, 16 de outubro, no Teatro do Sesc Pompeia, Zé Celso, Tadeu Jungle, Pedro Vieira e Walter Silveira, integrantes do coletivo TVDO, um dos pioneiros na linguagem audiovisual dos anos 80, do qual participaram ainda Ney Marcondes e Paulo Priolli, discutiram o contexto em que iniciaram suas experiências em vídeo e a forma como seu trabalho se relacionou com a TV no período da redemocratização do Brasil. “Tudo entrou em debate no país. Tudo entrou em crise. Tudo queria se renovar. E a linguagem audiovisual participou disso”, disse Gabriel Priolli, que mediou o encontro de abertura da programação do 18º Festival Sesc_Videobrasil, que teve a presença de Danilo Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo, ao lado de Solange Farkas, diretora e curadora do Festival.

"Na época, queriam acabar com a gravação da Fábrica do Som no Sesc Pompeia”, contou o Danilo Miranda pela primeira vez a Tadeu Jungle e Pedro Vieira, respectivamente, apresentador e diretor do programa que apresentou grupos como Titãs e Ira, entre tantos outros.  “Me diziam que vinham maus elementos, que para entrar o pessoal subia nos telhados, pulava o muro... Eu disse, 'que ótimo!', pois era justamente isso o que a gente queria: algo ousado, diferente, inovador, que atraísse novas pessoas. A Fábrica do Som é até hoje uma das coisas mais importantes da cultura paulistana", afirmou o diretor regional do Sesc, correalizador do Festival que promoveu o encontro entre esses pioneiros do vídeo no país.

 

Contra a repressão, Zé Celso usou o vídeo como forma de expressão

Diretor de teatro, perseguido e censurado pelo AI-5, Zé Celso contou que, diante da repressão da ditadura, que impediu qualquer forma de repercussão do seu trabalho, o vídeo foi uma maneira de quebrar essa barreira de silêncio. Nos anos 70, em turnês com espetáculos, o diretor costumava filmar as viagens, bem como as apresentações. “Naquele tempo, quando a gente chegava com vídeo, as pessoas ficavam assustadas”, contou Zé Celso.

Os convidados lembraram também de outras experiências que ocorreram simultaneamente, como o surgimento do videoclipe, em 1981, a MTV, o programa Mocidade (de Walter Clarck), o Perdidos na Noite (com Faustão) e o Cassino do Chacrinha, admirado por todos por seu caráter anárquico. “Antônio Abujamra, Zé Celso, Glauber Rocha e Chacrinha! Essa foi a gênese de produção experimental de vídeo na década de 80 no Brasil”, afirmou Tadeu Jungle. 

 

Videobrasil: Um espaço para o vídeo

Nesse contexto, segundo os convidados, a primeira edição do Festival Videobrasil, em 1983, foi uma espécie de aglutinador de diferentes grupos e criadores, permitindo-lhes ter um espaço para a publicação daquilo que produziam. “A gente pichava porque era o jeito de ser publicado. Não havia espaço (até o Videobrasil). E espaço era uma palavra muito usada na época. Não tinha como ver o trabalho do outro, não tinha TV a cabo, nada”, contou Jungle.

Criadora e curadora do Festival, Solange Farkas, disse que veicular sua produção, naquela ocasião, era “quase uma luta de David contra Golias” e que a união dos aspectos artísticos, políticos, sociais e históricos sempre foram o objetivo do Festival. Danilo Miranda afirmou que a parceria se dá justamente porque a instituição e o Videobrasil têm por missão “dar chance ao novo, colocar o dedo na ferida.”

Antes do debate foram exibidos trechos dos vídeos Caderneta de Campo (1983), de Zé Celso, Catherine Hirsch, Edson Jorge Elito, Noilton Nunes e Uzyna Uzona; Frau (1984), de Isa Castro e TVDO; Heróis da Decadêns(i)a (1987), de Tadeu Jungle; e Duelo dos Deuses (1988), de Pedro Vieira. Os filmes serão exibidos na íntegra durante o Festival, que tem início no dia 6 de novembro no Sesc Pompeia e CineSesc.

 

Próximo Encontro: Fernando Meirelles e Marcelo Tas invadem a TV

“Nós éramos os Rolling Stones”, disse Tadeu Jungle, referindo-se ao grupo presente no encontro de ontem, integrantes do coletivo TVDO formado na época em que eram estudantes da ECA/USP. A brincadeira é uma forma de diferenciação do outro grupo que iniciou a produção de vídeo junto com eles, o Olhar Eletrônico, formado por Fernando Meirelles, Marcelo Machado, Paulo Morelli, Beto Salatini, Dario Vizeu, Marcelo Tas, Renato Barbieri e Toniko Melo. “Eles eram os Beatles”, provoca Tadeu. Os três participam ao lado do jornalista Goulart de Andrade do segundo encontro, que debate as Práticas Experimentais do Vídeo nos anos 80, com o tema “Invadir a TV”.  O evento acontece hoje, quinta, dia 17.10, às 20h, no Teatro do Sesc Pompeia. A entrada se dá mediante retirada de senha na bilheteria da unidade, 1h antes do começo.

Os dois encontros com os pioneiros do vídeo no Brasil marcam a abertura dos Programas Públicos, parte integrante da programação do 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, que abre oficialmente no dia 06 de novembro deste ano e segue até 02 de fevereiro de 2014. As atividades dos Programas Públicos vão acontecer durante esse período, envolvendo mais de 60 convidados, entre curadores, artistas e teóricos, explorando oito focos: Contra-TV: práticas experimentais do vídeo nos anos 80; 18º Festival: vetores e inflexões; Residências e rotas para pesquisa artística; A performance em três tempos; O sul em perspectiva; Reflexões em deslocamento; Leituras sobrepostas; e À luz dos 30 anos.

 

Canal VB: Assista aos depoimentos de Zé Celso, Tadeu Jungle e Walter Silveira, onde discutem o início de suas práticas em linguagem vídeo e o espaço criado pelo Videobrasil no país desde os anos 1980.