Natureza Mágica

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postado em 08/11/2013
Artistas discutem natureza, magia e política no último encontro da sexta-feira

No encontro Natureza Mágica, parte do Foco 2, Vetores e Inflexões, do 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, os artistas brasileiros Ayrson Heráclito e Roberto Winter, junto com Bakary Diallo, do Mali, discutiram a questão da representação da natureza e da magia na produção artística, sobretudo na construção de mundos ficcionais.

Bakary Diallo conta que em sua cultura “natureza e magia formam um conjunto. O homem representa sua alma numa árvore, depois num animal e, por último, numa pessoa”, conta. “O mundo mental e a crença caminham juntos. É assim que eu vejo a magia.” Para ele, a terminologia pejorativa da superstição e da crença vem da cultura ocidental do Norte. A crença, ele afirma, é parte fundamental para a produção artística e, no mundo de hoje, magia e arte devem se unir, integrando-se à tecnologia, que ele definiu como “uma mulher virgem”.

Roberto Winter, citando o autor americano Arthur C. Clarke, afirmou que “toda tecnologia avançada é indistinguível da magia” e cita o exemplo da economia no mundo ocidental. “Ela é uma tecnologia tão avançada que algumas pessoas a confundem com magia”, afirma. “A maioria das pessoas não entende como se deu a crise de 2008. O que são derivativos (por exemplo).”

Ele disse também que o ato da magia, em suas diversas concepções, está ligado ao ato da palavra. Apenas a palavra é capaz de tornar algo – uma crença, por exemplo – em realidade material e que a palavra, e a crença, estão muito conectadas com questões da nossa realidade. “Não é a fala que faz as coisas acontecerem e sim a crença que as pessoas têm na sentença. Quando um juiz diz que alguém está condenado à cadeira elétrica, por exemplo, mesmo antes da pena ser executada, é como se essa pessoa já estivesse morta”.

O artista e professor Ayrson Heráclito, que nasceu em Macaúba, interior da Bahia, e depois mudou-se para Salvador, conta que a sua formação cultural e identitárias sempre esteve envolvida entre esses dois mundos – o das ideias e o das crenças da Bahia. “Essa relação da arte e magia sempre existiu, mesmo depois da dessacralização do mundo”.

Quando o assunto é política, Bakary defendeu um aprofundamento da democracia na África. “A nossa democracia está aprisionada, ela não é livre”, afirmou o artista que também deseja uma melhor convivência entre as diversas culturas e realidades. Apesar de concordar com a necessidade do aprimoramento da democracia, inclusive no Brasil, Winter afirmou que, talvez, a convivência harmoniosa entre os povos não seja a solução. “Nos fizeram acreditar que só existe a paz absoluta ou a guerra. Nós precisamos de outras maneiras de enxergar o conflito”, disse.