Memórias de uma terra esquecida

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postado em 14/01/2015
Theo Eshetu, pioneiro da videoarte, contribui com o Caderno 10 com imagens e relatos que criam uma narrativa pessoal sobre a Etiópia e seu avô, que serviu o Imperador Haïlé Selassié (Ras Tafari)

De fotógrafo do rock na década de 1970 a pioneiro da videoarte nos anos 80, Theo Eshetu, neto de um nobre da corte do imperador Haïlé Selassié, o Ras Tafari, contribui com o Caderno Sesc_Videobrasil 10: Usos da Memória com imagens e relatos que constroem seu retrato pessoal da Etiópia. Nascido em Londres, Reino Unido, em 1958, Theo Eshetu cresceu entre a África e a Europa. A influência cultural dos lugares por onde passou é revelada em seu repertório visual, assim como o seu interesse por civilizações, tradições e rituais de diferentes partes do mundo.

Familiarizado à cultura pop na década de 1970, quando fotografou artistas como David Bowie, Andy Warhol, Lindsay Kemp e The Velvet Underground, Eshetu foi atraído pela natureza metafísica da imagem eletrônica. Iniciando seu trabalho com arte e mídia em 1982, foi pioneiro na experimentação das possibilidades poéticas e ritualísticas do vídeo. Desafiou gêneros convencionais ao transitar entre as linguagens artísticas, explorou os limites entre a videoarte e o filme documental e o potencial expressivo do vídeo em registros de culturas africanas, à margem da arte então estabelecida.

A colaboração de Theo Eshetu para o Caderno Sesc_Videobrasil 10 é resultado de uma incursão mais pessoal do artista, fruto de sua viagem à Etiópia, país onde passou parte de sua infância e para onde retornou em homenagem a seu avô, Ato Tekle-Tsadik Mekouria (1913-2000). Historiador e político, Mekouria desempenhou papel fundamental no império de Haïlé Selassié (1892-1975), nascido Tafari Makonnen e eternizado pelo movimento rastafári como o Ras Tafari.

“Vi muitas vezes a Etiópia na televisão, mas, para mim, ela continua sendo um lugar da imaginação. Vivi lá quando criança e agora estou voltando para visitar meu avô. (...) Este é o registro fragmentado de uma viagem a esse lugar onde vivi de um a cinco anos de idade. Não tenho lembranças claras, mas o encontro com meu avô, um historiador que esteve na corte de Haïlé Selassié, abriu minhas memórias dessa terra esquecida", escreve o artista. A partir do resgate de suas memórias, da pesquisa em arquivos e da experimentação em vídeo, surgiu a obra Blood is Not Fresh Water, de 1997, que por sua vez deu origem a série fotográfica BLOOD, de 2003, formada por frames do vídeo.

Em Sangue. Da Luz e Semelhança, título da colaboração de Eshetu para o Caderno 10, ele alia relatos pessoais, memórias e percepções da história, da cultura e da religiosidade etíopes a 28 imagens selecionadas da série BLOOD.

Theo Eshetu, já teve sua obra exibida na 54ª Bienal de Veneza (Itália) e na 10ª Bienal de Sharjah (Emirados Árabes), na Tate Britain (Londres, Reino Unido), no Stedelijk Museum (Amsterdã, Holanda) e no New Museum (Nova York, EUA), entre outros.