• foto: Adauto Perin
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A história subjetiva

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postado em 09/02/2015
Em encontro aberto ao público, Elvira Dyangani Ose, Theo Eshetu e Teté Martinho falaram sobre a décima edição do Caderno Sesc_Videobrasil, que explora a história pós-colonial para além dos discursos e documentos oficiais no continente africano

Mais de oitenta pessoas estiveram presentes no lançamento do Caderno Sesc_Videobrasil 10: Usos da Memória, na Livraria da Vila, em São Paulo. O evento foi marcado pela conversa entre a editora deste número da publicação, Elvira Dyangani Ose, e o artista Theo Eshetu, colaborador do Caderno, mediada pela coordenadora editorial da Associação, Teté Martinho.

Um breve histórico de todas as edições do Caderno Sesc_Videobrasil, que completa dez anos, foi delineado por Teté Martinho. As primeiras edições do Caderno, conforme relatou, se voltavam a aprofundar as temáticas e questões curatoriais das edições do Festival, tornando-as perenes em oposição à efemeridade do evento. Como exemplo, citou o Caderno Sesc_Videobrasil 1: Performance, lançado durante o 15º Festival, especialmente voltado a essa linguagem artística. A 4a edição (Ocupação do espaço, com curadoria de Marcelo Rezende) representaria o “corte do cordão umbilical” com o Festival, quando o Caderno passou a ser ele próprio uma plataforma curatorial. Destacou ainda, como uma terceira fase de crescimento do núcleo reflexivo da Associação, a abertura do Caderno, em sua décima edição, à curadoria assinada por pesquisadores estrangeiros, sendo Elvira Dyangani Ose a primeira convidada.

Em sua fala, Dyangani Ose ressaltou a importância do Caderno Sesc_Videobrasil como plataforma de extensão de sua pesquisa curatorial, que se desenvolverá também na próxima edição da Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Gotemburgo, sob sua curadoria. A edição assinada por Elvira trata dos processos de construção da história e da maneira como os artistas lidam com os sistemas sociais e de poder que a criam. O foco sobre arquivos e documentos, eleito por Elvira, pretende mostrar que o destino final do arquivo está situado não em sua própria narrativa, mas sim na história que ele torna possível. “Partes de ficção atuam sobre a história, e isso pode ser visto em todo o Caderno 10. A história é explicada como foi sentida”, mencionou. Elvira introduziu o público aos sete ensaios e proposições artísticas que compõem a publicação, destacando a entrevista com o historiador Premesh Lalu, conduzida pela pesquisadora Tracy Murinik, que examina as possibilidades de encarar a narrativa histórica com a engenhosidade — e a subjetividade — de uma obra de arte.

Embora tenham estabelecido contato durante muitos anos, o Caderno 10 foi a primeira oportunidade para que Theo e Elvira trabalhassem juntos. Segundo a editora, Theo Eshetu é autor de uma das mais poéticas colaborações da revista, e foi convidado para falar sobre seu ensaio “Sangue. Da luz e semelhança”. Nascido no Reino Unido, Theo passou apenas parte da infância na Etiópia, mas afirmou que “sempre há uma conexão com as culturas das quais viemos”. Seu interesse por história, declarou, foi um tanto tardio e diretamente relacionado a sua herança etíope. A narrativa visual fragmentada que apresenta no Caderno 10 foi criada a partir do registro em vídeo de sua ida à Etiópia como homenagem a seu avô, que pertenceu à corte do imperador Haile Selassie (1892-1975). A viagem originou ainda as obras Blood Is Not Fresh Water (1997) e BLOOD (2003), que significaram um processo de autodescobrimento e de aproximação com o seu avô, o historiador mais importante da Etiópia. “Descobri, durante minha viagem, que a Etiópia era educada com seus livros”, revelou.

A editora afirmou que o Caderno não é sobre a África ou sobre “arte africana” — segundo ela, isso pode ser apenas coincidência. Trata-se de reflexões que não são específicas à África, e sim humanas. “É uma história que fala sobre seres humanos, no fim das contas. A África tem sido um território emoldurado por um senso de inventividade que nem sempre se refere ao que os africanos sentem ou são. Há um belo texto da década de 1930 que diz: ‘não quero ser um poeta negro, quero ser um poeta’. Esta é a chave. Sou muito orgulhosa de ser africana, mas, ao mesmo tempo, sou apenas uma curadora, não importa de onde venha. Isso não quer dizer limitação, mas sim expansão.”

O Caderno Sesc_Videobrasil 10: Usos da Memória está à venda na Livraria Virtual do Sesc São Paulo.