VIDEOBRASIL 40 | 21º Videobrasil

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postado em 08/04/2024

Em tempos de nacionalismo exacerbado, Bienal se volta para práticas comunitárias, coletivas e de resistência

     

Sempre em diálogo estreito com o contexto político e social, as edições do Videobrasil apresentaram ao longo das décadas uma pluralidade de visões críticas sobre o mundo contemporâneo, suas crises, avanços e retrocessos. Sem deixar de lado o foco nas transformações formais e de linguagem intrínsecas à arte contemporânea, o festival sempre teve como marca importante este olhar para a geopolítica global, as desigualdades sociais, o racismo, os autoritarismos e outras formas de violência. No contexto interno, o Videobrasil acompanhou, desde sua primeira edição (1983), a história de um Brasil que após duas décadas de ditadura se firmou progressivamente sob um regime democrático, com relativa solidez em suas principais instituições e poderes. Quando foi aberta a 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil*, em outubro de 2019, no entanto, a ideia de um país que caminhava “para a frente” se via fortemente abalada. Dois anos após o golpe parlamentar que destituiu a presidenta Dilma Rousseff, a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 levava ao poder um líder de extrema-direita simpático ao antigo regime militar, opositor dos direitos humanos mais básicos e negacionista das mazelas do passado colonial. 

 

 

Em um momento de avanço do discurso patriótico e de um ufanismo pouco afeito às diversidades – não só no Brasil, mas em um mundo com governantes como Donald Trump (EUA) e Boris Johnson (Inglaterra) –, a 21ª Bienal elege como título “Comunidades Imaginadas”, inspirado em conceito proposto em 1983 pelo cientista político e historiador irlandês Benedict Anderson para analisar a origem e difusão do nacionalismo. Opondo-se aos ares reacionários, a edição buscou mapear como a produção do Sul Global respondia a este contexto conturbado, focando especialmente em “comunidades sem Estado, povos originários, comunidades religiosas, místicas ou refugiadas de seus territórios originais, comunidades fictícias, utópicas, clandestinas ou aquelas constituídas nos universos subterrâneos de vivências sexuais e corpos dissidentes”, como explicavam os curadores – em equipe chefiada por Gabriel Bogossian.
 
Com direção artística de Solange Oliveira Farkas e curadoria de também de Luisa Duarte e Miguel A. López, a edição aconteceu pela primeira vez no Sesc 24 de Maio, no centro de São Paulo, em uma região marcadamente conhecida pela pluralidade cultural, onde coabitam migrantes de todos os cantos do Brasil, imigrantes latinos e africanos, refugiados, grupos LGBTQIA+ e pessoas de variadas classes sociais. A agora chamada Bienal, após 20 edições sob o nome de Festival, dialogava como poucas vezes com seu entorno mais próximo. Com 55 artistas de 28 países – sendo cinco deles convidados pela curadoria – a edição reforçava, justamente, uma defesa do diálogo, das trocas e da tolerância: “Em meio às ameaças – renovadas diariamente – que pairam neste momento sobre tantas liberdades e valores fundamentais, é um alento poder reiterar o elogio da diversidade, do pensamento que transforma e do exercício da cultura”, dizia Solange. 
 
Como não poderia ser diferente neste contexto interno tão crítico, a curadoria manteve seu olhar para os diversos cantos do mundo, mas deu espaço destacado à produção nacional, com 18 participantes brasileiros. Não que todas estas realidades globais não estivessem em estreito diálogo, mas, como explicava Solange, “depois das últimas eleições brasileiras, cumpre questionar que comunidades ainda podem, mais que imaginadas ou supostas, ser visíveis e vividas cotidianamente. Alvos preferenciais dos eleitos, LGBTQIA+, negros, indígenas, mulheres e outros grupos minorizados aprofundam suas práticas comunitárias em resposta, buscando garantir direitos arduamente (e há tão pouco tempo) conquistados”.
 
Entre estes grupos minorizados, foi notável em Panoramas do Sul o espaço dedicado aos povos originários. Entre os brasileiros, GRIN – vídeo de Isael Maxakali e Roney Freitas premiado na edição – adentra o universo dos maxakali ao resgatar memórias da Guarda Rural Indígena durante a ditadura militar, com relatos das violências cometidas na tentativa de controlar os povos originários. A videoinstalação em três canais About cameras, spirits and occupations: a montage-essay triptych, por sua vez, apresentou o trabalho do coletivo Alto Amazonas Audiovisual, com problematizações em torno da relação entre etnólogos e seus “objetos de estudo”, neste caso os povos indígenas do vale do Javari. Além deles, o vídeo Guardiões da memória traz uma reflexão do cineasta e educador Alberto Guarani em torno da religiosidade de seu povo, enquanto a instalação Jeguatá – caderno de viagem reunia o material produzido por quatro realizadores – Ana Carvalho, Ariel Kuaray Ortega, Fernando Ancil e Patrícia Para Yxapy – em sua jornada entre aldeias guarani no Brasil e na Argentina.
 
Nas palavras dos curadores, “tendo em vista o caso brasileiro, em que a imagem de um índio genérico foi evocada ao longo de décadas como símbolo das origens do país e da identidade de um nacionalismo mestiço, a exibição dessas obras busca lançar luz sobre suas poéticas contra-hegemônicas e suas redes de legitimação, em um momento em que, para além do mundo da arte, vivemos violentos ataques aos direitos indígenas e à integridade de seus territórios”. Em diálogo com os casos nacionais, realidades de povos originários de outros países surgiam em obras como as do norte-americano Jim Denomie (1955-2022), da etnia anishinaabe, que expôs duas pinturas sobre a violência sofrida por indígenas nos EUA. O neozelandês de origem maori Brett Graham, por sua vez, na instalação Monument to the property of peace, monument to the property of evil, remete ao Pai Mārire, movimento religioso sincrético que teve papel importante na resistência dos nativos frente aos europeus. Por fim, o mexicano Noe Martínez, no vídeo Interrupción del Sueño, parte de sua pesquisa com documentos coloniais sobre o povo purépecha; enquanto Andrea Tonacci (1944-2016) – um dos artistas convidados –, na videoinstalação Struggle to be heard: Voices of indigenous activists, apresenta entrevistas e encontros com indígenas de vários países das Américas.  

 

 

Passado e presente 

Outras produções destacadas na exposição, também ligadas a questões decoloniais, aos modos de resistência e à defesa de identidades culturais comunitárias, foram aquelas de povos afrodescentendes – grupos altamente impactados pelos nacionalismos em contextos como, por exemplo, a escravidão e a partilha da África por parte dos colonizadores europeus. Bastante evidentes na área central do espaço, três amplas pinturas do jovem artista brasileiro No Martins estampavam rostos negros, imponentes e com “olhar rude”, com o escrito #Já Basta! gravado na parte inferior. Realizadas em tecidos, estas espécies de estandartes soavam como um grito de resistência contra o racismo e a violência policial no Brasil, criando ainda um diálogo direto com a linguagem contemporânea das redes sociais, suas hashtags e frases de impacto. Pela obra, Martins foi agraciado com o Prêmio Sesc de Arte Contemporânea.
 
Uma das mais impactantes artistas brasileiras da contemporaneidade, Rosana Paulino foi outra das convidadas pela curadoria, e teve sua videoinstalação Das avós comissionada pelo festival. Na obra, a artista mistura repertório pessoal com o de outros personagens, sempre mulheres negras, para tratar de ancestralidade e esquecimento em um país marcado pela escravidão. O bailarino e coreógrafo Luiz de Abreu, ganhador do principal prêmio do 18º festival (2013) com a performance O samba do crioulo doido, também levantou questões de raça e gênero em uma retrospectiva com seis de seus trabalhos, realizados entre 1995 e 2009, que tem o corpo negro como elemento central. Outra obra comissionada pelo evento foi What Is left of the Sugar Cubes?, de Thierry Oussou, do Benim, um vídeo criado a partir de sua estadia de meses no Brasil. Reunindo depoimentos de profissionais ligados ao Museu Memorial Cemitério dos Pretos Novos e ao Museu Nacional, ambos no Rio, o artista toma o açúcar como metáfora da história, propondo uma reflexão em torno da memória, dos patrimônios mantidos e perdidos – por vezes intencionalmente. 
 
Também do continente africano, Mouhau Modisakeng expôs Ga bose gangwe, vídeo impactante que remete à transição da África do Sul de um regime de segregação (o apartheid) para a democracia. Registro em PB de uma ação na qual homens negros atuam vestidos com roupas brancas, a obra levanta questões sobre racialização a partir de uma ação poética de forte apelo estético. Modisakeng apresentou também uma das quatro performances que marcaram a 21ª Bienal, The Last Harvest, obra que partia de fotos tiradas por Marc Ferrez em 1882 para tratar da escravidão ao redor do mundo. Ainda dentro da exposição, com um caráter mais histórico, uma coleção de joias africanas selecionada a partir da coleção do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP) apresentou um série de objetos de prestígio, proteção ou poder de três povos da África ocidental que deixaram marcas na cultura brasileira: iorubanas da Nigéria, ashanti de Gana, e da cultura fon do atual Benim. 

Relativos a coletividades surgidas nas últimas décadas seja por necessidade de autopreservação e pela luta por direitos, seja pelas identificações culturais, os grupos LGBTQIA+ foram outros que ganharam destaque na exposição. O coletivo #VoteLGBT, por exemplo, apresentou Voçoroca, um conjunto de ações, aulas e intervenções que se espalharam pelo Sesc 24 de Maio – e até mesmo pelo Largo do Arouche, no centro. Entre elas estavam ações performáticas abertas, disponibilização de assessoria jurídica gratuita para pessoas trans e travestis e a produção e distribuição de lambe-lambes com mensagens políticas. Foi parte da exposição, ainda, uma vasta seleção de capas do jornal Snob (1963-1969), publicação caseira pioneira ao trazer notícias e debates sobre as redes de sociabilidade gay, principalmente no Rio de Janeiro. Tanto sobre a coleção do Snob quanto sobre as Joias africanas, ambas de caráter histórico, os curadores explicavam que sua presença na mostra reforçava “a dimensão museal de uma bienal”. Para eles: “Em tempos em que nossos museus queimam, a presença de coleções guardadas em arquivos e museus universitários dá nova mostra da importância dessas instituições para a vida cultural do país”.

Pensando sobre as várias coletividades e comunidades presentes na exposição, Solange ressaltava a proposta de expô-los não como grupos temáticos isolados, classificáveis em “tipos fechados”, mas de respeitar suas pluralidades e incluí-los na bienal através de diálogos e conversas possíveis. Em suas palavras: “A ideia era, por exemplo, garantir a presença de artistas que só são incluídos em mostras coletivas de arte contemporânea de caráter temático, como se pertencessem, de alguma forma, a uma espécie à parte. Às vezes travestida de deferência, essa modalidade de apagamento atinge, por exemplo, artistas de etnias indígenas e/ou povos originários”. 

 

 

   

Macro e micropolíticas

Mantendo o já tradicional enfoque do Videobrasil na produção do Oriente Médio – especialmente após a 14ª edição, em 2003 –, a 21ª bienal apresentou grande número de artistas da região. O impacto de suas obras foi tamanho que três delas saíram premiadas. Na videoinstalação I went away and forgot you. A while ago I remembered. I remembered I’d forgotten you. I was dreaming, a saudita Dana Awartani – que ganhou a residência no Instituto Sacatar (Brasil) – constrói um diálogo fluido entre um vídeo, no qual a artista surge varrendo um piso com azulejos árabes tradicionais, e um espaço semelhante construído na exposição, logo em frente à tela. Todo o ambiente e o gesto performático do vídeo levantam questões sobre efemeridade e eternidade, o apagamento de traços da cultura islâmica e a ocidentalização que, de tempos em tempos, avançam sobre o Oriente Médio. 
 
Grande impacto teve também Schmitt, you and me, do libanês Omar Mismar – que ficou com a residência MMCA Residency Changdong (Coreia do Sul) –, vídeo de longa duração que transcorre dentro de uma loja de armas no Maine (EUA). A relação de aparente amizade criada entre o artista e o dono da loja, que juntos leem um texto histórico de Carl Schmitt (pensador alemão ligado ao nazismo), nos coloca diante de uma estranha situação que trata de violência, política e, ao mesmo tempo, da complexidade das relações humanas. Por fim, o turco radicado na Alemanha Aykan Safoğlu ganhou uma menção honrosa por Off-White Tulips, vídeo no qual cria uma espécie de conversa imaginaria com o célebre escritor James Baldwin, homem negro e gay que viveu em Istambul entre os anos 1960 e 1970. Safoğlu, também homossexual, aproxima sua jornada pessoal com a do norte-americano, tratando de preconceito, nacionalismo, alteridade e memória.
 
Ligados mais diretamente a comunidades ou coletividades sociais e laborais, chamaram atenção trabalhos como Laboratorio de invención social o posibles formas de construcción colectiva, da argentina Gabriela Golder, que ficou com o Prêmio Estado da Arte - Electrica Cinema & Vídeo. Partindo da experiência de operários que ocuparam fábricas falidas nos anos 2000 e instauraram sistemas de autogestão, a artista propõe uma discussão sobre o trabalho em um mundo neoliberal e as possibilidades de construção coletiva. Em contexto bastante diverso, mas também focado em lutas de resistência popular, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas, de inspiração socialista e atuante ao redor do Brasil na defesa por cidades mais democráticas, apresentou a videoinstalação Conte isso àqueles que dizem que fomos derrotados (que ficou com o Prêmio Sesc de Arte Contemporânea). Com mais silêncios do que falas, a obra apresenta um olhar minucioso sobre alguns momentos marcantes das ocupações realizados pelo grupo. 
 
Vindo do outro canto do globo, o vietnamita Thanh Hoang apresentou Nikki's here, uma espécie de crônica a respeito do choque de culturas no mundo globalizado. Vencedor do Prêmio O.F.F. [Ostrovsky Family Fund], o vídeo é um misto de documentário e ficção que acompanha a vida de uma massagista tântrica vietnamita em Nova York e suas complexas relações com o trabalho e com o marido norte-americano. Por fim, da República Democrática do Congo, Nelson Makengo levou o Prêmio de residência Sharjah Art Foundation por E'ville (ElisabethVille), um vídeo poético e melancólico que mescla imagens de ruínas, fotos de arquivo e narrações para tratar de um país que, mesmo após a libertação do colonialismo belga, segue com um futuro desesperançoso. 
 
Além dos prêmios em dinheiro e em residências – definidos pelo júri formado por Alexia Tala (Chile), Gabi Ngcobo (África do Sul), Rosangela Rennó (Brasil), Reem Fadda (Kuwait) e Marta Mestre (Portugal) –, um troféu original produzido pelo artista Alexandre da Cunha foi entregue a todos os premiados. A peça, intitulada Joia, reproduz em metal dourado um coco em tamanho real, cortado do mesmo modo como o fazem vendedores de frutas, e com um canudo inserido. Na obra, o artista invoca “o legado de invenção e precariedade das culturas pós-coloniais”, especialmente em locais do Sul Global como o Brasil e países caribenhos e asiáticos. Outros participantes da edição foram os designers Celso Longo e Daniel Trench, responsáveis pela identidade visual do festival.
 
Entre as performances apresentadas na edição, a mexicana Teresa Margolles realizou Tela Bordada, uma ação coletiva que resultou em um tecido e um vídeo integrados à exposição. Na performance, comissionada pela bienal, mulheres bordadeiras narravam suas histórias de vida enquanto trabalhavam com um tipo de pano utilizado em necrotérios, acabando por produzir um tecido cheio de sentidos sobre memória pessoal, violência e, simultaneamente, possibilidades de solidariedade e integração. A 21ª Bienal contou ainda com as performances No le digas a mi mano derecha lo que hace la izquierda, do costa-riquenho Marton Robinson Palmer, e a ação musical Digital soul, do francês Emo de Medeiros.

 

 

 

Violências e sutilezas 

As escolhas geopolíticas e as diversas temáticas duras que percorriam a exposição ganharam destaque nas matérias publicadas pela imprensa à época: “Bienal traz 'margens' e 'brechas' ao centro da discussão”, dizia a manchete do jornal Estado de S.Paulo; e “Fantasmas da colonização e da violência assombram Bienal Sesc_Videobrasil”, estampava a reportagem da Folha de S.Paulo. No texto, lia-se: “Questionada sobre o tom lúgubre desta edição da mostra, a fundadora do Videobrasil, Solange Oliveira Farkas, responde que ‘a realidade está pesada. (...) E essas obras não deixam de ter força de denúncia’”. Na revista arte!brasileiros, por sua vez, a crítica Maria Hirszman soava mais ponderada: “’Comunidades Imaginadas’, mote inspirado na obra de Benedict Anderson, torna-se um guia potente, mas não impositivo, que permitiu congregar um leque amplo de pesquisas cuja principal característica comum talvez seja a maneira delicada com que tratam de questões muitas vezes dramáticas.” Para ela, “destruição, ameaça de extermínio, visão distorcida de mundo em função de preconceitos raciais, econômicos ou sociais são aspectos largamente tratados (...) e, no entanto, predomina na mostra uma certa sutileza, uma aposta na potência transformadora da arte, que não precisa gritar para ser escutada.” 

Dando sequência à prática do Videobrasil de ativar as exposições e aprofundar os temas nela abordados através dos Programas Públicos, a 21ª Bienal teve um intenso conjunto de atividades, entre seminários, encontros com artistas e visitas mediadas. Temas ligados à luta feminista e LGBTQIA+ e às possibilidades e limitações de uma arte engajada ganharam destaque nas falas da pesquisadora e antropóloga Juliana Borges, da escritora e ativista Amara Moira e da curadora norte-americana Lucy R. Lippard. A geopolítica global, os avanços e dilemas do universo virtual e o uso do tempo na atualidade percorreram as falas do sociólogo Laymert Garcia dos Santos e do escritor e curador Guilherme Wisnik, enquanto práticas culturais e pedagogias contra-hegemônicas no mundo neoliberal perpassaram as falas da professora Marisa Flórido Cesar, do curador Pablo Lafuente, do cineasta Kamikia Kisêdjê e do crítico Mario A. Caro, que analisou ainda a inserção da arte indígena em instituições norte-americanas.
 
A não elaboração das violências do passado brasileiro – seja no período colonial ou da ditadura militar – foi tema da mesa com a artista Rosana Paulino e a psicanalista Maria Rita Kehl, enquanto a produção simbólica nos movimentos sociais foi debatida pela antropóloga Mariana Cavalcanti, a designer e cineasta Carla Caffé e a líder da Ocupação 9 de Julho Carmen Silva Ferreira. Participaram dos encontros, ainda, os filósofos Peter Pál Pelbart e Vladimir Safatle, as curadoras Lisete Lagnado e Clarissa Diniz e a psicanalista Suely Rolnik, entre outros. Resultou desta série de Programas Públicos, por fim, a terceira publicação da série “Leituras”, uma reunião das falas dos palestrantes organizada e editada por Luisa Duarte. 
 
A 21ª Bienal foi também a última com participação direta do sociólogo e filósofo Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc SP por cerca de 40 anos, que viria a falecer em 2023 ainda antes da realização da edição seguinte do evento. Suas palavras no texto de apresentação parecem condensar algumas das proposições lançadas na bienal: “A ideia de Estado-nação orienta o modo como um país é governado. Por meio dela, a população é levada a crer no pertencimento a uma comunidade coesa, que assim se reconhece por compartilhar a mesma língua, cultura e história – geralmente em detrimento das tradições minoritárias”. E ele seguia: “O campo da arte mostra-se favorável à imaginação de outras maneiras de constituir comunidades, baseadas em identificações e processos decididamente alternativos aos da pátria – tendo em conta as injustiças e dívidas que os Estados nacionais carregam consigo, sobretudo no que se refere aos ‘involuntários da pátria’, conforme expressão do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro. É dessa delicada conjuntura histórica que provém o recorte curatorial da 21ª Bienal”. 
 
Hoje, a posteriori, é notável pensar que as muitas visões apresentados pelas coletividades e comunidades ali presentes – como as indígenas, destacadamente – se mostraram ainda mais urgentes e necessárias em um mundo que, exatamente um mês após o encerramento da 21ª bienal, submergiu na catastrófica pandemia de Covid-19 fruto, ao menos em parte, dos modos de vida predatórios impostos pelo mundo capitalista e seus Estados nacionais. 

 

Por Marcos Grinspum Ferraz

*a nomenclatura utilizada para intitular a principal mostra organizada pelo Videobrasil, hoje chamada Bienal Sesc_Videobrasil, passou por adequações ao longo dos anos. As mudanças se deram a partir da percepção dos organizadores sobre as características de cada edição, especialmente no que se refere ao seu formato; duração; periodicidade; parcerias com outras empresas e instituições; e à expansão das linguagens artísticas apresentadas. Os principais reajustes no título das mostras foram: inserção do nome da empresa parceira Fotoptica entre a 2ª (1984) e a 8ª (1990) edições; a inclusão da palavra “internacional” entre a 8ª e a 17ª (2011) edições, a partir do momento em que o evento passa a receber de modo intensivo artistas e obras estrangeiros; o uso do termo “arte eletrônica” entre a 10ª (1994) e a 16ª (2007) edições, quando se percebe que a referência apenas ao vídeo não dava conta dos trabalhos apresentados; a inclusão do nome do Sesc, principal parceiro da mostra nas últimas três décadas, a partir da 16ª edição; e a substituição de “arte eletrônica” por “arte contemporânea” entre a 17ª edição e a 21ª (2019) edições, a partir do momento em que o foco se expande para as mais variadas linguagens artísticas. A mais recente mudança significativa se deu em 2019, na 21ª edição, quando o nome festival é substituído por bienal, termo mais adequado a um evento que já vinha sendo realizado bianualmente e com uma duração expositiva de meses, não mais semanas.

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Imagens: 
Everton Ballardin e Pedro N. Prata / Acervo Histórico Videobrasil 
Acervo Histórico Videobrasil 
 
1. Identidade visual do vigésimo primeiro Videobrasil, por Daniel Trench e Celso Longo

 

Galeria 1
1. Vista geral da exposição.

2. Artistas participantes da Bienal.

3. Luisa Duarte, Gabriel Bogossian, Solange Oliveira Farkas e Miguel A. López.

4. Vídeo na vitrine do Sesc 24 de Maio.

5. Performance “No le digas a mi mano derecha lo que hace la izquierda”, de Marton Robinson Palmer
.
6. A videoinstalação em três canais “About cameras, spirits and occupations: a montage-essay triptych”, do Alto Amazonas Audiovisual.

7. “Das avós”, de Rosana Paulino.

8. “Das avós”, de Rosana Paulino.
9. Vista geral da exposição.
10. Vista geral da exposição.



 

Galeria 2
1. "I went away and forgot you. A while ago I remembered. I remembered I’d forgotten you. I was dreaming.", de Dana Awartani.
2. "Schmitt, you and me", de Omar Mismar.
3. "E'ville (ElisabethVille)", de Nelson Makengo.
4. "Laboratorio de invención social o posibles formas de construcción colectiva", de Gabriela Golder.
5. "Nikki's Here", de Thanh Hoang.
6. "#Jábasta", de No Martins.
7. "Conte isso àqueles que dizem que fomos derrotados", de Movimento de luta nos bairros, vilas e favelas.
8. "GRIN", de Isael Maxakali e Roney Freitas.
9. "Off-White Tulips", de Aykan Safoğlu
.


Galeria 3

1. Artistas, curadores e júri na premiação da Bienal.

2. As integrantes do júri da Bienal.

3. Troféu original produzido por Alexandre da Cunha.

4. Coleção de joias africanas do MAE-USP.

5. Coleção de capas do jornal Snob.

6. “Binibining promised land”, de Köken Ergun.

7. “Tela bordada”, performance de Teresa Margolles.

8. Mobiliário da obra “Voçoroca”, do coletivo #VoteLGBT.
9. “Procurando Jesus”, de Jonathas de Andrade.

10. “Dando bandeira”, de Mônica Nador.