Um novo capítulo para a Videobrasil
Um novo capítulo para a Videobrasil
por Solange Farkas
Quero dividir com vocês um novo momento da Associação Cultural Videobrasil. A partir de 2026, daremos início a uma nova fase, com um programa contínuo de ações, que expandem nosso compromisso com a arte do Sul Global. Essa decisão se alinha a uma mudança importante em nossa trajetória comum: depois de mais de quatro décadas, a Bienal Videobrasil cumpriu seu ciclo e não será mais realizada como evento periódico.
Criei o Festival Videobrasil em 1983, nos últimos anos da ditadura civil-militar brasileira, como um evento voltado à então emergente produção em vídeo no país. Desde o início, havia o desejo de construir uma plataforma de difusão, fomento e reflexão crítica sobre a arte produzida nos territórios do Sul Global — um gesto que sigo cultivando há mais de quatro décadas.
Com o tempo, o evento se transformou em Bienal, ampliando seu escopo curatorial e abraçando múltiplas linguagens e suportes. A criação da Associação Cultural Videobrasil e a parceria com o Sesc SP, no início dos anos 1990, permitiram aprofundar esse trabalho e criar uma rede internacional de artistas, curadores e instituições com quem compartilho valores, práticas e compromissos. Ao longo dessa trajetória, a Bienal Videobrasil se consolidou como um dos mais importantes espaços de visibilidade e articulação para a produção artística contemporânea e como território de resistência, invenção e produção simbólica que dialoga com múltiplas geografias do Sul.
Um dos maiores diferenciais da Videobrasil sempre foi a relação de continuidade que estabelecemos com os artistas: para além da exibição das obras, promovemos residências, comissionamentos e ações que estimulam processos e trocas duradouras. Essa dimensão de fomento é parte essencial do projeto, assim como o desejo de ativar o acervo reunido ao longo dos anos como um campo vivo para novas ações.
Hoje, como já fiz em outras viradas de década, me coloco em processo de escuta e revisão. O cenário internacional das bienais se diversificou intensamente, e mesmo eventos historicamente marcados por uma perspectiva eurocentrada passaram a incorporar, nas últimas edições, pautas e artistas do Sul Global. Isso me leva a refletir sobre qual o papel específico que cabe à Videobrasil nesse contexto em transformação.
Compreendemos que nosso maior compromisso é criar estruturas permanentes de visibilidade, circulação e preservação, muito além do modelo de um evento periódico. Por isso, decidimos encerrar o ciclo da Bienal e concentrar nossa energia em potencializar e ampliar as atividades contínuas da Associação Cultural Videobrasil.
Não se trata de encerrar um ciclo — e sim de abrí-lo. Questionar os formatos não significa abrir mão de princípios: ao contrário, é justamente estratégia para preservar aquilo que nos move — o vínculo com os artistas, a escuta ativa, o pensamento em rede e a experimentação como prática.
Tivemos nosso novo projeto aprovado na Lei de Incentivo à Cultura, como um plano bianual (2026-2027). Traçaremos esses novos caminhos a partir de um programa permanente, com residências artísticas, exposições temporárias, publicações, atualização e ampliação das interfaces de consulta ao acervo e uma plataforma digital renovada. Tudo isso continuará a ter como eixo central a arte do Sul Global — nosso maior compromisso desde o início.
Estamos certos de que seguiremos juntos, reinventando formas de atuação e reafirmando a potência das artes do Sul Global. Fiquem atentos às novas programações!
Com carinho e admiração,
Solange Oliveira Farkas
Diretora artística