Depoimento 2019

Transcrição de depoimento para a 21ª Bienal

Tanto a biografia quanto a autobiografia são centrais na minha prática. Meu interesse é assumir a experiência de pessoas comuns como ponto de partida (e também a minha própria) para me relacionar e para refletir sobre conflitos políticos e sociais, históricos ou contemporâneos.

Meu trabalho La Vida en Rojo  surgiu da necessidade de entender meu próprio passado para construir minhas próprias ferramentas enquanto representante de uma geração para agir no presente. Revolução, utopia e militância foram universos fundamentais do meu ambiente desde criança. Lembro de saber a palavra revolução, sem entender completamente seu significado. Foi necessário para mim passar por diferentes geografias e conflitos políticos, centrais na história do socialismo e do comunismo – e também da minha história familiar – para desconstruir e repensar esses conceitos. A revolução pela qual meus avós lutaram tinha uma cor, um manifesto, um partido. Acredito que hoje em dia talvez não sejam mais apenas uma, mas diversas revoluções e utopias, multiplicando-se em diferentes formas, em vez de uma única, vertical, supostamente homogênea. Aparentemente, talvez não assumam a forma de uma rebelião em um único momento do tempo, mas, sim, cresçam silenciosamente com o tempo, criando novas alternativas ao sistema capitalista.

Como um de meus principais interesses, os arquivos compostos de documentos pessoais, anotações e fotografias têm potencial para abrir diferentes narrativas sobre a história recente, capazes de estender ou contradizer a narrativa histórica predominante. Ler memórias políticas recentes em uma carta, em um pequeno bilhete, em um livro com passagens sublinhadas nos leva à possibilidade de nos relacionarmos com nossos próprios atos e nosso contexto político para repensar o presente que estamos criando com nossas decisões e atitudes, que podem parecer pequenas ou insignificantes. Mas elas estão criando a história do nosso futuro, mesmo que não nos demos conta disso. A questão é: que futuro e que história do futuro queremos criar?

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